Terça-feira, 20 de novembro de 2012 - 15h12
A TUCANDEIRA¹
Maria Alice da Paz era uma bela negra carioca, com quase dois metros de altura e um corpo escultural. Capoeirista, freqüentadora dos bares e cabarés da Lapa, nos quais era conhecida e respeitada.
Uma noite, foi surpreendida por uma batida da polícia conduzindo todos sob ordem de prisão, recolhendo-os ás cadeias públicas. Não se preocupou, visto já várias vezes ter ocorrido tal episódio, e no Máximo em dois dias serem postos em liberdade. Porém, agora já estavam presos a quase uma semana. Interrogou a um dos agentes penitenciários quando seriam liberados, este informou que não haviam previsão, dependiam da deliberação do presidente Marechal Hermes, por ordem de quem foram presos na condição de vadios e desordeiros, juntando-se aos delinqüentes da revolta da armada, apelidada da chibata.
Com a palavra a Maria, nos retiraram das celas conduzindo-nos para a porta de saída nos entregando a soldados do exército e marinheiros da armada os quais nos levaram em caminhões para o cais do porto, onde nos embarcaram no navio Satélite, alojando-nos em seu porão escuro e infecto, sem ventilação e calor insuportável. Começava o nosso dramático sofrimento. Não sabíamos para onde estávamos sendo desterrados, condenados sem julgamento. Diariamente, nos reuníamos no convés e assistíamos o fuzilamento de um dos revoltosos, e seu cadáver lançado no mar. Soube em sigilo, por um marinheiro, que nosso destino eram os seringais do Acre. Porém, em uma tarde, o navio fantasma com sua macabra carga humana esquelética, com as roupas em farrapos, ancorou em Santo Antônio do Alto Madeira, após de ter sido impedido de fazê-lo em Porto Velho. Um tenente do exército, membro da Comissão Rondon², nos recebeu, distribuindo os homens aos donos dos seringais interessados, os restantes e nós mulheres, nos conduziu para a sede da Seção Norte da Linha Telegráfica Estratégica Mato Grosso/Amazonas, fora da vila, distante uns três quilômetros. Ao chegarmos, nos foi distribuído roupa, calçado e sabão e nos mandado tomar banho num curso d’aguá, chamado Igarapé Grande, de águas cristalinas, fria, correndo sobre lajedo de pedras escuras, uma verdadeira dádiva divina. Depois do asseio corporal, coisa que a muito tempo não fazíamos, jantamos e fomos dormir. Ás cinco horas da manhã fomos acordados pelo toque de alvorada. Fizemos a primeira refeição com os soldados e demais trabalhadores, o tenente nos reuniu em forma, nos comunicou que os homens revoltosos, seriam integrados á Comissão e as mulheres estavam livres devendo regressar para Santo Antônio e de forma alguma retornar ao acampamento. Eu fiquei perplexa pelo fato de ter sido presa por ordem do Presidente da República, e ser posta em liberdade por um simples tenente. Rumamos para a vila, chegando a essa ás doze horas de um sábado, essa estava agitada, os bares lotados de estrangeiros de todas as nacionalidades, construtores da ferrovia Madeira-Mamoré. Ao nos verem, tantas mulheres, ficaram abismados, sem ação, somente após o susto inicial, foi que nos convidaram para beber e comer, a farra se prolongou até domingo a noite. Em Santo Antônio não me faltava dinheiro, libra esterlinas com quais os gringos me pagam as noites de amor.
Passado algum tempo me mudei para o povoado Porto Velho dos brasileiros, no norte-americano sede a ferrovia não era permitido o acesso de quem não fosse contratado da empresa, em especial mulheres sem donos.
Localizei minha morada no Mocambo, reduto da boemia. Um dos meus parceiros me disse você é uma tucandeira, eu perguntei o que era tucandeira, ele me explicou, é uma grande formiga preta, de cintura fina, de bunda avantajada, valente como você. Ele se encarregou de divulgar o apelido, passei a ser conhecida na boemia, no terreiro de candomblé da mãe-de-santo Rita Esperança e na comunidade em geral, como Maria Tucandeira, até pelas crianças da cidade que assistir nascer e se desenvolver, e sei que ainda há antigos saudosista que recordam de mim, que nasci Maria Alice da Paz e morri Maria Tucandeira, um dos mitos de Porto Velho.
1 – Tucandeira, nome dado na linguagem popular amazônica, a formiga Tocandira, inseto himenóptero formicídeo (paronera clavata), utilizada pelos índios em cerimônia de emancipação dos adolescentes masculinos.
2 – Tenente Libano Augusto da Cunha Matos
Abnael Machado de Lima
Membro do Instituto Histórico e Geográfico/RO
Membro da Academia de Letras de Rondônia
A PRAÇA DAS TRÊS CAIXAS DÁGUAS - Por Abnael Machado
No projeto urbanístico da cidade de Porto Velho, planejado pelo prefeito FRANCISCO LOPES PAIVA, gestor no período de 1979/1980, nomeado pelo Governa
YARAS DO RIO MADEIRA - Por Abnael Machado
A Yara e a Sereia possuidoras de idênticas magias, encantos, poderes e seduções, fisicamente são totalmente diferentes. A sereia é mulher da cintura
EXCURSÃO NO RIO CANDEÍAS - Por Abnael Machado
Eu e meus companheiros docentes do Colégio Mal. Castelo Branco, projetamos realizamos uma excursão no Rio Candeias, no trecho compreendido entre a BR
INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO CARMELA DUTRA - Por Abnael Machado
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Em sessão solene realizada no dia 14 de dezembro, do corrente ano em curso, seus gestores Vera Lú