Sábado, 27 de agosto de 2011 - 09h30
OS ECOS REVERBERAM NO CEMITÉRIO DA CANDELÁRIA.
REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO PÚBLICO EM RONDÔNIA.
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Sei que os leitores dedicados aos assuntos referentes à cultura, arte, patrimônio público, que são minoria no grande universo de pessoas que acessam os jornais eletrônicos. Ficam entediados quando a carruagem não anda. Assuntos repetitivos causam esse sentimento tedioso e muitas vezes chato.
O fato, amigo leitor, preocupado com a produção artística e cultural dessas bandas, é que, nossa militância não pode afrouxar, não podemos permitir que as questões desabem no abismo profundo do esquecimento.
Aliás, as “autoridades”, responsáveis por viabilizar os poucos processos que alimentam os movimentos culturais e que mantém os patrimônios públicos. Assim como, as demais “autoridades”, que historicamente ocupam o poder e em conjunto com os ordenadores de despesas, que muitas vezes são as mesmas pessoas. Valem-se desse aspecto da nossa cultura, “o esquecimento”, para repetirem os erros históricos cometidos contra elementos frágeis de nossa existência como a cultura e a arte.
Em função da memória curta das pessoas, repetem a prática de discriminação ao não investirem nas poucas ações culturais existentes.
Vejam a profunda vulgarização e banalização da cultura e arte em nossa sociedade.
O leitor deve se lembrar do artigo intitulado: “Cemitério da Candelária a Triste Imagem da História de Rondônia”. Quem não leu, pode ler, ativando o processo de buscas em vários sites existentes em nosso Estado.
O fato é que não aconteceu absolutamente nada de novo. O abandono, o prejuízo financeiro, o profundo desrespeito a nossa pobre história, desrespeito a memória dos antepassados que se aventuraram por tão inóspitas terras não possui o menor valor.
É estarrecedor saber que o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural, órgão que tem como motivo de existência a defesa, proteção, valorização, fiscalização dos patrimônios públicos. Órgão que inclusive, deveria denunciar os maus tratos ao patrimônio público, seja o responsável pela atual situação desse cemitério histórico.
O Cemitério da Candelária é uma espécie de “Panteão dos Heróis do Extremo Oeste Brasileiro”, simboliza mais do que qualquer outro lugar, a luta, o trabalho, o pão.
Neste cemitério, em especial, a vida se agarra violentamente ao ser. A existência foi arrancada das pessoas em uma localidade onde elas não deviam estar. Elas nunca foram preparadas, treinadas para tão absurdo enfrentamento. A medonha, profunda e escura floresta amazônica.
É por maestria um espaço de celebração aos atos vívidos como, o simples fato de se respirar, o exercício do paladar, a possibilidade do tato, a experiência do ato de escutar, o encontro através do olhar e os infinitos sentimentos existentes no humano.
Como afirmou o teólogo Leonardo Boff: Os mortos são apenas invisíveis, mas não ausentes.
As lições dos que foram ecoam e muitos se fazem de mocos não atentam para os ecos do ontem. Os atos que aviltam a memória de uma terra ferem profundamente mesmo aos que não a sabem.
Ninguém é insubstituível. O Cemitério da Candelária em particular guarda milhares de insubstituíveis.
Tenho me manifestado de forma insistente em relação ao descaso em que vive esse local tão especial. Tenho sido chato, repetitivo e talvez até mesmo inconveniente. Sei que muitos não entendem essa insistência, militância, atuação em prol de nosso patrimônio e em especial desse cemitério.
Muitas vezes somos levados pelos sentimentos, ficamos passados, atuamos sem a devida preocupação com a ordem, estética, gramática e forma. Nesta oportunidade, desculpem-me, sou sentimento de indignação.
Quero chamar a atenção de alguns amigos e parceiros da causa, que entendamos: o silêncio presente em nosso pequeno e significante patrimônio, Cemitério da Candelária, não incomoda, não chega aos mocos, insensíveis e pobres de espíritos.
O incômodo causado a quem verdadeiramente atua na causa da cultura rondoniense e rondoniana, precisa avançar. Que esse mal estar se transforme em semente, que seja semeada em terra fértil, que seja ternamente regada, cuidadosamente acompanhada e por fim, produza generosos frutos. Alimentando assim nossos sonhos, desejos e ações, fortificados pelo alimento do amor e ternura.
Aos que perderam junto com a vergonha, a ética, o pudor e moralidade. Saibam que existe sempre um lugar na história os aguardando. Existe uma lei a qual todos somos submetidos o tempo todo. Não tem como escapar, fugir ou esconder-se. É a lei do retorno, também conhecida como “resultado do que se plantou em vida”. Normalmente, essa lei é acionada com belas, fantásticas, sempre infalíveis peças jurídicas, que são redigidas de forma magistral por nossa própria consciência. O resultado é a condenação ao mais profundo tormento, degredo e pavor.
Não queiram saber como são as noites de sono, a interioridade e intimidade desses que afrontam e tripudiam sobre os valores éticos, morais, geradoras de tantos sofrimentos e injustiças.
Os olhos de Deus, presentes no olhar dos seus filhos, são como parte da sentença, fisgam, atormentam e incomodam o praticante do sinistro e da vileza.
Triste quadro da ferrovia que nos presenteou a cidade, o trabalho o pão, o hoje. Pobre cemitério que representa o sucesso do menino homem sobre a natureza que engoliu seus antecessores.
Governante pequeno. Gastou milhões na pobre restauração na Praça Madeira Mamoré. Não foi sábio, nem competente, para instalar ali um posto da polícia militar que pudesse repreender aos que não aprenderam a contemplar a grandiosidade, épica, mítica ação do pobre menino homem, operário, seringueiro, castanheiro, canoeiro das barrancas desse rio que desde sempre nos lambeu.
Através desse singelo e despretensioso texto, humildemente, busco homenagear os heróis que foram entregues ao infinito sonho no Cemitério da Candelária nas barrancas do Madeira.
Eles, agora, não podem reivindicar nada, não podem se manifestar, não podem gritar. A floresta, e sua desconhecida natureza, silenciou a todos por todo o sempre.
Cabe ao hoje, reivindicar, manifestar, gritar. Por eles que não podem mais, por você, por mim, por todos os nós.
Fonte: Emmanoel Gomes da Silva, membro da Academia Vilhenense de Letras
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