Terça-feira, 31 de março de 2015 - 06h44
Antônio de Almeida Sobrinho
Exemplar da espécie pirarucu (Arapaima gigas, SHINZ, 1822) com 18,5 kg, reproduzido e criado na piscicultura do Sr. Francisco de Souza Martins, Colorado D’Oeste-RO.
A espécie pirarucu (Arapaima gigas, SHINZ, 1822) é conhecida e renomada por criar o maior peixe de água doce do Brasil podendo atingir 3,0 metros de comprimento e até 250 kg, sendo encontrado nos principais rios da bacia Amazônica, conhecido como o bacalhau da Amazônia.
O nome pirarucu é de origem indígena (tupi), como os significados: pira = “peixe” e urucum = “vermelho” devido à cor de sua nadadeira caudal.
A piscicultura do Sr. Francisco de Souza Martins não tem objetivos econômicos e vem prestando um relevante serviço social à comunidade do entorno de sua propriedade, ao considerar que a criação de peixes é praticada de forma artesanal, sem sofisticação e sem recomendações técnicas e apesar de todas as dificuldades — até por ser uma atividade secundária, sendo a pecuária de corte a principal —, este vem se superando a cada ciclo de produção, ‘sem lenço e sem documento’, sem assistência técnica do Governo, exceto alguns conhecimentos adquiridos através da Escola Agrotécnica Federal de Colorado D’Oeste.
Cada amigo e vizinho do Sr. Francisco que o visita em sua residência-piscicultura, no dia-a-dia, compra-lhe um ou mais exemplares da espécie pirarucu, tambaqui ou carpa, dependendo da preferência do cliente-amigo, e a captura pode ser realizada na hora, por membros de sua família, podendo o produto ser entregue com o peixe ainda vivo ou beneficiado, enquanto outros preferem realizar o abate e o beneficiamento conjunto, em casa, ao preparar a refeição com os membros de sua família.
Exemplar da espécie tambaqui (Colossoma macropomum, 1818,
com 8,0 kg, criado na piscicultura do Sr. Francisco de Souza Martins,
Colorado D’Oeste-RO.
Sempre que realizamos este tipo de trabalho, de visita, em visita ‘in loco’, em cada propriedade rural aprendemos muito com os produtores rurais e temos muito a lamentar em não termos forças para ajudar mais a equacionar os maiores problemas e dificuldades do produtor rural-piscicultor — uma vez que este é um trabalho que não envolve o poder público, exceto em casos especiais — quando convocados para participar de ações conjuntas com apoio financeiro do Sistema OCB/SESCOOP-RO, na pessoa do seu presidente Salatiel Rodrigues de Souza, e do Conselho Regional de Engenharia e Agrononia – CREA-RO, na pessoa de seu presidente Nélio Alencar, sempre preocupado com os rumos da aquicultura no estado de Rondônia, e a generosidade da CEPLAC, na pessoa do seu Superintendente Cacildo Viana, que tem contribuído com apoio logístico, como transporte e motorista, em apoio à piscicultura de Rondônia.
Perfil da piscicultura em viveiro de barragem
do município de Colorado D’Oeste-RO.
PIRARUCU, SEGUNDO À LENDA
De acordo com a lenda, o pirarucu era um jovem índio guerreiro da tribo dos Uaiás e habitava as planícies Sudoeste da Amazônia. Como um bravo guerreiro, tinha um grande defeito: possui o instinto perverso, a exemplo de alguns humanos, mesmo sendo filho e herdeiro de Pindarô, de coração bom e, também, chefe da tribo.
Na concepção da cultura tradicional das populações ribeirinhas, em determinadas comunidades pesqueiras da bacia amazônica, esta lenda continua viva e é preservada de pai para filho, de geração em geração.
Atendendo sugestões de amigos e leitores para que esta Coluna falasse sobre este tema tão polêmico, estamos transcrevendo um texto de um escritor desconhecido por este escriba sobre a lenda do pirarucu. Por questão de respeito e de preservação à obra do autor, estamos transcrevendo, na íntegra o texto que nos foi remetido, com o seguinte teor:
“A lenda do Pirarucu teve sua origem nas águas amazônicas. O Pirarucu é um dos maiores peixes de escama do Brasil. E para explicar sua origem os índios costumam contar a seguinte lenda. O Pirarucu era um índio guerreiro da nação dos Nalas e que este jovem índio era muito valente e muito orgulhoso, vaidoso e injusto e gostava de praticar a maldade. Foi então que o Deus Tupã resolveu castigá-lo por todas as suas maldades e pediu a Deusa Luruauaçu que fizesse cair uma grande tempestade e assim aconteceu. Uma forte chuva caiu do céu sobre a floresta de Xandoré, o demônio que odeia os homens começou a mandar raios e trovões tornando a floresta toda eletrizada pelos fortes relâmpagos e o forte guerreiro chamado de Pirarucu encontrava-se na hora da chuva caçando na floresta e tentou fugir, mas não conseguiu, vencido pela força do vento caiu ao chão e um raio partiu uma árvore muito grande que caiu sobre a cabeça do jovem guerreiro, achatando-lhe totalmente. O jovem guerreiro teve seu corpo desfalecido, carregado facilmente pela enxurrada para as profundezas do rio Tocantins, mas na floresta Xandoré o Deus Tupã ainda não estava satisfeito e resolveu transformá-lo aplicando-lhe um castigo severo e transformou o jovem guerreiro num peixe avermelhado de grandes escamas e cabeça chata e é este peixe Pirarucu que habita os rios da Amazônia”.
PENSAMENTO DA SEMANA
Eu venho ultimamente pensando, mais do que antes, e fazendo os cálculos e avaliando o sistema de tecnologia que a atividade da piscicultura vem sendo conduzida e desenvolvida no estado de Rondônia:
• como atividade técnica-econômica, a piscicultura passa, necessariamente, pelo viés político. Quando bem gerenciada, todos os elos do sistema saem lucrando;
• quando ocorre o contrário, como agora, a corda sempre quebra no lado do mais fraco e o produtor-piscicultor que investiu e acreditou na palavra do político fica chupando o dedo e com todo o prejuízo, enquanto os responsáveis arrumam suas malam e somem de Rondônia.
Antônio de Almeida Sobrinho tem Graduação em Engenheiro de Pesca e Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
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