Quarta-feira, 17 de abril de 2019 - 14h02
RESGATE HISTÓRICO
Será que tem algum terráqueo que não
tenha medo da morte?
Você já viu alguém falar que já esteve entre
a vida e a morte?
Nesta série de relatos que estamos
mostrando para nossos amigos leitores que nos leem assiduamente a ESPINHA NA
GARGANTA, estamos apresentando nesta oportunidade este fato pitoresco e um
tanto quanto bizarro, no formato de RESGATE HISTÓRICO, com o seguinte teor:
DESTINO DA VIAGEM
Manhã de inverno amazônico, céu de brigadeiro, com
poucas nuvens, com prenúncio de um sol forte, em pouco tempo, 2 de setembro,
ano de 1980, saída da cidade de Porto Velho, 8h:30 min para o Museu da Estrada
de Ferro Madeira Mamoré, E.F.M.M —, local de embarque, com destino à área
encachoeirada entre a Cachoeira de Santo Antônio e Cachoeira do Teotônio, onde
foram construídas as obras da UHE Santo Antônio Energia S.A, em atendimento à
programação da então ASTER-RO, hoje EMATER-RO, para realização de uma Reunião de
Pescadores, na comunidade pesqueira de Jatuarana, contígua à cachoeira do
Teotônio, como parte do cronograma mensal de reuniões nas comunidade de Nova
Vida, Santo Antônio, Trata Sério, Auxiliadora e Jatuarana, no total de duas
reuniões por mês em cada comunidade artesanal assistidas pelo Programa de
Extensão Pesqueira da ASTER-RO, em convênio
de cooperação técnica entre SUDEPE (extinta) e Governo de Rondônia.
MEIO DE TRANSPORTE
Tendo como meio de transporte uma
robusta Lancha de Fibra de Vidro, RONANDO BRAZ, com 4 bancos estofados e
direção mecânica, acoplada com um motor de Popa 75, de Marca Johnson, a
gasolina e óleo 2 tempos, tendo como piloto o Senhor MESQUITA DA SILVA, experiente
e respeitado piloto de lancha da ASTER-RO, de etnia indígena, com a altura de
1,60 metro, colocado à disposição de nosso convênio por conhecer bem os perigos
e as dificuldades em pilotar em áreas encachoeiradas, tendo como exemplo as
águas do rio Madeira e seus riscos de morte.
MESTRE DAS ÁGUAS
Desta vez o nosso Mestre das águas
nos aprontou um susto, até então não vivenciado, se esqueceu em reabastecer o
tanque de gasolina ou por excesso de experiência, deu um ‘golpe de vista’
acreditando ele que o reservatório de gasolina, conhecido como corote, teria
combustível suficiente para reabastecer o tanque do motor, caso fosse
necessário ou em caso de uma emergência.
COMUNIDADE JATUARANA
Logo ao ultrapassar a cachoeira de
Santo Antônio, após nossa ida, e navegar durante uns doze minutos em baixíssima
velocidade para passar de tangente em outras comunidades pesqueiras para
entregar “Convites de Reuniões” para
outras reuniões em comunidades vizinhas da área encachoeirada como: Nova Vida,
Santo Antônio, Trata Sério, na margem esquerda do rio Madeira e, depois, na
comunidades Pesqueira de Auxiliadora — à margem esquerda do maior afluente do
rio Amazonas, de sua margem direita, e,
depois, seguindo em direção a cachoeira do Teotônio, ao lado da comunidade de
Jatuarana, o motor falhou e, em seguida, parou de funcionar e se constatara que
o combustível havia sido consumido, se acabara, e para nossa maior surpresa o vasilhame
estaria vazio.
SUOR DE LÁGRIMAS
O pânico foi total. Não houve
lágrimas porque o susto que tivemos aqueceu nossos rostos e a água pronta para se
transformar em gotas de lágrimas se transformaram em suor e gotejaram pelos
poros e haja aquela suadeira em todos os quadrantes dos corpos, com a
contribuição do sol que começara a aquecer, esquentar e a clarear o palco
daquele cenário que a natureza preparara, instintivamente, para que a natureza viva
assistisse com nitidez e com os olhos bem arregalados de espanto e emoção os
semblantes de dois navegantes errantes fracassados e com uma forte recarga de medo
da morte, com excesso de experiência e ausência de combustível, insumo essencial
para superar as aflições naqueles momentos de dificuldades.
PERDER AS ESTRIBEIRAS
Aí eu nós vimos dois homens calmos perderem as
estribeiras. Nesta hora, até o mais forte guerreiro treme na base, se
transforma em ferrenho devoto de todos os santos possíveis e imagináveis, mesmo
que seja um evangélico fervoroso e radial, foi naquele momento em que vimos a nossa
lancha voltando através da correnteza nas águas revoltas e zangadas do rio
Madeira e em termos a certeza que não teríamos mais do que dez minutos para que
caíssemos no tombo da corredeira: passamos
a ter convicção de que até para salvarmos nossas almas teríamos que ter tempo
para rezar e pedir perdão a Deus — e a todas as demais divindades possíveis — ao
menos dos mais recentes pecados praticados.
