Sexta-feira, 1 de janeiro de 2010 - 19h37
Eu e o Coronel José Manoel Lutz da Cunha e Menezes, Governador do Território Federal de Rondônia.
Eu era o diretor da Divisão de Educação (equivalente a secretário), por ele nomeado, mas de vez em quando estávamos batendo de frente nas reuniões de diretores, quando discordava de suas posições deixando-o irritado, suspendendo os trabalhos sem esgotar a pauta. Até hoje me indago porque ele não me demitia. Presumo que talvez tenha sido em decorrência da minha primeira atitude em nosso primeiro encontro. Fui chamado ao seu gabinete, ao adentrá-lo aproximando-me de sua mesa, estando presentes os senhores Mário Lima e Ari de Macedo, respectivamente Diretor da Divisão de Administração Geral e Diretor de Pessoal, perguntou-me o senhor é o professor Abnael Machado de Lima? Confirmei que sim. Sabe por que lhe convoquei? Respondi-lhe não fazer a mínima idéia. Foi para convidá-lo para assumir o cargo de diretor da Divisão de Educação. Disse-lhe agradecer a deferência, porém por três motivos declinava de aceitar tão honroso convite. Diga-me quais são esses motivos? Os enumerei, primeiro por ser amigo pessoal do professor Lourival Chagas, segundo por seu adjunto, e conforme consta ele está sendo exonerado em decorrência da pratica de irregularidades administrativas concernente à aplicação de dinheiro publico, logo na condição de seu auxiliar imediato, estou também sob suspeição, terceiro eu não sou revolucionário. Ele deu um murro na mesa, dizendo tirem a política da cabeça e ponham o compromisso com o trabalho, com o servir a pátria, e mais se conscientizem que é a Revolução quem decide quando e quem admite, demite pune e anistia. Quanto aos dois primeiros condicionamentos relativos ao atual diretor, o relacionamento de vocês, lhe será favorável, permitindo-lhe livre trânsito na repartição e acesso ao que lhe for necessário para embasar sua defesa. E mais o senhor já está nomeado. Ao que repliquei assim não se trata de convite e sim de ordem para tomar posse do cargo, me restando cumpri-la.
Todos os dias o senhor após o termino do expediente vespertino me apanhava na D.E. ou em minha casa, em seu automóvel e se dirigia para a rodovia, repassava-me a correspondência confidencial a qual ia lendo em voz alta, enquanto ele dirigia.
O apresentei a família do meu compadre Bernardo Semeão, levando-o como convidado a ceia natalina. Ficaram amigos, e sempre nos fins de semana quando não tinha outros compromissos almoçava e tomava banho no igarapé do Neirilândia, agradável sitio desta família.
Certa manha na reunião rotina com os diretores, eu, Mário Lima, Dr. Coutrim, Dr. Couceiro, Ari de Macêdo, Bismarker, Rubens Mota, Dudu, José Roberto (Secretário Geral) e outros dos quais não lembro, comunicou-nos que naquele dia estava viajando à Belém do Pará, para participar de uma reunião da SUDAM tendo esta como um dos assuntos principais de sua pauta, a proposta da elevação dos Territórios Federais à categoria de estado, se aprovada ser encaminhada ao Presidente da Republica. Avisava que ia votar contra e convencer os demais participantes a fazerem o mesmo, considerando que nenhum dos Territórios tinham condições para essa transformação política.
Rondônia por exemplo, não dispunha de recursos econômicos, de estrutura social e mais agravante, de recursos humanos capacitados para gerirem um Estado. Os senhores o que há de melhor aqui, não estão capacitados para tal. Passou a nos interrogar individualmente, se concordávamos, iniciando pelo Mario Lima o primeiro sentando a sua direita, prosseguindo até contornar a mesa, cada um afirmava concordar, até chegar a minha vez, o último à sua esquerda, respondi que discorda. Primeiro, porque Rondônia dispunha de riquezas naturais em potencial a serem exploradas e transformadas em bens econômicos; segundo, ao contrario de sua dedução, também dispunha de recursos humanos capacitados a gerirem um Estado e promoverem o seu desenvolvimento econômico, político e social; terceiro, que em sua volta, lhe assessorando não se encontrava o que havia de melhor e de mais capacitado no Território. Ele irritado encerrou a reunião e se dirigindo para mim, disse: o senhor no meu retorno vai me apresentar a lista dos homens mais capazes para me auxiliarem no governo Dr. Coutrin me perguntou tu vais fazer a relação? Eu lhe respondi que não, pois ao governador compete saber escolher seus auxiliares.
