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Abnael Machado

ACADEMIA DE LETRAS DE RONDONIA


 

ACADEMIA DE LETRAS DE RONDONIA

SESSÃO MAGNA

28 DE FEVEREIRO DE 2011

 

Sinto-me honrado em ter sido alvo da deferência do Presidente desta Academia, com a aprovação dos seus membros, ser designado para representá-lo como intérprete do sentimento dos acadêmicos, ao realizarem esta Sessão Magna, em justa e merecida homenagem póstuma, ao advogado, professor e acima de tudo poeta Menestrel de Rondônia, Bolívar Marcelino, Membro fundador deste silogeu, ocupante da cadeira n° 5, que emigrou deste mundo físico, para o grande Oriente eterno.

Para mim esta incumbência tem especial e relevante significado emocional, visto que, o homenageado e eu, fomos amigos desde criança, quando no inicio da década de 1940, estudávamos os primeiros saberes, na escola da belíssima e dedicada professora Leonice Mota de Carvalho, nossa Mestra. Também, juntos com os outros moleques, vagávamos pelas poucas ruas da bucólica. Porto Velho, nadávamos nos seus muitos igarapés, empinávamos papagaios, jogávamos bola e pedra nas mangueiras e nos passarinhos, realizarmos temerárias excursões atravessando o Mocambo e a floresta para colher tucumã nos campos do Mário Monteiro, atuais bairro do Areal e quartel do 5° BEC, respectivamente, não faltando os desentendimentos e heróicas pugnas corporais.

O Bolívar já demonstrava sua privilegiada capacidade criativo narrando casos por ele imaginados, sobre cangaceiros, mulas sem

cabeça transformadas de mulheres namoradas de padre, jangadeiros, mar de ondas gigantes destruidoras e outros, todos lá do Rio Grande do Norte, sua terra, onde nasceu no dia 28 de agosto de 1932. Nós não duvidávamos, creditávamos como sendo verdadeiras. São lembranças indeléveis arraigadas em minha memória, tendo em relevo sua imagem. Éramos felizes, como em seus versos afirma o poeta Bolívar.

 

"Eu já fui feliz em minha vida;
Quando eu jogava pelada
Tomava banho de chuva na biqueira da casa
E tinha uma gatinha chamada "cotó"
"A vida era uma festa!
Hoje, debruço-me no meu passado
E vejo quão feliz eu era!

 

Tinha a máxima dedicação pelo saber, o gosto pela leitura e pela pesquisa, que o fazia, manter-se sempre estudando. Concluiu o curso primário e o ginasial, ingressou no ensino médio, no curso de técnico de contabilidade e no ensino superior nas graduações de Estudos Sociais, Letras e Direito. E nas pós-graduações de História, Geografia e de Metodologia do Ensino Superior.

Exerceu o magistério nas escolas públicas e particulares de grau médio e na Universidade Federal de Rondônia. E a advocacia na função de defensor público do Estado de Rondônia.

Ainda, estudante do ensino médio, iniciou a compor e publicar suas poesias nos jornais O Estudante, O Guaporé, Alto Madeira e Estadão do Norte. Despontava no horizonte literário, O astro luminoso, que viria a ser o grande poeta sonetista, compositor de tão inspirados versos de rimas perfeitas de nível culto, tendo por temas a sua vivência, seus sentimentos de paixão e angustias, seu sofrimento, seu inconformismo com a estratificação social e a destruição da natureza sua predileta amante, elaborados primorosamente, em lírica e rica linguagem de predominante simbolismo.

No jornal ‘O Estudante, do qual eu era um dos seus diretores, condicionava a publicação de suas poesias de forma incógnita, receioso da reprovação de seus professores padres salesianos. Ao falecer uma de suas namoradas, cometendo o suicídio, pesaroso, compôs, à ela dedicado, este primoroso soneto.

 

REQUIESCAT IN PACE

Foi muito cedo, na manhã da vida
Na flor da juventude tão querida
Que vim te conhecer;

E daí por diante, aqui e ali,
Junto estavas de mim, e eu junto a ti
Castelos a fazer

Sonhando de rapazes lindos sonhos,
Com dias mais felizes, mais risonhos,
Com um próspero porvir.
Vivíamos e sempre me dizias
Que para outro lugar desejarias
No futuro partir

Próximo estava o dia da partida,
Mas não pensei naquela despedida
Ser teu último adeus.

