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Antônio de Almeida

Cacheira de Santo Antônio: No salto, desespero e milagre.


Cachoeira de Santo Antônio - Gente de Opinião
Cachoeira de Santo Antônio

RESGATE HISTÓRICO

           Será que tem algum terráqueo que não tenha medo da morte?

               Você já viu alguém falar que já esteve entre a vida e a morte?

                Nesta série de relatos que estamos mostrando para nossos amigos leitores que nos leem assiduamente a ESPINHA NA GARGANTA, estamos apresentando nesta oportunidade este fato pitoresco e um tanto quanto bizarro, no formato de RESGATE HISTÓRICO, com o seguinte teor:

 

 

DESTINO DA VIAGEM

           Manhã  de inverno amazônico, céu de brigadeiro, com poucas nuvens, com prenúncio de um sol forte, em pouco tempo, 2 de setembro, ano de 1980, saída da cidade de Porto Velho, 8h:30 min para o Museu da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, E.F.M.M —, local de embarque, com destino à área encachoeirada entre a Cachoeira de Santo Antônio e Cachoeira do Teotônio, onde foram construídas as obras da UHE Santo Antônio Energia S.A, em atendimento à programação da então ASTER-RO, hoje EMATER-RO, para realização de uma Reunião de Pescadores, na comunidade pesqueira de Jatuarana, contígua à cachoeira do Teotônio, como parte do cronograma mensal de reuniões nas comunidade de Nova Vida, Santo Antônio, Trata Sério, Auxiliadora e Jatuarana, no total de duas reuniões por mês em cada comunidade artesanal assistidas pelo Programa de Extensão Pesqueira da ASTER-RO, em convênio  de cooperação técnica entre SUDEPE (extinta) e Governo de Rondônia.

MEIO DE TRANSPORTE

            Tendo como meio de transporte uma robusta Lancha de Fibra de Vidro, RONANDO BRAZ, com 4 bancos estofados e direção mecânica, acoplada com um motor de Popa 75, de Marca Johnson, a gasolina e óleo 2 tempos, tendo como piloto o Senhor MESQUITA DA SILVA, experiente e respeitado piloto de lancha da ASTER-RO, de etnia indígena, com a altura de 1,60 metro, colocado à disposição de nosso convênio por conhecer bem os perigos e as dificuldades em pilotar em áreas encachoeiradas, tendo como exemplo as águas do rio Madeira e seus riscos de morte.

MESTRE DAS ÁGUAS

            Desta vez o nosso Mestre das águas nos aprontou um susto, até então não vivenciado, se esqueceu em reabastecer o tanque de gasolina ou por excesso de experiência, deu um ‘golpe de vista’ acreditando ele que o reservatório de gasolina, conhecido como corote, teria combustível suficiente para reabastecer o tanque do motor, caso fosse necessário ou em caso de uma emergência.

COMUNIDADE JATUARANA

            Logo ao ultrapassar a cachoeira de Santo Antônio, após nossa ida, e navegar durante uns doze minutos em baixíssima velocidade para passar de tangente em outras comunidades pesqueiras para entregar “Convites de Reuniões” para outras reuniões em comunidades vizinhas da área encachoeirada como: Nova Vida, Santo Antônio, Trata Sério, na margem esquerda do rio Madeira e, depois, na comunidades Pesqueira de Auxiliadora — à margem esquerda do maior afluente do rio Amazonas, de sua margem direita,  e, depois, seguindo em direção a cachoeira do Teotônio, ao lado da comunidade de Jatuarana, o motor falhou e, em seguida, parou de funcionar e se constatara que o combustível havia sido consumido, se acabara,  e para nossa maior surpresa o vasilhame estaria vazio.

 

                                                 SUOR DE LÁGRIMAS

           O pânico foi total. Não houve lágrimas porque o susto que tivemos aqueceu nossos rostos e a água pronta para se transformar em gotas de lágrimas se transformaram em suor e gotejaram pelos poros e haja aquela suadeira em todos os quadrantes dos corpos, com a contribuição do sol que começara a aquecer, esquentar e a clarear o palco daquele cenário que a natureza preparara, instintivamente, para que a natureza viva assistisse com nitidez e com os olhos bem arregalados de espanto e emoção os semblantes de dois navegantes errantes fracassados e com uma forte recarga de medo da morte, com excesso de experiência e ausência de combustível, insumo essencial para superar as aflições naqueles momentos de dificuldades.

PERDER AS ESTRIBEIRAS

            Aí eu nós vimos dois homens calmos perderem as estribeiras. Nesta hora, até o mais forte guerreiro treme na base, se transforma em ferrenho devoto de todos os santos possíveis e imagináveis, mesmo que seja um evangélico fervoroso e radial, foi naquele momento em que vimos a nossa lancha voltando através da correnteza nas águas revoltas e zangadas do rio Madeira e em termos a certeza que não teríamos mais do que dez minutos para que caíssemos no tombo da corredeira:  passamos a ter convicção de que até para salvarmos nossas almas teríamos que ter tempo para rezar e pedir perdão a Deus — e a todas as demais divindades possíveis — ao menos dos mais recentes pecados praticados.

