Domingo, 4 de novembro de 2007 - 19h16
No dia 19 de outubro de 1899, o engenheiro Gentil Noberto encontrava-se no Seringal Bagaço com um pequeno grupo de revolucionários, sendo informado que Dom Perez Velasco e o Dr. Ismael Monte, respectivamente Vice-Presidente e Ministro de Guerra da Bolívia haviam saído do seringal Volta da Empresa com destino a Puerto Alonso sem guarnição militar, resolveu prender essas autoridades, o que fez com seus liderados, abordando de surpresa as duas lanchas que as conduziam, aprisionando todos seus passageiros e tripulantes. Posteriormente ponderando seu ato impensado, pois não dispunham de forças armadas organizadas, libertou os capturados, os quais em suas lanchas seguiram rio abaixo para Puerto Alonso. Os bolivianos por medida acauteladora prenderam o engenheiro Gentil que estava no seringal Bagaço e o coronel Pedro Braga em Riozinho levando-os para Puerto Alonso. O cônsul brasileiro Joaquim Domingos Carneiro aconselhou a Dom Munhoz libertar os dois prisioneiros, visto que o coronel Souza Braga vinha com força armada para fazê-lo, sendo, portanto, prudente o Delegado se antecipar evitando em confronto, este o atendeu. O engenheiro Gentil apesar de haver firmado por escrito, ter renunciado a causa da revolução, posto em liberdade retornou aos atos sediciosos de guerrilha tocaiando os bolivianos no rio e nos varadouros.
Em 12 de dezembro de 1900, às 6 horas da manhã as tropas revolucionárias comandadas por Hipólito Moreira, Edmundo Bastos, Alexandrino José da Silva e Leôncio Moreira atacaram as tropas bolivianas em Riozinho, comandadas pelo coronel Ismael Monte, o combate durou duas horas com muitas baixas entre os acreanos os quais se retiraram. O coronel Monte resolveu atacar Volta da Empresa base de operação dos acreanos. Ao amanhecer do dia 24 de dezembro iniciou marcha por densa floresta, no seringal Amapá a tropa trocou tiros com os acreanos escondidos na mata. Ao entardecer ao se aproximarem do seringal Bagé os bolivianos sustentaram um combate que durou uma hora com os acreanos, entrincheirados protegidos por pelas de borracha. O coronel Monte ante a impossibilidade de prosseguir marcha para Empresa, ordenou a retirada retornando a Riozinho aonde chegaram à meia-noite, após 52 horas de jornada.
Expedição dos poetas
Após a saída de Galvez do Acre restabelecendo-se o domínio da Bolívia ao sul da linha Cunha Gomes limite com o Brasil, os impostos de importação de borracha produzida nos seringais de proprietários brasileiros, situados em territórios bolivianos passaram a ser recolhidos pela alfândega boliviana, não mais pelo estado do Amazonas implicando numa redução de uns três mil contos de reis em sua composição orçamentária, bem como em prejuízos financeiros as casas aviadoras e ao comércio em geral. Em Manaus iniciou-se um movimento de protestos contra a ocupação do espaço do ex-Estado Independente do Acre pela Bolívia, organizado pela nata intelectual do estado, estudantes e políticos apoiados pelo povo e pelo governador Silvério José Néri, recém eleito. As manifestações públicas eram realizadas por intermédio de passeatas, comícios e artigos nos jornais. Foi fundado o Comitê Acreano para defender os direitos dos brasileiros que conquistaram, desbravaram o Acre, nele habitando transformando em um espaço gerador de riquezas para o país. Os paraenses aderiram ao movimento dispondo-se a cooperar com o Comitê. Este nos comícios de rua e pela imprensa concitava o povo a apoiar a rebelião e aos empresários o apoio financeiro a organização de uma expedição armada ao Acre. Em Belém-PA, o coronel Rodrigo de Carvalho representante do comitê se empenhava em conseguir a adesão dos empresários e da imprensa ao movimento revolucionário. Realizou um encontro presidido pelo coronel Souza Braga com a presença do presidente da Associação Comercial do Pará, José Marques Braga, jornalista paraense atuante na imprensa do Rio de Janeiro, sendo redigida uma moção em nome do povo paraense manifestando solidariedade aos patriotas que no Acre sustentavam a honra e os brios brasileiros. E ao governo da União declarando confiar patrioticamente, na sua enérgica interferência na pendência acreana para garantir os direitos que assistem aos 18.000 cidadãos brasileiros que povoaram o Acre transformando-o em um pólo produtivo gerador de rendas econômicas para o Brasil, os quais reivindicam e lutam pela manutenção da integridade do território nacional.
O CORONEL Rodrigo de Carvalho conseguiu reunir víveres e medicamentos embarcando-os no vapor Macuripe. Viajou à Manaus atendendo ao chamado dos chefes da Expedição Floriano Peixoto (Expedição dos poetas) chegando em 10 de novembro de 1900, seus companheiros do comitê haviam fretado por onze contos de reis o vapor Solimões, neste embarcando um pequeno canhão, metralhadores, rifles, munições doados pelo governador, víveres e pequeno destacamento militar que Silvério Néri achou de bom alvitre juntar aos expedicionários. Dia 15 de novembro os expedicionários durante a madrugada se apossaram de uma lancha boliviana a Alonso, carregada de material bélico prestes a seguir para o Acre. Mudaram seu nome para Rui Barbosa e despacharam para um lugar seguro longe de Manaus para aguardar o navio Solimões. Essa movimentação revolucionaria era também contra um Protocolo assinado em 30 de outubro de 1899 pelos ministros Olinto de Magalhães do Brasil e Salinas Vega da Bolívia relativo a verificação da exata posição das nascentes do rio Javari e a demarcação da fronteira pela linha geodésica BeniJavari, a priori sendo sabido ser favorável a Bolívia, em detrimentos as posses de bens que os acreanos julgavam serem de seus legítimos direitos. Liderava o comitê o jornalista Orlando Correia Lopes ao lado de João Barreto Menezes, Efigênio Sales, Epaminondas Jacomo. Arnaldo Machado Vieira, Trajano Chacon, Vitor Francisco Gonçalves, Jose Maria dos Santos e outros intelectuais, tribunos e poetas tendo por conselheiros o coronel Rodrigo de Carvalho.
