Domingo, 30 de outubro de 2011 - 11h28
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Erika dos Anjos comenta n’O Globo que são prosas concisas e instigantes. E são mesmo: a enfermeira, jornalista e escritora niteroiense Belvedere Bruno transporta para o livro Vinho branco o melhor dos seus sentimentos e da maneira como vê a vida e as pessoas.
Leio a autora há alguns anos desde quando a conheci, pela internet. Desde então, vou à minha estante e dali retiro um pouco de mim mesmo, pois o cotidiano por ela retratado tem muito a ver com as situações que observo ao longo de 40 anos de repórter – com muitas andanças – completados neste 2011.
Nos contos e nas crônicas de Belvedere Bruno transitam realidades cruas e histórias surreais, comenta a escritora e poeta Dorcila Garcia. Já participei de algumas de suas alegrias.
“É uma festa o livro que a autora nos preparou”, diz Roberto S. Kahlmeyer-Mertens. “Nele há o espaço para o flerte sutil com a linguagem, e experiências estéticas que espocam de cada página como fogos de artifício em um parque!”.
“Influências?! Só de longe... em traços não muito nítidos: Artur da Távola ou seria Fernando Sabino? Dalton Trevisan?... Difícil precisar. Há ali um estilo próprio em formação que deverá se consolidar nas próximas obras que certamente virão.
– Belles Lettres, Belvedere! – No sorriso franco de seu livro, mais que um convite, uma promessa literária.”
O escritor
Havia um quê na história, que nunca consegui decifrar. Um tanto de lenda, um tanto de mito, aquela mania de misturar o real e o imaginário.
Diante de suas narrativas, sentia-me vazia de vida. Enriqueceria o seu dia a dia com a força da imaginação de escritor? Assim pensando, conseguia conformar-se com aquela eterna sensação de viver em câmera lenta. Como tudo podia ser tão efervescente na vida daquele homem?
Por vezes, os fatos soavam até inverossímeis, mas sentia que era vital aquela dose extra de adrenalina que o processo de criação lhe proporcionava. Narrando, ele acreditava, e aí estava a força da sua realidade.
Sentia que não havia mentira, ao menos da forma convencional. Criando, roteirizava a vida, o que o tornava um ser incomum. Fazia-me sentir novos sabores, ver matizes inimaginados, aspirar aromas inebriantes. Mas onde estaria a verdade naquele mundo que parecia delirante e, nem por isso, menos encantador?
Subitamente, me vi fora de prumo. Um emaranhado de idéias desconexas. Tateando, busquei bússolas...
O ponto final foi inserido no contexto por conta da minha total falta de habilidade em separar o mundo real daquele mundo colorido de faz-de-conta. Não tinha como o escritor, o dom de viver em universos paralelos. Disse-lhe adeus. Um adeus sem cores e fantasias.
Voltei, então, a viver em câmera lenta.
Sombras de natal
Tâmaras, damascos e passas sobre a mesa me trazem delicada imagem de papai...
Tonalidade, textura e o arranjo cuidadoso dão perfeição a um surpreendente quadro de saudade.
Sempre trazia à mesa coisas diferentes que muitos diziam não gostar. Admirava o empenho dele em fazer daquele dia uma data especial. No entanto, nunca falava em Papai Noel, dando ele mesmo os presentes aos filhos com a cara e a coragem de pai. Assim fomos criados. A alegria era genuína naqueles dias...
Quando partiu, o Natal se aproximava. Fiquei sem as minhas referências. Nada havia a ser comemorado. Onde estava aquela transparência, aquela doçura, aquele doar-se? Teria tudo se desvanecido durante sua partida?
Amorosamente, tentara preservar o espírito natalino na família, exemplificando-o em toda a sua trajetória. Hoje, observo que a realidade mostrou-se mais forte e dura do que o sonho daquele homem. Desde que ele se foi, nunca mais tive em casa enfeites natalinos... A cada ano, Papai Noel, triste figura, se torna presença mais indigesta.
Já faz algum tempo que o Natal virou sinônimo de comércio, bebida... e samba! Tudo foge sua simbologia. Não preciso ser cristã para chegar à conclusão de que toda a poesia que de fato existiu um dia deu lugar à falta de bom senso e respeito. Tão longe está aquele Natal de minha infância...
Que passe rápido, é o meu desejo, reconhecendo, no entanto, o esforço de alguns seres amorosos que tentam preservar a data, seja no sentido cultural ou religioso. Agora, apenas vislumbro sombras de Natal, já que seu verdadeiro sentido foi subtraído da forma mais perversa possível. E nas minhas mais remotas lembranças ouço vozes alegres e francas que me dizem: “Feliz Natal, Belzinha!”.
QUEM É
A premiada colunista do jornal Santa Rosa (Niterói) deve sua vida nas letras ao incentivo do pai, que sempre presenteou os filhos com livros. Antigamente, muitos pais eram assim. Atualmente Beldevere Bruno dedica-se às prosas, gênero onde mais se identifica. Tem várias antologias publicadas: diVersos - Scortecci, @teneu.poesi@ - Scortecci, Com licença da palavra - Scortecci, O Conto Brasileiro hoje - Volumes VIII, Volume X e Volume XII - RG Editores. Seus textos e livros são divulgados em mídias diversas. Vinho Branco (safra especial de contos e crônicas) foi lançado em 2010. Bel é Consulesa do Grupo Internacional Poetas Del Mundo, representando Niterói.
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