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Abnael Machado

Conquista do Vale do Rio Madeira-Padre João Sam Payo


   

O padre João Sam Payo instalado desde 1712 na missão de Canumã, da qual excursionava pelos rios afluentes do Madeira próximos a sua foz, em busca de contatar com os indígenas seus habitantes, e os convencer a saírem da floresta, virem residirem nas missões e se converterem ao catolicismo. Tendo conseguido a adesão de quatrocentos índios de seis diferentes nações. Quando os conduzia embarcados navegando com destino à missão de Abacaxis, no percurso foi interceptado pelo capitão Manuel Francisco Tavares, apoderando-se dos indígenas levando-os para Belém-do-Pará, vendendo-os como escravos. Idêntica ocorrência e procedimento protagonizadas pelo citado capitão, quando o padre Sam Payo trafegava no rio Aroaxiazes conduzindo índio do interior da floresta para sua missão. Esses incidentes foram de nefastas conseqüências, os índios remanescentes dessas e das demais nações, deduziram que os padres eram agentes dos preadores, os traindo. Passaram ao revide atacando os colonos, os padres e os índios missionados seus aliados. Causa principal dos jesuítas não terem conseguindo ultrapassar o médio curso do rio Madeira.

Em 1723 o padre João Sam Payo subiu o rio Madeira fundando um pouco acima da foz do rio Jamari seu afluente pela margem direita, a missão de Santo Antônio do Alto Madeira (o primeiro povoado no atual espaço limitado pelo Estado de Rondônia, deu origem a vila de São Carlos), constituída por colonos brancos e mamelucos lusos-paraenses, índios uns aculturados, outros recém saídos da floresta, tendo por finalidade ser um núcleo de apoio à catequese, ao extrativismo das especiarias, em especial o cacau nos rios Jamari e Ji-Paraná e à agricultura. A sua consolidação era dificultada pela grande distância que ficava de Tupinambarana e das outras missões, expostas ao ataque dos índios adversários dos portugueses e também dos predadores de índios.

Em 1727, ao retornar de Belém do Pará acompanhado pelo padre Manoel Fernandes, transferiram a missão de Santo Antônio do Alto Madeira para o lago Cuniã na margem esquerda do rio Madeira, a boca do igarapé Cuniã (Sam Payo) desaguadoro do lago e de acesso missão, a 12 Km abaixo da foz do rio Jamari, e a 72 Km acima da foz do rio Ji-Paraná, ficando essa mais resguardada dos ataques dos indígenas e dos preadores de índios.

O padre João Sam Payo e seu auxiliar padre Manoel Fernandes, em março de 1728 subiram o rio Madeira até a sua primeira cachoeira, a Aroaya indígena e São João Portuguesa, em frente a esta, na margem direita, instalaram a missão de Santo Antônio das cachoeiras de relevante interesse a política lusa de assegurar a posse desse rio e a dos padres de pacificação dos indígenas e de garantirem para si a exclusividade do rendoso comércio das especiarias com os comerciantes das bandeiras fluviais luso-paraenses oriundas de Belém-do-Pará.

