Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Três curiosidades sobre a reprodução de peixes na Amazônia

Hermafroditas, promíscuos, monogâmicos: conheça o comportamento sexual dos peixes nos rios e lagos da Amazônia


Acará-disco é uma das espécies de peixes ornamentais encontradas na Amazônia (Foto Jonas Oliveira) - Gente de Opinião
Acará-disco é uma das espécies de peixes ornamentais encontradas na Amazônia (Foto Jonas Oliveira)

O manejo do pirarucu (Arapaima gigas), realizado em diferentes partes da Amazônia, é símbolo de um modelo de conservação onde os recursos naturais podem ser utilizados de maneira sustentável. Hoje, é possível realizar o manejo em diversas regiões da Amazônia onde o peixe já chegou a ser escasso, sem que isso resulte em impactos significativos para a sua conservação.  


Esse patamar só foi alcançado porque pesquisas científicas conseguiram compreender como e quando a espécie se reproduz, o que permitiu que se determinasse um período de defeso, durante a época de reprodução, e um tamanho mínimo para a captura, com o qual a maioria dos pirarucus já reproduziu pelo menos uma vez.  


No caso do pirarucu, apenas indivíduos com mais de 1,5 metro podem ser manejados. O mesmo processo de pesquisa já foi realizado com outras espécies, como o acará disco (Symphysodon aequifasciatus), espécie ornamental já liberada para manejo, a partir dos estudos do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Biologia de Peixes (GP Peixes) do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). 


Os fatores que determinam as características reprodutivas de um peixe são diversos e se relacionam com as adaptações evolutivas ao meio ambiente pelas quais a espécie passou ao longo do tempo. 


Hermafroditismo  


O hermafroditismo é encontrado em diversas espécies na Amazônia. Os peixes hermafroditas podem ser divididos em duas categorias: os de hermafroditismo simultâneo e de hermafroditismo sequencial. 


No hermafroditismo simultâneo, até o momento observado apenas em espécies marinhas, o indivíduo apresenta nas gônadas porções masculinas e femininas. Durante o período reprodutivo, o peixe pode se comportar como fêmea ou macho, de acordo com a proporção entre os gêneros encontrada no ambiente, entre outros fatores sociais e comportamentais. 


Os peixes com sistema reprodutivo sequencial nascem com apenas um tipo de gônada. Esse sistema também é dividido em dois tipos: os peixes protândricos e protogínicos. 


As espécies protândricas, como o apapá (Pellona castelnaeana), produzem apenas peixes machos, que podem desenvolver gônadas femininas para que a reprodução ocorra, de acordo com fatores externos e comportamentais. O processo inverso acontece com os peixes protogínicos, que, em sua maioria, nascem fêmeas, mas podem desenvolver gônadas masculinas, como o surubim (Pseudoplatystoma punctifer). 


Promiscuidade, poligamia e monogamia 


Durante o período reprodutivo, os peixes podem utilizar diferentes sistemas de acasalamento. Uma das possibilidades é a promiscuidade, quando cada espécime procura acasalar com a maior quantidade de indivíduos do sexo oposto possível para garantir a continuidade da espécie. Esse tipo de reprodução ocorre, geralmente, em peixes migradores, como o Jaraqui (Semaprochilodus insignis). 


Há também os peixes poligâmicos, divididos entre poligínicos, quando um macho acasala com várias fêmeas durante a reprodução, e poliândricos, quando o processo inverso acontece e uma fêmea pode acasalar com diversos machos. 


No caso de espécies monogâmicas, o indivíduo escolhe um par que será seu parceiro até o final do período reprodutivo. Esse tipo de peixe apresenta cuidado parental bem desenvolvido, como o pirarucu, cujos machos tomam conta dos alevinos (filhotes de peixe) até que estejam fortes o suficiente para sobreviverem ao meio. 


Qualidade ou quantidade 


Para que a reprodução ocorra de forma bem-sucedida, gerando a maior quantidade de descendentes saudáveis possível, diferentes estratégias podem ser utilizadas pelos peixes. Essas estratégias podem ser divididas em três categorias: estratégias de equilíbrio, oportunistas e sazonais. 


As espécies que utilizam estratégias de equilíbrio prezam pela qualidade da ninhada, produzindo um número menor de descendentes, a partir de ovócitos maiores, que desenvolverão alevinos maiores e mais aptos para sobreviver ao ambiente externo.  


Os peixes oportunistas esperam que as condições do ambiente estejam favoráveis para desovar, geralmente durante épocas de chuva e maior quantidade de alimento na água. Essas espécies apresentam a maturidade sexual precoce, ovócitos pequenos e desovam em grande quantidade, não dependendo para isso do ciclo hidrológico local – as mudanças na dinâmica da água, como as temporadas anuais de cheia e seca. Um exemplo de peixe oportunista é a piaba (peixes da família Characidae). 


As espécies sazonais, como o tambaqui (Colossoma macropomum), possuem o período reprodutivo curto e sincronizado com a dinâmica dos rios. Os peixes que utilizam essa estratégia acumulam energia para desovar em grande quantidade e com ovócitos pequenos, no local e momento apropriados para o sucesso da ninhada. Os indivíduos de estratégia sazonal não apresentam cuidado parental.  


Ministrado pela pesquisadora Jomara de Oliveira, do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Biologia de Peixes do Instituto Mamirauá, durante o 16º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia, o minicurso “Biologia reprodutiva de peixes amazônicos” explicou esses e outros aspectos sobre a reprodução de peixes na Amazônia. O evento aconteceu no dia 2 de julho, na sede no Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em Tefé, no Amazonas.  

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)