Segunda-feira, 9 de novembro de 2015 - 16h24
Por William Haverly Martins
Só os poetas são donos do privilégio inominável de ser ele mesmo e o outro ao mesmo tempo, só eles conseguem ingressar o íntimo do ser e alojar nele um ponto de vista universal, como se traduzindo em versos a língua humana, escrita na abstração da sensibilidade, da dor, da solidariedade, da compaixão e do amor.
Quando o poeta inglês John Donne disse que - “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti” – estava expressando em versos ecumênicos o sentimento da humanidade, principalmente diante de tragédias, como a que ceifou a vida de nosso imortal HERCULANO MARTINS NACIF.
Não há como não se emocionar, não há como não se solidarizar com o sofrimento da família, dos confrades, dos magistrados, dos advogados, enfim de todos que tiveram o prazer da convivência com esse mineiro tão nobre de sentimentos, tão pródigo de gestos de humanidade, tão competente na operacionalidade do direito e da justiça, tão instigante no uso da palavra, quer seja oral, quer seja escrita.
A quem a Academia imortaliza? O escritor ou a obra? É possível separar o que nasce irremediavelmente junto? É possível a obra transcender a criação e adquirir vida própria, condenando o autor a um segundo plano, é possível a fetichização do livro, ou da obra de arte?
A denotativa morte, um significado na insignificância, tão manipulada pela conotação literária que conserva e transcende simultaneamente a literalidade das palavras, desce ao mundo do real, se apropria do fogo temporal da criação artística e silencia um dos polos da imortalidade. Calou o homem, mas não a obra. Herculano é imortal, autor e membro da ARL Academia Rondoniense de Letras, onde ocupava a cadeira nº 18 cujo patrono é o eminente médico Osvaldo Cruz.
A morte foi, é e sempre será, na literatura, como na vida autoral, personagem secundária, coadjuvante, jamais protagonista, uma vez que é do autor as rédeas da temporalidade, e quando ele as solta, ao término de um trabalho, a obra quase adquire vida própria, imortal na arte que a criou, rivalizando-se com o autor, ao tempo em que o imortaliza. Como é fascinante perceber o Dom Quixote, medindo forças com Cervantes, contemplando os séculos, como se um dos vasos da ampulheta do tempo nunca se esvaziasse, despertando, na vida cognitiva das esquinas acadêmicas de outrora, perguntas oriundas da dubitação retórica: quem é imortal, o autor ou a obra? como questionar a coexistência de princípios indecomponíveis?
O livro, embora exista no universo das palavras, precisa do choque neuronal criativo para vir a ser, então, o literato abstrai-se de si mesmo, se descobre sectário de um panteísmo próprio, onde o criador se identifica com a criação, mas permite multifaces ao eu artístico.
O mito da imortalidade facilmente se incorporou no conceito de Academia, não importa o século, da máquina de escrever ao computador, do papiro ao livro, do livro ao e-book, a tecnologia jamais romperá o arcabouço das tradições e será sempre bem-vinda, como prerrogativa da evolução inevitável. A linguagem em suas variadas formas continuará sendo a ferramenta da comunicação humana, atraindo, seduzindo e justificando o encontro de pessoas, até mesmo aquelas que por escolha pessoal adotaram a univocidade da linguagem científica em detrimento da plurissignificação da arte literária, da arte da oratória, por absoluta falta de afinidade com o eu artístico, mesmo estas, não se esquivarão do convívio acadêmico, pois o ato de se reunir em torno de um, ou de vários objetivos caracteriza a sociabilidade do ser humano.
Compreende-se então que a instituição Academia, ao se tornar guardiã das obras literárias de seus membros, confere, por extensão metonímica, o certificado de imortalidade ao autor.
Herculano Martins Nacif morreu em obediência à regra natural, mas é eviterno, estará sempre conosco, permanece entre nós através dos seus feitos, das suas obras, das suas realizações, através do seu livro, uma convivência sentimental com os que lhe admiraram a existência e as virtudes, a capacidade de trabalho no exercício operacional da justiça e no esforço pela preservação dos valores morais. A Academia Rondoniense de Letras, neste instante e simbolicamente, se despede do corpo com um até logo, mas acena para a imortalidade, com o livro que o perpetua entre nós.
Muito Obrigado!!
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