Entre os nossos desencontros houve um em público. Ele reuniu no palácio do Governo as autoridades militares, civis e eclesiásticos, os presidentes de entidades como Associação Comercial, Associação dos seringalistas, empresários, extrativistas de minério, comerciantes e outros representantes dos demais segmentos sociais de Porto Velho e Guajará-Mirim. Iniciou sua explanação chamando a atenção para o principio geopolítico revolucionário, segundo o qual o Brasil era um todo, isto é, o seu espaço territorial era uno não fracionado em fatias pertencentes a Estados e Territórios. Assim sendo quaisquer uma dessas suas unidades, político-administrativas em melhores condições econômicas poderiam anexar áreas das unidades limítrofes para promoverem seus desenvolvimentos econômicos e sociais. Prosseguiu o seu discurso, concluindo-o comunicando que naquele dia estava viajando à Manaus para participar da reunião da SUDAM, na qual um dos temas em pauta era a reivindicação do governador do estado do Amazonas, Professor Arthur Cezar Reis Ferreira, de ser estabelecida no rio Madeira a linha de fronteira entre o estado do Amazonas e Território Federal de Rondônia, e que ele ia se posicionar favorável a aprovação do pleito. Em seguida franqueou a palavra, houve um profundo silencio. Então a pedi, todos os olhares se voltaram para mim, iniciei dizendo discordar da decisão do governador, do qual esperávamos propugnar pelos interesses de Rondônia como também por ser contraditória a geopolítica revolucionária exposta no inicio de sua explanação considerando que o estado do Amazonas mal dispunha de condições para manter o município de Manaus, por que pretendia agregar significativa fatia do espaço de Rondônia? Não seria o caso do governador encaminhar uma contra proposta reivindicando a anexação dos municípios amazonenses de Humaitá, Camutama e Labrea, por ficarem mais próximos de Porto Velho do que de Manaus, portanto tendo Rondônia melhores condições de tirá-los do abandono, administrá-los e de promover seus desenvolvimento e mais, a reivindicação do professor Arthur Reis é uma ratificação das proposições dos ex-governadores do amazonas Plínio Ramos Coelho e Gilberto Mestrinho ambos cassados pela revolução, os quais chegaram a adulterarem o mapa do Brasil tendo o rio Madeira como linha de fronteira entre Rondônia e o Amazonas. Todo o empenho de se apossarem da área em questão é por ser possuidora de depósitos de minérios principalmente cassiterita, mineiro do estanho. O governador retomou a palavra dizendo, este professor está divagando, porque o único órgão autorizado a propor e proceder modificações na divisão política do Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o que eu repliquei está ciente. Porem que o teor do meu pronunciamento se prendeu ao fato de Vossa Excelência ter afirmado apoiar do governador do Amazonas a modificar a divisão política vigente, pleiteando a aprovação por uma Superintendência sem competência para tal. O governador de ânimo alterado anunciou o encerramento da reunião. Ao sair o Emanuel Pontes Pinto cumprimentou-me pela minha postura. Disse-lhe estar decepcionado com todos os presente por se omitirem em defender Rondônia. Dr. Nelson Couseiro me disse “neguinho desta vez tu fostes longe demais, tu vai pro olho da rua”.
O governador encontrava-se no Rio de Janeiro em seu lugar estava o José Roberto Secretario Geral (equivalente a vice-governador) às sete horas da manhã chegou na Divisão de Educação, na minha ausência cortou o ponto de freqüência dos servidores os quais ainda não o haviam assinado. O expediente era corrido das sete às treze horas, com direito a trinta minutos de intervalo para o lance, Como a repartição ficava na periferia distante de qualquer lanchonete combinei com o governador a fazer um acordo com os servidores que os trinta minutos poderiam ser utilizados optativamente iniciando o expediente ás sete e trinta horas ou antecipando o fim do mesmo as doze e trinta horas com o que concordou. Ao tomar conhecimento do ocorrido, reuniu os funcionários, garantindo-os que não teriam nenhum prejuízo. Dirigi-me pra o Palácio na ante sala do gabinete encontrei Dr. Rachid diretor da Divisão de Saúde, na qual tinha ocorrido o mesmo. Ele me disse que estava aguardando a chegada do governador para pedir-lhe reconsideração de seu ato, lhe respondi, eu estou aqui para lhe entregar o cargo. Após uma alterada discussão na qual ele me disse não adiantar eu querer justificar a falta de cumprimento do horário pelos servidores, porque o povo daqui era mesmo indolente. O que retruquei, dizendo-lhe que nós desbravamos a floresta, enfrentamos as nações indígenas, superamos as endemias, implantamos a civilização, a modernidade, a qual lhe dava condições de estar exercendo o governo instalado em um funcional e confortável palácio. Portanto, deveríamos ser tratados com a devida consideração. Ele me disse volte para seu setor, permaneça no cargo, respondi-lhe que me considerava exonerado, havia sido desprestigiado perante os servidores, ficando sem condições morais de continuar os administrando. Retornei a repartição e mandei que os funcionários assinassem a freqüência em uma folha extra comunicando-lhe que estava formulando por escrito meu pedido de exoneração por haver sido desprestigiado e como tal sem condições de permanecer no governo. Fui punido com a pena de trinta dias de suspensão. Quando o governador chegou mandou-me chamar e me disse “você não devia ter pedido exoneração devia ter me aguardado mas quem não se sente não procede de boa gente”. Comuniquei-lhe que havia requerido anulação da penalidade e se fosse indeferido recorreria a instância superior, ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, a quem eram subordinados os territórios o ato de punição foi anulado. Sendo eu o único funcionário a ter esta concessão.
Dr. Nelson Conseiro quando me encontrava em algum evento, dizia para minha mulher “este neguinho é o diabo, atazanava o Cunha Menezes”. Eu lhe dizia e por isso que ele sempre foi e é meu amigo, por ser sincero, independente e leal, não sr vaca de presépio como vocês, sempre concordando com ele o aplaudindo e lhe jogando confete.
Abnael Machado de Lima
Membro fundador da academia de letras de Rondônia
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