MOMENTO ÍMPAR

           Momento crucial e ímpar em toda a minha existência e de atuação profissional, em água, em terra e no ar, por onde tivemos que andar e trabalhar.

PERDER PARA O PÂNICO

           Foi nesta hora que vi pela primeira vez a  aflição perder para o pânico; a sensação do adeus perder para o medo da morte e passar a sentir uma sensação de um misto de desespero, pânico e em ver a cara da morte.

           O que teríamos o que fazer nesta hora? Após tanta vivência nesta área, com tantas dificuldades para se assistir tantas famílias carentes e lembrei-me de uma passagem da Bíblia sagrada, segundo Eclesiastes 3: 1-3 que fala:

TEMPO PARA TUDO:

3 “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo de céu:

2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer;

tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

3 Tempo de amar, e tempo de curar:

    Tempo de derribar, e tempo de edificar ...

           Nós nascemos, crescemos e aprendemos que a única certeza que nós temos é que todos nós temos o nosso dia, a nossa hora certa, e ninguém sabe o lugar. Passou de tudo por minha cabeça: eu com o meu filho primeiro filho recém-nascido, com apenas 4 dias de nascido, RODRIGO TASSO, havia nascido no dia 29 de agosto último, e nestas horas o pensamento primeiro é para o filho, e, depois, vem o resto. Depois, em pensei em gritar por um socorro, nas águas encrespadas e profundas do rio Madeira. Como única alternativa e em desespero, comecei a gritar: Socorro!!! Socorro!! Urgente!!! Vamos cair no tombo!!!. Nestas alturas do desespero, o nosso piloto experiente com toda a sua competência nos olhava, passivamente, e eu pensei bem rápido, imaginei que ele estivesse fazendo alguma oração e falei com os meus botões: -

 

- Oh! mestre piloto!!! se estás a rezar ou orar, nos inclua também em suas preces e peças a Deus perdão pelos seus e pelos nossos pecados. Nesta hora, todos procuram agir com rapidez e humildade e decidi, num piscar de olhos, mais uma vez pedir para que ele nos incluísse em suas súplicas, ao utilizar a sua fé.

De súbito, fomos surpreendidos por um forte gritou, com muita veemência, bravura e intensidade, partindo do próprio piloto, ao meu lado, exigindo que eu gritasse ainda mais alto.

Enquanto o piloto bradava em alto e bom som exigindo que eu gritasse, eu continuava me esgoelando, de braços soltos, ainda mais alto, pedindo socorro de algum filho de Deus que por obra divina estivesse nos ouvindo ou que estivesse em áreas adjacentes, como forma de nos livrarmos do tombo do salto da cachoeira de Santo Antônio, como única forma de sobrevivência.

Vamos gritar em dupla voz. Gritamos ainda mais alto. Bradamos no último volume como últimas esperanças.  

   

OBRA E MILAGRE DE DEUS

            Por obra e milagre de Deus, sopro do Divino Espírito Santo, surge de súbito uma lancha com dois pescadores que nos jogaram uma pesada corda e nos arrastaram para fora das corredeiras e nos abasteceram com combustível e doaram água gelada, sombra e repouso que nos deram um sopro de vida para podermos estar contando esta pequena história, que tivera tudo para ter um fatídico final, porém, com as graças de Deus, tivemos um final feliz.

                                                                          ele tem tanta convicção

                              Como seria o tombo na cachoeira do Santo Antônio.

Entre a aflição e o desespero, percebeu-se que não teríamos mais do que 5 minutos para nos livrarmos do tombo da cachoeira do Santo Antônio, com um histórico de centenas de mortes de ex-apenados que cumpriam penas, e que tentavam fuga para se livrar do Presídio de Santo Antônio ou de ousados e afoitos que se aventuraram a passar naquelas corredeiras — nesta Ilha de Santo Antônio — que fora por um longo tempo, desde o ex-Território Federal do Guaporé, ex-Território Federal de Rondônia e, depois, Estado de Rondônia —  como Cadeia Pública de Porto Velho e sem acesso ou a passagem de pequenas e médias voadores ou lanchas conduzidas com motor Rabeta ou com motor de popa qualquer, com baixa potência.

           Na próxima edição, continuaremos esta série de RESGATE HISTÓRICO.

           Tenham todos uma feliz Páscoa. 

            Na próxima edição, continuaremos. Tenham todos um feliz final de semana.

Antônio de Almeida Sobrinho tem Graduação em Engenharia de Pesca, UFC, com Pós-Graduação (Lato sensu) em Tecnologia do Pescado FAO/UFRPE; Pós-Graduação (Lato sensu) em Análise Ambiental na Amazônia Brasileira – UNIR/CREA-RO; Pós-Graduação (Lato sensu) em Metodologia do Ensino Superior – UCAM/PROMINAS; Pós-Graduação (Stricto sensu), em nível de Mestrado, em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente – UNIR e escreve periodicamente nos seguintes Portais de Notícias: 


Blogspot: ESPINHA NA GARGANTA

E-mail: almeidaengenheiro@yahoo.com.br

WhatsApp: 69 9 9220-9736

 

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