Sexta-feira, 8 de julho de 2022 - 10h49
Quando se iniciaram os primeiros trabalhos de
piscicultura, nos idos do ex-Território Federal de Rondônia — início de julho
de 1978, há 44 anos para sermos precisos —, os produtores rurais que por aqui
se encontravam, atraídos pela promessa do Governo Federal, da conquista da
terra fácil e farta, nos deparamos com muitas cobranças por alevinos por parte
de produtores rurais para atender suas necessidades para povoarem suas
barragens, até então sem peixes, se prestando apenas para fornecer água para o
rebanho bovino, pecuária de corte e de leite,
e nada mais.
A maioria dos pequenos e médios
produtores-colonos reclamavam com
veemência e para seus entendimentos o Governo não vinha cumprindo com o
prometido para aqueles que para aqui viessem colonizar o novo Eldorado do
Brasil, sendo assim conhecida Rondônia como a nova fronteira agrícola, com
terras disponíveis para todos, principalmente para àqueles que quisessem
explorar à terra.
Estes colonos que
vieram colonizar o novo eldorado, como ficara conhecida as novas terras
conquistadas, construíram dezenas de centenas de barragens para armazenar e fornecer
água para as necessidades do rebanho bovino e estas infraestruturas simplesmente
atendiam as necessidades de água para assedentação do rebanho bovino e
permaneceram por vários anos sem utilização para outros fins e atividades, como
exploração da piscicultura, hortaliças e outros — até porque não existiam
incentivos governamentais para tal, não existia produção de alevinos para
fomentar e incentivar a piscicultura — quando se sabiam que estes produtores
pioneiros que aqui chegaram dispunham de bastante experiências com a criação de
peixes em seus respectivos estados de origens.
A então ASTER-RO, hoje EMATER-RO, uma entidade associada criada para prestação
de ATER: assistência técnica e extensão rural, atuou por muitos anos, através
de convênio de cooperação, entre o então Governo do ex-Território Federal de
Rondônia e demais entidades afins, no âmbito estadual e federal, e se
encarregou em solicitar do então Governo a contratação de um grupo de
Engenheiros de Pesca para atender as necessidades no momento, tanto na pesca
artesanal, com uma produção extrativa na época em torno de 5 mil toneladas de
pescado/ano e para dar início aos primeiros passos da piscicultura — que
naquela época despontava com sinais de viabilidade. Com uma verdadeira malha de
nascentes, igarapés, lagos, rios e tributários, perfeitamente ajustáveis à
pratica da piscicultura, em diversos sistemas, tais como: semi-intensivos e
intensivos.
Na época, o então
presidente da ASTER-RO, Engenheiro Agrônomo Luiz Carlos Coelho de Menezes foi a
Fortaleza e, em contato com a Universidade Federal do Ceará - UFC, Curso de
Engenharia de Pesca, fez uma seleção e viabilizou a contratação de 6 (seis)
profissionais, recém graduados em Engenharia de Pesca, como se podem citar:
Francisco DERMEVAL Pedrosa Martins e hoje no IBAMA-CE; Antônio de ALMEIDA
Sobrinho e hoje no Governo do Amazonas; José WILSON Galdino e hoje na UFC-CE;
ELANO José Rocha de Medeiros e hoje no MAPA-CE; FÁBIO Bezerra Beco e hoje no
IBAMA-CE e, posterior, chegou RENATA Polari Maia e hoje no DNOCS-CE.
Este grupo de
profissionais foi o embrião que se desenvolveu e viabilizou uma estratégia
técnica e política suficiente para alicerçar as pilastras de sustentação da
cadeia produtiva para se desenvolver a atividade da piscicultura no novo estado
de Rondônia. Este trabalho foi coordenado por nosso companheiro Francisco
DERMEVAL Pedrosa Martins, Engenheiro de Pesca que assumir a Gerência de Pesca e Produção
Animal da ASTER-RO, com muita competência
técnica e gerencial, até a transformação do ex-Território Federal de Rondônia,
em o novo Estado de Rondônia, em 22 de dezembro de 1981, através da Lei
Complementar nº 41, de 31 de dezembro de 1981 é criado o Estado de Rondônia e
em 04 de janeiro de 1982 é nomeado o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira como o
seu primeiro Governador.
Enquanto uns atuavam
com a pesca artesanal, outros se preocupavam em planejar as bases da
piscicultura, em nível estadual. Por outro lado, Eu e o colega José WILSON
Galdino tivemos a oportunidade em participar de um Curso de Pós-Graduação (Lato sensu),
Especialização da FAO e Ministério da
Agricultura e Reforma Agrária - MARA/SUDEPE, em convênio com UFRPE, no
município de Rio Formoso, em Tamandaré- PE, e que esta capacitação nos
possibilitou a implementação de um programa de capacitação para o pescador artesanal
e sua família sobre Salga, Secagem e Defumação do Pescado, por um período de 16
anos, junto as principais comunidades tradicionais ribeirinhas nas calhas dos
rios Madeira, Mamoré e Guaporé e de seus
tributários.
