Opinião: Inveja

Estranho!

Estou em casa, meio de semana, em plena av. quinze de novembro.

Um silêncio incomum. É como se fosse um feriado qualquer, ou um de nossos terríveis e modorrentos domingos.

Morador da 15, há 40 anos, confesso que isto me incomoda! Afinal, hoje é 7 de setembro!

Que chatice! Pela primeira vez, em 40 anos, teria o direito de dormir até mais tarde, neste dia.

Contudo está muito estranho! Sabe... É como aquela coceirinha gostosa que você sente falta quando some!

Claro, eu sei que trocaram de lugar para o desfile. Que foi para melhorar. O que estou a dizer, é que também tenho meus direitos!

E, no silêncio irritante deste 7 de setembro, eu, tenho que confessar: Estou preocupado!

Afinal, por esta e por outras, é que estão descaracterizando minha cidade!

Também, é por esta e por outras, que o povo de outras cidades de Rondônia, não encontram mais razão de nos invejar!

Ah... E que inveja eles tinham!

Fomos diferentes deles, durante muito tempo. Em alguns pontos, bem melhores. Contudo, em tudo, éramos bem diferentes.

Tínhamos um povo e uma cultura, consolidados durante toda uma história. Uma bonita história!

Aí entram valores culturais, que só são capazes de se consolidar, com muita persistência, responsabilidade e fatores predisponentes.

E tínhamos o que eles não tiveram tempo de construir. Clubes de futebol e outros de cunho social de longa tradição! Clubes de Serviço, que caminharam junto com este povo. Um deles, berço do Leonismo brasileiro. Marcos que ressaltam e coloca muitos de nós como protagonistas. Exemplo maior foi a construção de uma ferrovia em plena Amazônia. Coisa do Diabo, afirmam!

A simples mudança de um local para outro na realização de um desfile cívico, diferenciado como o nosso, pela ampla participação de forças militares e para-militares, bem como de todos os diferentes setores da sociedade, tem uma relevância maior, se somarmos a este fato, outros que vêem se repetindo ao longo dos últimos anos.

Não temos mais o que tínhamos de sobra. Falta-nos vontade e determinação para começarmos tudo de novo!

Neste 7 de setembro, estou muito triste! O desfile passou a ser “mais improvisado” ainda.

Tenho a certeza de que, ao voltar à Porto Velho ou a outra das cidades do estado, dificilmente encontrarei alguém com inveja de mim por ser de Guajará.

E, certamente, aumentará o número daqueles que hão de perguntar, quando andarmos por aí: “O que vocês estão fazendo com Guajará!?”.

Eu, triste e um tanto sem esperança, pretendo responder: - Estou buscando fazer com que entendam melhor a diferença entre “RESGATE E DESCARTE”!

Para que eles, ainda que aos poucos, voltem a ter inveja da gente....

Fonte: Dúlcio Mendes
Odontólogo e membro da Academia Guajaramirense de Letras
Residente em Guajará-Mirim há muitos anos