Um entre tantos outros, igarapé da Leste espera salvação

MONTEZUMA CRUZ
Em Porto Velho

O esgoto que envergonha o bairro Tancredo Neves (zona leste) já foi um igarapé de águas límpidas. Hoje é depósito de fraldas, restos de sofá, armários, e até de geladeira. Jogam nele o que deveria ser encaminhado ao lixão da Vila Princesa.

Pra que isso? É pesquisa? – indaga dona Rita Pereira, sócia-proprietária de uma borracharia na barranca do pequeno vale por onde correm águas fétidas. Ela e o marido Luiz Gomes criam três filhos e vivem desse negócio há mais de 20 anos.

Ah! sim! – folga-se ao saber que o repórter quer conhecer o passado desse espaço entre as ruas Aruba e Teotônio Vilela. "Entra prefeito, sai prefeito, promessa de consertar é que não falta", comenta dona Rita

O tubo ármico faz correr todo tipo de imundície, mas a comerciante garante que não há maior perigo, mesmo com enchentes. "Duro é trabalhar nessa beirada, mas a água não sobe até aqui", ela diz.

A mata ciliar ainda é visível numa das laterais, especialmente próximo à "boca" do esgoto derramado no leito do ex-igarapé.

Se bem cuidado, ele voltaria a ser o que era. Pelo menos é o que deduz a estudante de ciências contábeis Tátila Laiane da Silva, 27 anos. Ela conta: "Eu era bem pequena e minha tia me trazia pro banho aqui".

Voltaria, sim, mesmo com a revelação dos mais recentes índices da precariedade de saneamento em estados amazônicos, onde é comum o esgoto a céu aberto ou despejado direto nos rios.

Segundo estudo recente do Instituto Trata Brasil, na região Norte, apenas 10% do esgoto é coletado. É o pior índice do País.

Em Rondônia, somente 4% da população tem acesso à coleta de esgoto. Depois (des) classificam-se o Amapá (5,8%), Amazonas (7,3%), Pará (9%), Acre (12,2%), Tocantins (21,7%) e Roraima (38,3%).

A precariedade nos serviços de coleta e tratamento de esgoto, também atinge o acesso à água potável, que só chega para 54% dos nortistas.