Com a eleição e posse
do primeiro Governador de Rondônia, Jerônimo Garcia de Santana, o novo estado
de Rondônia se sentiu na obrigação em se estruturar e o então Governador
decidiu estruturar e dinamizar todos os órgãos regionais de desenvolvimento em
operacionalização, que funcionavam mesmo fragilizados no então ex-Território
Federal de Rondônia, exceto a SUDEPE - Supererintendência
do Desenvolvimento da Pesca, que funcionava em Rondônia, através de um simples
Convênio de Cooperação entre a SUDEPE e
SEAGRI-RO, sem a mínima estrutura organizacional que justificasse
continuar frente as grandes demandas que já acenavam com a elevação do
Território Federal de Rondônia à condição de novo Estado de Rondônia.
Em atendimento a um convite do então
Governador, eu aceitei o desafio em assumir esta responsabilidade para atender
as necessidades imediatas dos setores pesqueiros e aquícola de Rondônia, para
estruturar e dinamizar a estrutura da SUDEPE e, assim, trabalhar em parceria
com as demais entidades governamentais e não governamentais, em níveis:
municipais, estadual e federal para fortalecer o recém criado estado de
Rondônia.
Em pouco meses a SUDEPE – com uma estrutura de
Agência da SUDEPE no Estado de Rondônia com o apoio integral do Governador
Jerônimo Garcia de Santana foi estruturada: com recursos humanos (51 servidores
cedidos pelo Estado); financeiros e
materiais, e passou a trabalhar nos
moldes de uma Secretaria Ambiental — cuidando da preservação dos recursos
pesqueiros, em Convênio com o Batalhão de Polícia Ambiental), coibindo a pesca
predatório em toda a bacia hidrográfica do estado de Rondônia, incentivando e
fazendo fomento à atividade da piscicultura, em parceria com a EMATER-RO e
SEAGRI-RO, elaborando o projeto da Estação de Piscicultura para produção de
alevinos, sendo esta estrutura esta construída em parceria com a SUDEPE e a
então Secretaria de Estado da Agricultura – SEAGRI-RO, instalada a montante da
então Cachoeira do Teotônio, hoje afetada e submersa com as obras da UHE Santo
Antônio e sem os ressarcimentos devidos dos danos causados ao erário público —
Governo Estadual —, e que supostamente
foram indenizados a aproveitadores inescrupulosos, carecendo de uma rigorosa investigação e esclarecimentos
por parte do Ministério Público Estadual (MPE) e Ministério Público Federal
(MPF).
Durante um determinado
tempo a SUDEPE funcionou a todo vapor e atendeu as necessidades e as demandas
do recém-criado estado de Rondônia. A
então SUDEPE funcionou, a contento, naquela época e ocupou vários espaços em
branco, até porque não existia a Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Ambiental – SEDAM, o IBAMA e Instituto Chico Mendes de Meio Ambiente – ICMBIO. A
SUDEPE instalou a pedra fundamental para o início de um novo tempo para a
piscicultura de Rondônia e, ao mesmo tempo, se prestou como COLUNA para criação
do IBAMA, que a época fora criado com a fusão dos seguintes órgãos: SUDEPE +
IBDF + SUDEVHEA + SEMA e estas entidades
se compuseram e formaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA, até hoje atuando de forma satisfatória, com uma
super estrutura que assumiu suas respectivas atribuições, em níveis nacional,
estaduais e municipais.
Para que a piscicultura
de Rondônia fosse contemplada com um aporte de incentivos financeiros — com
recursos proveniente do FNO, SUFRAMA e fontes diversas, tornou-se necessário de
um respaldo técnico-tecnológico para que suas principais propostas e metas
fossem implementadas. Dai surgiu a necessidade de se viabilizar o Sistema de
Produção para Criação de Tambaqui em Rondônia, com a participação da Pesquisa
(EMBRAPA) + Fomento (SEAGRI-RO) + Extensão Rural (EMATER-RO). Nesta oportunidade, em 1991, elaborou-se o Sistema
de Produção para Criação de Tambaqui no Estado de Rondônia, com a nossa
participação e do Engenheiro de Pesca Paulo Ramos Rolim (EMATER-AM, hoje IDAM),
atendendo a um convite da EMATER-RO, e, em 1992, elaborou-se o Sistema de
Produção para Criação de Tambaqui no Estado do Amazonas, também, com a
nossa participação, atendendo a um convite especial do Engenheiro de Pesca
Paulo Ramos Rolim, para fechamos o ciclo de fortalecimento da piscicultura, em
nível de Região Norte.
