Sexta-feira, 10 de julho de 2015 - 18h22
Sonhei que estava na margem do Rio madeira, admirando a força da correnteza transportando troncos de árvores de variados tamanhos e espessuras. Fiquei surpreso ao volver meu olhar na direção da cidade, esta não era a Porto Velho atual, relaxada, anti-higiênica, condição criada pela maioria de seus habitantes carentes de civilidade, os quais lançam lixos de todas espécies nas vias publicas, nas margens das estradas e nos igarapés, os transformando em esgotos a céu aberto exaladores de gás metano poluidor do ar do meio ambiente. A essa desoladora situação acresce-se a sucia cada dia maior de vagabundos andrajosos, molestando os transeuntes e os condutores de veículos exigindo pagamento nos valores por eles estipulados por estacionamento. Acampam nas calçadas sob as marquises, nas quais ou no asfalto da rua, ateiam fogo para cozer a comida, cuja sobra jogam na rua. A quaisquer horas do dia dormem no local escolhido, visto a noite estarem empenhado em suas delinquentes atividades.
Confirma-se para cidade o adagio de que, “Quem é porco é o dono do porco, e não o porco”.
O Governo Municipal é omisso, descompromissado em promover o bem estar dos munícipes, seus representantes se quedam silentes, surdos e cegos coniventes com o caide de plantão.
Os logradouros públicos, as ruas e calçadas transformaram-se em feiras permanentes lotadas de quiosques e mascates de todas estirpes obstaculizando o transito de pedestres e de veículos. E as praças em camelódromos valhacoutos de marginais, deixaram de ser o que propunha o vate Castro Alves. “A praça é do povo, como o céu é do condor”, passando a ser: “A praça é do mascate, como o céu é do urubu adejando sobre o monturo”.
Encontrava-me na bucólica Porto Velho, isto mesmo, mais campestre que urbana, no seu entorno a floresta verdejante adornada pelas flores amarelas, róseas e roxas dos ipês, acácias, mata-pastos e outras. Abundante em frutos comestíveis tais como: pajurá, tucumã, uchi, cacau, cupuaçu, maracujá, jenipapo, ingá, jatobá, murici, araçá, piquiá, graviola, abacaba, patoá, açaí, pupunha, cajarana, buriti, castanha, biribá e tanto outros. Habitat de rica e variada fauna de aves, mamíferos, repteis, ofídios. A onça exercia o seu absoluto domínio. Em sua frente o caudaloso Rio Madeira transportando flutuantes troncos de arvores rumo a sua foz, os botos acrobatas, em saltos ornamentais perseguiam os peixes em piracema faziam a festa, espetáculos completado pelo cenário da exposição de cores do ocaso do sol o mais formoso do Brasil. No porto improvisado o casco do navio Aripuanã, o plano inclinado interligando-o aos armazéns por vagonetes sobre trilho, movidas a força motriz de vapor, carregadores de cargas. Os moradores aguardavam ansiosos a chegada dos navios bazares flutuantes dos quais se abasteciam de produtos alimentícios de bebidas, de confecções, tecidos, calçados, joias e outras novidades. No espaço portuário além dos armazéns ficavam a oficina mecânica, a fábrica de gelo, a serraria Tiradentes e a estação ferroviária. A saída e chegada dos navios e dos trens eram concorridas. O comboio vindo de Guajará Mirim transportava gado bovino boliviano destinado ao abate. A boiada era conduzida pelos vaqueiros para o campo do Mário Monteiro, atuais instalações 5º BEC percorrendo a Avenida 7 de Setembro até a rua Prudente de Morais, e por esta ao local de recolhimento. As portas das casas comerciais eram fechadas e quem estava nas ruas procurava um abrigo seguro, era por pouco tempo uma Pamplona ao contrário, lá o povo corre nas ruas junto com os bois. Aqui se resguardava, não se esquecia do acontecido ao valente Timoteo, guarda costa de Aluízio Ferreira, foi surpreendido por desses bois recém-chegados, o qual o massacrou sem piedade, sendo todo quebrado hospitalizado por longo tempo.
O núcleo urbano era aprazível, as ruas arborizadas com mangueiras a Farquar, nesta situavam-se os casarões herdados dos norte-americanos da Madeira-Mamoré, destacando-se os de residência do diretor da ferrovia, o da agência do Banco do Brasil e o da sede administrativa da EFMM; com fícus a 7 de Setembro, na área comercial entre a atual Presidente Dutra e a Prudente de Morais, sob esses tinham bancos a disposição dos transeuntes. Nessa área central entre outros, ficavam o Bar Central, o Cine Brasil (ex-Catega) o edifício Josino Lemos sede do jornal Alto Madeira; com ingazeiras, a José Bonifácio no trecho entre as ruas José do Patrocínio e Pinheiro Machado, neste situavam-se a loja Maçônica União e Perseverança, o quartel da 3ª Companhia de Fronteiras e as casas residenciais de seus oficiais. As arborizações das duas últimas, foram erradicadas pela prefeitura municipal.
Vários igarapés de águas límpidas e correntes atravessavam o espaço da cidade, sendo os principais o Favela, o dos Tanques, o Santa Barbara, o das Lavadeiras e o Grande. Este represado no sopé do morro do Triângulo formava um imenso lago, no qual fixadas num flutuante ficavam as bombas de captação d’água abastecedoras da rede hidráulica da cidade, denominado Burrinho. Esses cursos d’águas amenizavam a temperatura, tinham utilidade pública fornecendo agua aos moradores das periferias Mocambo, Morro do Querosene, Favela, Alto do Bode, Triângulo e Baixa da União. Utilizado pelas lavadeiras propiciando-lhe a geração de renda familiar. Eram locais de lazer.
A maioria da população era católica frequentando assiduamente as missas, novenas e terços, participando nas procissões, nas promoções sociais e nos arraias festivos e quermesses no adro da igreja. Sem deixar de comparecer ao candomblé no terreiro da mãe-de-santo Esperança Rita, comportamento deplorado por D. Pedro Massa, em carta pastoral, acusando os empresários, os comerciantes e o jornal Alto Madeira de só prestarem apoio à Maçonaria, e o povo viver imbuído na macumba. Pela manhã assistia a missa, a noite o candomblé.
O divertimento eram os piqueniques nas margens dos igarapés, as pescarias, as caçadas, as festas dançantes no clube Internacional da elite e no Danúbio Bailante Clube dos ferroviários, desfiles dos blocos carnavalescos, assistir sessões de cinema, passear na praça Rondon, assistir as paradas militares e estudantis, apreciar a chegada e partida dos navios e dos trens, participar dos folguedos juninos, das pastorinhas, das serestas nas noites de plenilúnio, fazer a ronda pelos bares e botecos, organizar almoços e jantares de cardápio variado constando de caldeirada de peixe, pato no tucupi, maniçoba, paca assada, tartarugada e outros pratos. Acompanhado de licores de frutas nativas e de cachaças cocal e caninha verde paraenses.
Esta cidade mataram, sobrevivendo apenas em nossa mente, aflora as vezes em retrospectos sonhos. Se nossa alma decidir percorrer suas atuais ruas, corre o risco de ser assaltada ou atropelada no seu desenfreado trânsito.
“vade retro, Satana”
ABNAEL MACHADO DE LIMA
MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DE RONDÔNIA
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