Sexta-feira, 21 de janeiro de 2011 - 15h01
Cuiabá do início do século passado: aqui sempre se consumiu farinha do Mimoso /ARQUIVO DO ESTADO |
GABRIEL NOVIS NEVES
CUIABÁ, Mato Grosso – Cuiabá viveu durante séculos no mais completo isolamento. Ainda na metade do século vinte, os estudantes cuiabanos que conseguiam ir estudar no Rio de Janeiro, só recebiam notícias da terrinha, através das cartas familiares semanais.
Após a conclusão do curso, muitos voltavam para cá. Outros ficavam por lá – atraídos por um bom emprego. Os que por lá ficavam, vez por outra, fortuitamente, encontravam-se com velhos amigos da terrinha. Esses encontros geralmente aconteciam no centro do antigo Rio. Era uma explosão de alegria! E iam tomar um chopinho na Avenida Central.
No mundo ele é Rondon: em Cuiabá é Cândido Mariano /GENTE DA NOSSA TERRA |
Entre um chopinho e outro, colocavam as novidades em dia.
Certa ocasião, um filho da terra – que há anos morava no Rio –e que perdera o contato com a sua querida cidade, encontrou um amigo recém chegado à ex-capital maravilhosa do Brasil.
Após os abraços e palavras de praxe, foram tomar o tradicional chopinho.
Nem bem foi servido o primeiro chope, o cuiabano de lá, pediu ao amigo conterrâneo, certos esclarecimentos. Algumas informações que lhe tinham chegado não eram dignas de merecer confiança, tal o inusitado das novidades. Queria saber a verdade.
– Vamos lá então – falou o conterrâneo – pode perguntar o que quiser.
Como o amigo se mostrou bastante solícito, ele iniciou sua bateria de perguntas.
– É verdade que o único médico otorrino de Cuiabá é surdo?
– É.
–E que o dono do Cartório de Registro de Imóveis é cego?
– É.
– E que o Arcebispo da capital é agiota?
– É.
– E que o Presidente da Ação Católica é separado da sua esposa?
– É.
– E que o guaranazinho ralado, típico da cidade de Cuiabá, vem de Manaus?
– É.
– E que a verdura predileta dos cuiabanos é a farinha de mandioca do Mimoso?
Rubens de Mendonça: outra história da Guerra do Paraguai /ARQUIVO HISTÓRICO |
– É.
– E que “inauguraram uma placa numa casa do centro da cidade,” quando o presidente Dutra visitou Cuiabá, como sendo a casa onde ele nasceu?
– É.
– E que o mundialmente Rondon, é conhecido em Cuiabá como Cândido Mariano?
– É.
– E que o Rubens de Mendonça conhecia outra história da Guerra do Paraguai?
– É.
– E que os intelectuais da cidade realizavam as sessões da Academia de Letras, no Bar do Bugre?
– É.
Diante de tantas confirmações, o saudoso filho da terra desistiu de fazer outras perguntas, e disse:
– Estou satisfeito. Não vou perguntar mais nada. A amostragem foi muito convincente - e completou suspirando: gostaria que tudo isso fossem apenas “estórias.”
Lembrei-me dessa pequena história do passado porque há poucos dias sofri uma sabatina parecida.
Perguntaram-me se era verdade que o futuro chefe do Escritório de Cuiabá em Brasília sempre morou no interior de Mato Grosso, e se era verdade também que ele representa um governo que não votou na Presidente.
E se a função desse escritório era a de captar recursos com os seus adversários políticos.
O que responder diante dessas perguntas?
Resolvi ser bem objetivo. E respondi:
–É.
Cuiabá moderna: respostas às verdades, sempre um "é" /DIVULGAÇÃO |
■ O autor é colaborador de Amazônias e do Supersitegood. Foi o primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso.
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