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Um templo, uma história


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COLETIVO PRESERVA, JI-PARANÁ

Aos moradores e moradoras de Ji-Paraná, de agora e de outros tempos. Aos amigos e amigas, de perto e de longe, que desde o primeiro momento nos apoiaram na luta pela preservação da Catedral São João Bosco e da Praça Central de Ji-Paraná;

A quem não acreditou ou sequer suspeitou que a “História” também é feita por gente como a gente, pelos homens e as mulheres que aqui estão e por aqueles que aqui já passaram:

  

Desde que foi anunciada a possível demolição da Catedral São João Bosco e da Praça Central, muitas pessoas compartilhavam, de maneira isolada, o sentimento de que esta seria uma grande perda para Ji-Paraná. Em 2013, diante da proximidade da data prevista para a última celebração na Igreja matriz, o Coletivo Preserva, Ji-Paraná encaminhou aos meios institucionais disponíveis uma representação solicitando providências para proteger aquilo que alegávamos ser um importante patrimônio cultural de Ji-Paraná. Desde então, algumas medidas foram tomadas, como a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) para a realização de um estudo sobre o eventual interesse histórico e cultural da Catedral.

Nesta Carta Aberta, compartilhamos com vocês a alegria de uma primeira e importante vitória alcançada. O parecer técnico [1] elaborado pelo arquiteto do MPF afirma que “a implantação do projeto arquitetônico para a nova Catedral de São João Bosco, no terreno da atual catedral, é temerária.” (p.13), tendo em vista que “o edifício da Catedral São Bosco é um importante marco na implantação e na definição do centro urbano de Ji-Paraná e, portanto, guarda referências históricas e culturais relevantes.” (p. 7), fazendo parte do patrimônio cultural da cidade. Antes de qualquer decisão a respeito das obras, é necessário avaliar as “repercussões que a eliminação da atual Catedral de São João Bosco, e consequente alteração da composição dos espaços, pode trazer para a memória e para a identidade da cidade.” (p. 8)

O documento alerta para os riscos que a demolição da Catedral e a construção da nova igreja naquele lugar podem trazer ao Museu das Comunicações, incluindo aí problemas derivados do uso de maquinário pesado nas obras: “O projeto arquitetônico da nova catedral apresenta dimensões desproporcionais em relação às edificações contiguas e, muito provavelmente, comprometerá a ambiência no entorno do edifício do Museu das Comunicações, tombado em nível nacional.” (p. 13)

Em sua análise, o arquiteto rebateu as afirmações de que a Catedral apresenta risco aos fiéis e concordou com laudo do Corpo de Bombeiros de Ji-Paraná, ao considerar que “aparentemente, a edificação está em boas condições de conservação e manutenção e não compromete a segurança das pessoas que a utilizam.” (p. 13), recomendando uma avaliação mais criteriosa por parte de um especialista credenciado junto ao CREA-RO. Como alternativa à sua demolição, o parecer sugere que seja feita uma boa reforma no prédio da Igreja:

Levando-se em conta que o atual prédio da catedral encontra-se em boas condições de conservação e manutenção, e considerando a existência de tecnologias construtivas que permitem intervenções em estruturas autoportantes, sugere-se que a Diocese de Ji-Paraná elabore um novo projeto de reforma da edificação, de modo a permitir o aumento da capacidade de acomodação dos fiéis, sem com isso, comprometer o tombamento do patrimônio cultural do país. (Parecer Técnico N. 183/2014, 2014, p. 14)

 Ou seja, o parecer do arquiteto do MPF é bastante favorável à proteção da Catedral São João Bosco e confirma nosso argumento de que a igreja matriz de Ji-Paraná é sim um patrimônio cultural de nossa cidade.

Como falamos antes, esta é apenas uma primeira vitória. Há muito trabalho pela frente. Uma perita do MPF em Ji-Paraná está conduzindo o estudo antropológico sobre a Catedral. Convidamos quem tiver interesse para que colabore com este estudo, apresentando informações, documentos, fotografias, recortes de jornais e também suas histórias e suas lembranças sobre a Igreja e a Praça. Assim, poderemos construir juntos esse belo capítulo de nossa história.

Por muito tempo, a alegação de “a Catedral não tem história” foi a resposta para esquivar-se do compromisso público com o debate sobre patrimônio cultural. O documento do MPF indica o contrário. Este é o momento para a Igreja, a Prefeitura, a Câmara de Vereadores, as empresas patrocinadoras da obra, os fiéis doadores e a sociedade ji-paranaense revejam sua posição e busquemos uma solução alternativa para o caso, sob o risco de serem protagonistas do esquecimento da história da nossa cidade.

Desde o princípio, o nosso coletivo tem pautado a necessidade de Ji-Paraná começar a discutir e elaborar políticas públicas voltadas ao patrimônio cultural, seja ele material ou imaterial. Chegou a hora!

A quem sempre nos apoiou, nosso sincero agradecimento! A luta prossegue.

A quem quiser somar nesta causa, as portas estão abertas!

(1) Parecer Técnico N. 183/2014 – 4 CCR, de autoria de Márcio Carvalho de Oliveira, analista do Ministério Público da União, de 21 de agosto de 2014. Disponível na Procuradoria da República em Ji-Paraná. 

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