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Abnael Machado

NOSSA SENHORA DE BELÉM 400 ANOS



Professor Abnael Machado de Lima*

Francisco Caldeira de Castelo Branco, após participar de expulsão dos franceses, em 1615 do Maranhão, foi incumbido de ocupar a foz do Rio Amazonas. Para cumpri-la ergueu na margem da baia de Guajará o Forte do Presépio e instalou a povoação de Nossa Senhora de Belém, em 12 de janeiro de 1616, da qual se originou a cidade de Belém do Pará metrópole da região norte, capital do estado do Pará, irradiadora da conquista do espaço geográfico, da expansão militar, política e da cultura portuguêsa na atual Amazônia brasileira. Dominando os tupinabás, expulsando os inglêses, francêses e holandêses de suas colônias fortificadas no delta amazônico, nos rios Tapajós e Tocantins. A exploração do Rio Amazonas desde sua foz até a sua origem no vice-reino do Peru, o conquistando para Portugal, a instalação do forte da Barra no Rio Negro enfrentando a aguerrida oposição dos índios manaus liderados pelo audaz chefe indígena Ajuricaba. A exploração e colonização do Vale do Rio Madeira a partir de 1669.

Belém integrava-se no plano secreto de Dom João VI na condição de Capital do Império Americano a ser instituído com a transferência do governo imperial português em definitivo para o Brasil. Aliás, não era inédita, esta tramoia vinha sendo urdida desde o governo de Dom José I.

Belém foi o foco da primeira revolução autenticamente popular, dos oprimidos rebelados contra os opressores detentores do poder político e administrativo. do poder econômico, dos quais foram banidos (7 de janeiro de 1835 ) pelos revoltosos, denominados Cabanos, instituindo um governo administrado pelos seus lideres condutores da sublevação. Contra eles, em 1836 o Padre Diogo de Feijó Regente do Império, enviou o brigadeiro Andrea, nomeado governador da Província do Pará, acompanhado de numerosa força militar terrestre e marítima com terminantes ordens de debelar os Cabanos. Estes foram derrotados. Porém mantiveram o espírito nativista dos audaciosos movimentos revolucionários da plebe. Contra a elite política, social e econômica na qual predominava os portugueses remanescentes do regime colonial usufruindo de privilégios e benesses em detrimento aos nativos, autênticos brasileiros.

Em 1907 chegaram cem trabalhadores belenenses, em Porto Velho, contratados pela empresa norte americana May, Jekyll and Rondolph, construtora da ferrovia Madeira-Mamoré, sob contrato do empresário Percival Farquhar. Surgia o povoado dividido em dois distintos setores, o dos norte-americanos contendo as instalações ferroviárias, situado entre a margem direita do Rio Madeira e a avenida divisória (atual Presidente Dutra), privativo da empresa. O dos brasileiros situado entre essa avenida e os limites com o Estado de Mato Grosso. Esse local foi habitado pela primeira vez no período de 1866 a 1870 por uma ala de soldados voluntários da Pátria do regimento sediado em São Carlos do Jamari. Ao se retirarem foi ocupado por agricultores fornecedores de lenha combustível dos navios movidos a vapor d’água. Tornou-se propriedade do empresário produtor de borracha José Crespo. Indicado em 1883, pelo engenheiro Alberto Morsing, para ser o local denominado Ponto Velho, o inicio da ferrovia projetada a ser construída no vale do alto Rio Madeira.

Foi grilado pelos americanos da Madeira-Mamoré, sob pretexto do seu proprietário o qual via judicial, perdeu o seu domínio.

Os paraenses migravam para o próspero povoado, no qual havia facilidades de empregos e oportunidades em todo segmentos de atividades econômicas. Sua cultura predominou-se sobrepondo as alienígenas de gentes de todos os continentes em especial os caribenhos os quais constituíam a população amorfa de Porto Velho. Suas mais expressivas características foram sendo absorvidas e interiorizadas pelos demais habitantes, tais como: a religião Católica apostólica romana, invocando a proteção de Nossa Senhora de Nazaré, elegendo-a padroeira de Porto Velho. Realizando-se atos litúrgicos, procissões, quermesses, arraiais e outros, em sua homenagem.

Os bailes a traje a rigor, as festas populares e aos folclores juninos aos ritmos das músicas nativas carimbó, siriá e outras.

O regime alimentar a base de peixe e de cardápios variados nos banquetes festivos de aniversários, noivados, casamentos, batizados, crismas, primeira comunhões constando de especialidades de pratos de tartaruga, galinhas e patos assados e no tucupi, maniçoba, bem condimentados acompanhados de farofas de farinhas secas e d'água, não faltando o molho das pimentas malagueta e murupi, regado com licores e sucos de frutas nativas, vinho e cachaças estes últimos importados de Belém. No dia-a-dia era indispensável os vinhos de açaí e abacaba com farinha de tapioca, os bolos de macaxeira, as tapiocas, os beijus deglutidos ao amanhecer no mercado municipal e o tacacá, à tarde nas bancas das tacacazeiras.

Os médicos, advogados, professores e outros profissionais, migraram de Belém. Porto Velho era uma extensão dessa cidade, interligada via fluvial, trafegada pelos navios do SNAPP e particulares. Sendo a fonte primitiva da cultura portovelhense, posteriormente enriquecida pelas dos migrantes das demais regiões.

Nossas congratulações aos paraenses pelos quatrocentos anos da fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém do Grão-Pará, em 16 de janeiro de 1616.

*ABNAEL MACHADO DE LIMA
Profº. de História da Amazônia da Universidade Federal do Pará
Membro do Instituto Histórico e Geográfico/RO
Membro da Academia de letras de Rondônia - ACLER.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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