Ainda neste citado ano, o padre João Sam Payo organizou na missão de Santo Antônio das Cachoeiras uma expedição sob seu comando para explorar o Alto Madeira, região das cachoeiras, alcançar suas vertentes e ir além dessas. Partindo desta missão rio acima, atravessando com árduo trabalho as corredeiras, saltos e cachoeiras, denominadas: dos Macacos, Laguerites (atual Teotônio) Caldeirão do Inferno, Jiral, Três Irmãos, Paredão e Perdeneira, atingindo a foz do rio Ferreira na margem esquerda do rio Madeira, nesse navegando até seu alto curso, sendo informado da presença de jesuítas espanhóis de missões no rio Purus. Retornando ao rio Madeira penetrou no rio Abunã seu afluente da margem esquerda, subindo até a cachoeira de fortaleza, retrocendo desta para o rio Madeira, prosseguindo sua subida transpondo as cachoeiras de Araras, Periquitas, Ribeirão, Misericórdia, Chocolatal e Madeira. Passa pela foz do rio Beni em sua confluência com o rio Mamoré, subindo por este atravessa as suas cachoeiras de Lages, Pau Grande, Bananeira, e Guajará-Mirim. Passa pelas fozes de seus tributários rio Yata (margem esquerda), Lage, Pacaás-Novos, Sotérios e Guaporé (margem direita), prosseguindo rio acima chega na missão dos padres jesuítas espanhóis da missão de exaltação da Santa Cruz, província dos Moxos, vice-reino do Peru.Teve caloroso acolhimento. Ao despedir-se solicitou ao padre superior não passar para a margem direita do rio Mamoré a partir da foz do rio Guaporé para baixo assentando missões e recrutando indígenas, por pertencerem aquelas terras e seus habitantes ao rei de Portugal nas quais haviam missionários exercendo o trabalho apostólico. Ao regressar a Santo Antônio das cachoeiras iniciou os contatos com os Mura, objetivando conquistar a sua amizade e convertimento ao cristianismo. As negociações caminhavam para o êxito, visto o chefe Mura haver firmado um acordo pelo qual se comprometia no ano seguinte sair da floresta com o seu povo para habitar na missão. João Sam Payo comprometia-se a fornecer ferramenta, alimentos e todos os demais meios de manutenção até que eles tivessem suas roças próprias produzindo para troca de mercadorias com os comerciantes. Um português conhecedor do acordo foi a aldeia dos Muras em grande canoa. Apresentando-se como emissário do padre Sam Payo para levá-los a missão, pois já se encontrava providenciado tudo conforme o combinado. O chefe Mura refutou tal afirmativa, primeiro porque não havia transcorrido o tempo determinado, segundo por não ser possível ter sido realizado o necessário para recebê-los. O falso emissário apresentou tais argumentos que convenceram o chefe Mura. Este autorizou o embarque de tantos índios quantos comportava a embarcação os quais forma levados comportasse para Belém-do-Pará e foram vendidos como escravos. Ao tomarem conhecimento do ocorrido com seus parentes os Muras passaram a odiar os brancos, em especial o padre que julgava os haver traído. Com ódio iniciaram a vingança assaltando de surpresa as propriedades rurais, os povoados, as feitorias, as embarcações dos comerciantes e de outros as feitorias navegantes, matando indistintamente brancos e seus escravos, como também os índios seus aliados, arrasando o os bens materiais e os arrasando. O padre José de Souza, provincial da Companhia de Jesus no Maranhão solicitou em 1738 ao rei de Portugal que fosse declarada “ guerra justa” a nação Mura, enquanto tramitava o processo pelas instâncias burocráticas, a devastação continuava. O assalto a missão de Santo Antônio das cachoeiras no inicio de 1742, resultou na morte de quase 100 pessoas. O padre João Sam Payo, o seu imediato auxiliar padre Manoel Fernandes e demais missionários decidiram se retirarem de Santo Antônio acompanhados por cem índios convertidos, após quatorze anos de laborioso trabalho (1728 a 1742). Desceram até o rio até a próxima foz do rio Jamari, se instalando nas vizinhanças do rio Baeta em Araretama. João Sam Payo enfermo prosseguiu viagem. Em face aos contínuos ataques dos Muras e surtos de doenças epidêmicas o padre Fernandes resolveu mudar-se para a foz do rio Ji-Paraná instalando a missão de Camuã, na qual encontrou o encontrou o bandeirante Félix de Lima. Por esses motivos a abandonaram, abrigando-se na missão de Trocando (atual cidade de Borma/ AM). Os Mura continuavam a perseguição aos remanescentes de Santo Antônio das cachoeiras, obrigando o padre José da Gama adquirir dois pequenos canhões para defender a missão de Trocando sob suas ordens.

O bandeirante Manoel Félix de Lima e seus companheiros vindos dos arraiais de mineração de ouro de Mato Grosso, descendo os rios Guaporé, Mamoré e Madeira, em 1742 viram os destroços da missão de Santo Antônio das Cachoeiras e de várias propriedades de colonos portugueses, ocasionados pelos ataques dos indígenas.

O padre João Sam Payo retirava-se definitivamente do Alto Madeira, derrotado ao mesmo tempo pelos indígenas, pelos colonos, pelo clima e pela política de governo. Morreu em 1743, sua morte coincide com o declínio das ações dos jesuítas no rio Madeira, até o extinguirem com sua expulsão do Brasil colonial em 1759.

Enquanto era procedida a ocupação do vale do rio Madeira pelos lusos-paraenses a partir de Belém-do Pará, tendo por suporte padre João Sam Payo, econômico a coleta de produtos florestal as drogas do sertão, comercializados pelos padres com os comerciantes das bandeiras fluviais paraenses pelo sistema de escambo até 1748, quando foi oficializado o uso de ouro prata e cobre na Amazônia pelo decreto de 12 de junho de 1748, os bandeirantes luso-paulistas alcançavam o vale do rio Guaporé, iniciando sua conquista e ocupação, tendo por sustentáculo econômico a produção aurífera.

Fonte: Abnael Machado de Lima

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