MOMENTO ÍMPAR
Momento crucial e ímpar em toda a
minha existência e de atuação profissional, em água, em terra e no ar, por onde
tivemos que andar e trabalhar.
PERDER PARA O PÂNICO
Foi nesta hora que vi pela primeira
vez a aflição perder para o pânico; a
sensação do adeus perder para o medo da morte e passar a sentir uma sensação de
um misto de desespero, pânico e em ver a cara da morte.
O que teríamos o que fazer nesta
hora? Após tanta vivência nesta área, com tantas dificuldades para se assistir
tantas famílias carentes e lembrei-me de uma passagem da Bíblia sagrada,
segundo Eclesiastes 3: 1-3 que fala:
TEMPO PARA TUDO:
3 “Tudo
tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo de céu:
2 Há
tempo de nascer, e tempo de morrer;
tempo de
plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 Tempo
de amar, e tempo de curar:
Tempo de derribar, e tempo de edificar ...
Nós nascemos, crescemos e aprendemos
que a única certeza que nós temos é que todos nós temos o nosso dia, a nossa
hora certa, e ninguém sabe o lugar. Passou de tudo por minha cabeça: eu com o
meu filho primeiro filho recém-nascido, com apenas 4 dias de nascido, RODRIGO
TASSO, havia nascido no dia 29 de agosto último, e nestas horas o pensamento
primeiro é para o filho, e, depois, vem o resto. Depois, em pensei em gritar
por um socorro, nas águas encrespadas e profundas do rio Madeira. Como única
alternativa e em desespero, comecei a gritar: Socorro!!! Socorro!! Urgente!!!
Vamos cair no tombo!!!. Nestas alturas do desespero, o nosso piloto experiente
com toda a sua competência nos olhava, passivamente, e eu pensei bem rápido,
imaginei que ele estivesse fazendo alguma oração e falei com os meus botões: -
- Oh! mestre piloto!!! se estás a rezar
ou orar, nos inclua também em suas preces e peças a Deus perdão pelos seus e
pelos nossos pecados. Nesta hora, todos procuram agir com rapidez e humildade e
decidi, num piscar de olhos, mais uma vez pedir para que ele nos incluísse em
suas súplicas, ao utilizar a sua fé.
De súbito, fomos surpreendidos por um
forte gritou, com muita veemência, bravura e intensidade, partindo do próprio
piloto, ao meu lado, exigindo que eu gritasse ainda mais alto.
Enquanto o piloto bradava em alto e bom
som exigindo que eu gritasse, eu continuava me esgoelando, de braços soltos,
ainda mais alto, pedindo socorro de algum filho de Deus que por obra divina
estivesse nos ouvindo ou que estivesse em áreas adjacentes, como forma de nos
livrarmos do tombo do salto da cachoeira de Santo Antônio, como única forma de
sobrevivência.
Vamos gritar em dupla voz. Gritamos
ainda mais alto. Bradamos no último volume como últimas esperanças.
OBRA E MILAGRE DE DEUS
Por obra e milagre de Deus, sopro do Divino Espírito Santo, surge de súbito uma lancha com dois pescadores que nos jogaram uma pesada corda e nos arrastaram para fora das corredeiras e nos abasteceram com combustível e doaram água gelada, sombra e repouso que nos deram um sopro de vida para podermos estar contando esta pequena história, que tivera tudo para ter um fatídico final, porém, com as graças de Deus, tivemos um final feliz.
ele tem tanta convicção
Como seria o
tombo na cachoeira do Santo Antônio.
Entre
a aflição e o desespero, percebeu-se que não teríamos mais do que 5 minutos
para nos livrarmos do tombo da cachoeira do Santo Antônio, com um histórico de
centenas de mortes de ex-apenados que cumpriam penas, e que tentavam fuga para
se livrar do Presídio de Santo Antônio ou de ousados e afoitos que se aventuraram
a passar naquelas corredeiras — nesta Ilha de Santo Antônio — que fora por um
longo tempo, desde o ex-Território Federal do Guaporé, ex-Território Federal de
Rondônia e, depois, Estado de Rondônia — como Cadeia Pública de Porto Velho e sem
acesso ou a passagem de pequenas e médias voadores ou lanchas conduzidas com
motor Rabeta ou com motor de popa qualquer, com baixa potência.
Na próxima edição, continuaremos
esta série de RESGATE HISTÓRICO.
Tenham todos uma feliz Páscoa.
Na próxima
edição, continuaremos. Tenham todos um feliz final de semana.
Antônio
de Almeida Sobrinho tem Graduação em Engenharia de Pesca, UFC, com
Pós-Graduação (Lato sensu) em Tecnologia do Pescado FAO/UFRPE; Pós-Graduação
(Lato sensu) em Análise Ambiental na Amazônia Brasileira – UNIR/CREA-RO;
Pós-Graduação (Lato sensu) em Metodologia do Ensino Superior – UCAM/PROMINAS;
Pós-Graduação (Stricto sensu), em nível de Mestrado, em Desenvolvimento
Regional e Meio Ambiente – UNIR e escreve periodicamente nos seguintes Portais
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ESPINHA NA GARGANTA
E-mail: almeidaengenheiro@yahoo.com.br
WhatsApp: 69 9 9220-9736
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