Até o final do Governo Confúcio Moura a
piscicultura permaneceu no piloto automático: o crescimento da piscicultura cresceu
em progressão geométrica (P.G), graças a dinâmica de um grupo de
produtores rurais que acreditaram em suas forças, nas promessas do Governo de
Rondônia, mesmo com a fragilidade técnica, deficiência de assistência técnica
por escassez de um corpo técnico qualificado, por parte da EMATER-RO, enquanto
a piscicultura no Brasil continuou crescendo em progressão aritmética (P.A) — quando o estado de Rondônia
chegou a ocupar o primeiro lugar na produção de pescado nativo, no ranking
nacional, como as espécies tambaqui (Colossoma macropomum,
Cuvier, 1818) e pirarucu (Arapaima gigas, SCHINZ,1822), enquanto os
primeiros lugares na produção de pescado, com produção de espécies exóticas, a
exemplo da tilápia (Oreochromis niloticus), espécie proveniente do rio
Nilo, na África, produzida em alta escala no Paraná e São Paulo, quando ocupam
atualmente o primeiro e segundo lugar no ranking nacional em produção de
pescado, com produções, na ordem de 166.000 e 70.500 toneladas, respectivamente.
Segundo o Anuário da
Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR 2021), a produção de pescado
nativo cultivado em Rondônia em 2020 foi de 65.500 toneladas; seguido de Mato
Grosso com 42.000 toneladas; Maranhão 40.500 toneladas, Pará com 24.900
toneladas e o Amazonas com 21.500 toneladas.
De acordo com o Anuário
da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR 2021) a produção de pescado
no Brasil cresceu 4,75 em 2021. O Brasil produziu 841.005 toneladas de pescado
proveniente da criação de tilápia, peixes nativos e outras espécies, segundo um levantamento da
Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).
RESGATE HISTÓRIO DA
PISCICULTURA
EM RONDÔNIA
Após assumirmos a Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE em Rondônia recebi uma demanda não muito
fácil para ser cumprida. O recém eleito Prefeito municipal de Pimenta Bueno, Reginaldo
Monteiro (1984 a 1988) nos procurou e informou que teria que atender a dezenas
de produtores rurais de seu município que tinham dezenas de barragens cheias de
águas e sem peixe e que queriam por que queriam alevinos para criar em suas
propriedades.
Missão quase impossível para ser atendida.
Não me dei por vencido e telefonei para um colega e veterano de guerra, Carlos
Gardel (não é o cantor argentino, não) – então Superintendente da SUDEPE do
estado de Goiás. Ele confirmou-me que teria até 20 mil alevinos da espécie
Carpa capim (Ctenopharyngodon idell), apesar de ser uma
espécie exótica, porém na época tudo valeria, alegislação ambiental ainda não
existia.
Tudo combinado, o prefeito efetuou o
pagamente e o Carlos Gardel nos remeteu os 20 mil alevinos de carpas, em 20
unidades de isopos de 100 litros cada. Realizado
o embarque em Goiânia, combinado o horário para receber o material no Aeroporto
de Porto Velho. Fomos receber o material no horário acordado, eu e o meu velho
amigo de guerra, Veterinário Carlindo Pinto, o Maranhão, na época prestando uma
consultoria técnica voluntária ao seu nobre amigo, então prefeito Reginaldo
Monteiro, e, ao invés de termos uma grande satisfação, ocorreu uma grande
tristeza: todos os 20 mil exemplares de alevinos de carpas estavam todos mortos.
Após a investigação, contatou-se que o
excesso de um produto utilizado para proteger os alevinos de nome “azul de
metileno”, utilizado para que os peixes não morram — quando acondicionados,
inflados com oxigênio e transportados — fora o causador da “trajédia” de nosso
primeiro trabalho de piscicultura, a nível de fomento à piscicultura, no início
do novo estado de Rondônia.
MORAL DA HISTÓRIA: para que o então prefeito
não sofresse um prejuízo total, o Carlos Gardel ressarciu apenas 10 mil
exemplares de carpas para amenizar o prejuizo e, assim, atender parte das
demandas da piscicultura na região.
NOTA DE PESAR: O ex-prefeito Reginaldo
Monteiro (1984 a 1988) e faleceu em 27 de novembro de 2021.
A Coluna ESPINHA NA GARGANTA faz
aqui um registro de pesar à família do ex-prefeito de Pimenta Bueno e
ex-Deputado Estadual Reginaldo Monteiro pelo seu falecimento, em respeito à
vida e ao seu legado deixado aos munícipes de Pimenta Bueno, no que tange à
piscicultura e ao desenvolvimento regional do setor primário da região.
Por que a piscicultura de Rondônia vem sofrendo
constantes colapsos, dezenas de micros e pequenos piscicultores já abandonaram
suas atividades e o proquê de tudo isto está ocorrendo?
O que
está acontecendo?
Qual o problema?
Qual a doença?
Quando dará entrada na UTI?
Veja na próxima matéria que
será publicada no início da semana.
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