Partiste, nunca mais regressarás,
Um dia ver-nos-emos onde estás
Descansa lá nos céus!

Repousa em paz no eterno abrigo
Descansa no Senhor, meu grande amigo
Findou-se teu labor;
Lá nunca mais a dor te afetará
Deus tuas lágrimas a limpará
Repousa no Senhor!



Em 1982, publicou o seu primeiro livro de poesias intitulado "Tarde de Verão", seguindo-se outras publicações: Folhas de Outono; Chuvas de Inverno; Rosas da primavera e Orvalho da Manhã, abrangendo temas diversificados tais como: Luta Social; O Nordestino Escravizado; O Seringueiro Abandonado; O Menino de Rua; As Prostitutas; A Mulher; As Lendas e os Mitos; A Natureza; O Amor; A Saudade; A Paixão e a Família.

Ele exigia que eu lesse antecipadamente, suas obras e emitisse criticas e opinasse sobre seus valores literários, se deviam ou não serem publicados. Mesmo argumentando ser ele o Consagrado poeta, portanto, dispensando a análise e o parecer de um leigo, não aceitava o argumento. Insistia em fazer questão de ter minha opinião, sobre suas produções.

Em homenagem e conhecimento dos seus familiares aqui presentes, passo a fazer a leitura de uma das missivas lhe enviadas externando minha opinião sobre uma de suas obras, conforme
exigia.


 

Homenagem ao amigo Bolivar Marcelino

Estimado amigo Bolívar,

Sensibilizado pela sua deferência, distinguindo-me com a oferta de sua primorosa criação litero-poética "Orvalho da Manhã", privilegiando-me a ler ainda inédita. São magníficos poemas uns místicos, uns nostálgicos, outros ardentes de arrebatadores amores vividos e perdidos nas brumas do tempo, restando saudosas recordações ainda ferindo o coração do Vate, que exausto e desiludido da vida sofrida, com alivio sente-se sem temor face á face com a inexorável parca. Porém de inabalável fé crê em Deus feito homem, exalta-o, crê no homem feito irmão, tece loas as suas virtudes.

No tanger de sua lira, ora é cavaleiro andante defensor dos injustiçados, angustiado pela ardente paixão à uma inatingível dama, porém com uma extrema diferença, suas musas foram atingível, as tivestes enlaçadas em teus braços sorvendo a delícia de seus beijos e o deleite das carícias de seus calorosos amplexos, o revelar de suas formas e recônditos segredos porém por efêmeros átimos de tempo, elas se foram viver outros amores, te desprezando, restando-te a dolorosa e perene saudade. Ora é o poeta sofrido do século XIX, que conceituava, para versejar e ser poeta, era preciso sofrer.

Tu meu caro amigo Bolívar és a soma e síntese de todos os estros, és o maior, és o magnífico cancioneiro de Rondônia, teus poemas em perfeita rima exaltam Deus, a majestosa natureza, a beleza, a meiguice e os segredos das mulheres, e dos homens as virtudes e a retidão no proceder.

Muito me honra sermos amigos desde os tempos de criança.
Obrigado pela distinção, continue a sua produção poética nos proporcionando deleite e emoções.


O acadêmico Bolívar foi um baluarte desta Academia, freqüentando-a assiduamente, até quando seu estado de saúde lhe permitiu. A simplicidade despojada de quaisquer resquícios de vaidade, veleidade e de fútil orgulho, era a característica marcante de sua personalidade, por que era um sábio. Contribuiu para ampliar o acervo literário de Rondônia e enriquecer a sua cultura.

Homenageamos este valoroso Acadêmico, hoje e sempre, o tendo presente em todas as realizações desta Academia, vivo em nossas mentes. Tendo a certeza que onde estiver continua com sua sensibilidade a espargir o bálsamo dos seus inspirados versos lenitivo dos desiludidos, angustiados e sofredores, renascendo-lhes o conforto, a esperança e a fé de superarem suas fraquezas e misérias.

O Bolívar teve uma vida profícua, dedicada à valorização intelectual e cultural da comunidade Rondoniense, por suas obras tornou-se imortal.

Digno de reverência dos seus concidadãos.

ABNAEL MACHADO DE LIMA
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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