Dia 16 de novembro de 1900 a expedição cautelosamente saiu de Manaus. Os expedicionários chegaram dia 02 de dezembro a progressista cidade de Lábrea no rio Purus sendo entusiasticamente recebidos. A noite promoveram uma reunião no auditório da intendência municipal com a participação das autoridades civis, militares e eclesiásticas, empresários, comerciantes e personalidades de destaque social, sendo-lhes exposto as finalidades da expedição e lhes pedido apoio. Foi aclamado presidente do Estado Independente do Acre o coronel Rodrigo de Carvalho, aceita a aclamação foi lavrado a ata do ocorrido, sendo assinada por todos os presentes. a expedição saiu de Lábrea no dia seguinte, a bordo do Solimões rebocando a lancha Rui Barbosa, agora tornada aviso-de-guerra, subindo o rio Purus, ao chegarem a foz do rio Acre foram informados que os revolucionários concentraram em três locais: O batalhão coronel Rodrigo comandado por J. Xavier, no seringal Bagaço, o batalhão Luiz Galvez comandado Por Alexandre José da silva, no seringal Volta da Empresa e no seringal Bom Destino o batalhão comandado por Luiz Caldas. E que o engenheiro Gentil Noberto arregimentava voluntários para atacar Puerto Alonso. Rodrigo de Carvalho achou a situação confusa por falta de um comando geral, determinou a Orlando Lopes que auto se intitulou comandante-chefe, seguir no aviso-de-guerra Rui Barbosa com a missão de encontrar o engenheiro Gentil Noberto e lhe oferecer o governo ditatorial, comandante supremo das forças revolucionárias. Orlando partiu de imediato, porém por conta própria deteve-se na cidade de Floriano Peixoto mobilizando as autoridades a fim de obrigarem um comerciante a lhe entregar todos os rifles e munições existentes em sua loja. Nessa pendenga o encontrou Rodrigo de Carvalho, dirimindo a contenda e lhe ordenando a cumprir a missão junto ao engenheiro Gentil, bem como se entender com o coronel Carneiro e dele saber com quantos homens dos seringais Bom Destino Caquetá, eles poderiam contar. Orlando prosseguiu a viagem. Às 9 horas da noite do mesmo dia em que havia saído de Floriano Peixoto, a lancha Rui Barbosa retornou trazendo correspondência de Orlando solicitando o envio do canhão e sua guarnição, ambulância e enfermeiros. Rodrigo de Carvalho decidiu não atender e colocar a lancha a reboque do Solimões. No dia 20 de dezembro às 10 horas da noite o Solimões atracou no seringal Esperança, Orlando veio ao navio e comunicou ao presidente que tudo estava combinado com o engenheiro Gentil. No dia seguinte chegou o vapor Labrea carregado de mercadorias para os bolivianos de Puerto Alonso sendo preso por ordem do presidente Rodrigo, ato do qual discordou Orlando por achar ser de sua atribuição, na condição de comandante-chefe. No dia 22 reuniu-se no Solimões o conselho de guerra com a presença do engenheiro Gentil, em clima de desacordos e acusações mutuas sem planos e nem coordenação militares. Cada um tinha seu plano julgando-o perfeito. Ante a falta e consenso, Rodrigo renunciou o cargo de presidente, propondo a constituição de uma junta governativa formada por gentil Noberto, Joaquim Vitor, e mais um membro indicado pelos acreanos. A renúncia não foi aceita. No dia 23 a noite Orlando foi ao camarote de Rodrigo que estava febril, para lhe comunicar que o ataque a Puerto Alonso seria no dia seguinte (24). O presidente ponderou ser prudente aguardar 48 horas pelas tropas de Manoel Felício Maciel e Luiz Caldas totalizando 250 soldados. O comandante-chefe não aceitou a sugestão e afoitamente junto com Gentil comandando 132 homens, na tarde do dia 24 de dezembro atacaram Puerto Alonso defendido com disposição por denodados soldados orientados por competentes oficiais, impuseram uma desastrosa derrota aos poetas expedicionários, além dos mortos e dos feridos, presentearam os bolivianos com o canhão e metralhadoras abandonadas na precipitada retirada. Os derrotados recolheram-se em Caquetá culpando-se mutuamente, todos incriminando o comandante-chefe Orlando, imperando a desordem anárquica. Na realidade todos queriam debandar rumo a Manaus. Enquanto isso em Puerto Alonso, Dom André Muñoz, o tenente-coronel Pastor Baldivieso e vice-presidente Dom Peres Velezco, diante da situação de penúria com grande numero de doentes com febre palustre e a falta de víveres alimentícios, todos passando fome e mais o assedio dos acreanos, decidiram evacuar a cidade retirando-se para o rio Ortón na Bolívia, porém foram salvos da derrota pela fome com a chegada de vários navios na manhã de 29 de dezembro, os quais abasteceram Puerto Alonso não só de gêneros alimentícios mas também com medicamentos, armas e munições.
Fonte: ABNAEL MACHADO DE LIMA
Prof. de História da Amazônia/Universidade Federal do Pará
Prof. de Geografia Regional/Universidade Federal de Rondônia
Membro do Instituto Histórico e Geográfico/RO
Membro da Academia de Letras de Rondônia
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