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Antônio de Almeida

PÓS-CHEIA DO RIO MADEIRA: GRITO DE DESESPERO DOS DESABRIGADOS


PÓS-CHEIA DO RIO MADEIRA: GRITO DE DESESPERO DOS DESABRIGADOS - Gente de Opinião

                                                                                           

█ Alguns bairros da cidade de Porto Velho e de seus Distritos vivenciam o desolador período da pós-cheia do rio Madeira — que na opinião de muitos ribeirinhos estes são os piores momentos de suas vidas e deste período da polêmica e mais volumosa cheia de todos os tempos do maior afluente do rio Amazonas, de sua margem direta e acenam para o Prefeito de Porto Velho, Dr. Mauro Nazif, conforme texto e imagem acima, ilustrando o grito de desespero dos desabrigados com a cheia do rio Madeira.

█Ao contrário de todos os regressos anteriores ao lar, em enchentes passadas, desta vez o voltar pra casa, na opinião da maioria de ribeirinhos entrevistados, este momento vivenciado está sendo o pior de todos e para todos: o reencontro com a destruição, com a desolação, com as perdas materiais, ao ver  e constatar que tudo o que sobrou em sua residência não vale mais nada, quando o estado de sua casa é deplorável e indescritível, com uma camada de lama no assoalho, nas paredes e parte da mobília é irrecuperável, misturado com os escombros, lamaçais, peixes e outros animais pútridos,  se assemelhando a um pós-tsunami.

█ Na opinião de entrevistados, o momento mais crucial e doloroso de todo este pesadelo com a enchente do rio Madeira é o voltar para casa, o de ter que conviver e aceitar o semblante de espanto e de decepção estampados nas faces de todos os membros de sua família, sem falar sobre o inconformismo de todos, da tristeza, da preocupação, da dúvida, com cara de incerteza, se a classe política irá cumprir com as promessas de indenização dos prejuízos materiais, porque se seguirem os caminhos e tomarem os rumos das anunciadas em palanques todos estarão no mato sem cachorro, pois até aquele de estimação morreu afogado no meio das correntezas e, por certo, esteja procurando o gato e o papagaio criados como filhos da família que até a presente data ainda não foram encontrados, entre os escombros e destroços de bens materiais e de animais mortos.

█ Nas entrelinhas das entrevistas e diálogos com algumas das vítimas da cheia do rio Madeira, se pode filtrar: a incerteza com o dia de amanhã que, também, deverá ser sem nenhum horizonte, com a escassez de alimentos para alimentar a família e sem perspectivas de dias melhores, pois tudo que plantou na terra as águas consumiram: o pomar está sem frutas, os peixes estão comprometidos e se constituem em grande risco alimentar a família com um alimento duvidoso, quando se sabe que o risco de doenças endêmicas é muito grande, especialmente a leptospirose, proveniente da contaminação com a bactéria (Leptospira) que se aloja nos rins do rato e é expelida através da urina.

█ A Leptospirose é uma doença infecciosa que tem como agente de contágio uma bactéria cujo nome científico é Leptospira, presente na urina dos ratos e pode ser transmitida ao ser humano através das águas de enchentes — como estas a que estamos vivenciando com a cheia do rio Madeira. Segundo afirmações de médicos que atuam com este tipo de doença, os bovinos, os suínos, os cães e gatos, também, podem ser contaminados com a Lepstopirose e passar esta doença para o homem.

█ Os principais sintomas da Leptospirose são:febre, dor de cabeça, dores no corpo, dores fortes nas panturrilhas (batatas-das-pernas), com vômitos, diarréias, tosse, insuficiência renal, hepática, respiratória, hemorragias, meningite e podendo levar à morte.

█ Se não bastasse à queda, o coice, como muito bem ensina o adágio popular. Além do sofrimento de sua família — com o desconforto em permanecer por um período de quase dois meses em abrigos improvisados, sob tendas e barracas de lona, em condições sub-humanas, e em casas de parentes e amigos, surge, agora, o momento de se deparar com a desolação, na hora da avaliação dos prejuízos e dos danos materiais, numa verdadeira constatação de avaliação do antes e do depois, rever a situação de casa, único patrimônio da família, e encontrá-la em estado de decomposição, perda do pomar, da lavoura, do rebanho bovino, de pequenos animais, implementos agrícolas e ao saber que o cachorro, o gato e até o papagaio de estimações se foram no rebojo das águas encrespadas e revoltadas do rio Madeira.

█ O nível das águas do rio Madeira vem a cada dia baixando uma média de 12 cm, nos últimos cinco dias, e nesta sexta-feira chegou a baixar 17,0 cm, mas, mesmo assim, as águas ainda continuam transbordando, isto é, estão fora de sua calha natural, e muitas famílias ainda não podem voltar para rever suas casas, enquanto outras, já estão convivendo e vivenciando a segunda fase do pesadelo, o de fazer a limpeza e sofrendo com o momento da volta ao lar e com o reencontro com o lar — o momento M de se deparar com o atual estado de desolação.

█ Para a maioria dos entrevistados, só resta agradecer a Deus pela manutenção da vida de sua família e pela fé que alimenta a esperança de dias melhores que virão para todos os demais parentes e amigos mais próximos, afetados, direta e indiretamente, com a cheia do rio Madeira e esperar pela vontade dos políticos que não se sabem quando serão atendidos para recuperar parte dos prejuízos.   

█ Se a avaliação da administração do Prefeito de Porto Velho estava muito complicada, por ausência de recursos financeiros e escassez de pegada da equipe que compõem o secretariado do Prefeito Mauro Nazif, agora, se acredita que a cobra irá fumar o cachimbo que o satanás recusou de fumar e tudo caminha para que as coisas se possam complicar mais ainda, pois não temos dúvida de que para atender, a contento, as necessidades da população vitimada com a cheia do rio Madeira serão necessárias de uma boa soma de recursos financeiros, num volume bem considerável, quando muitos estimam na ordem de R$ 4 a 5 bilhões de reais.

█ Para atender as mais prementes e urgentes necessidades das vítimas da cheia do rio Madeira, requer o empenho pleno e a máxima dedicação de todas as equipes de trabalho da Prefeitura de Porto Velho. Para tanto, requer, também, muita  disposição para trabalhar, diuturnamente, de todos os envolvidos, direta e indiretamente, em todas as fases que compõem o período da pós-cheia do Madeira.

█ Neste sentido, se tornam necessários: remoção e limpeza da sujeira e da lama das principais artérias, ruas e avenidas dos centros urbanos atingidos pelas águas; limpeza, desobstrução, esterilização de residências e do desentupimento e limpezas de bueiros e canais de drenagem de águas superficiais e subterrâneas da cidade.

█ Para equacionar os principais problemas da pós-cheia, os responsáveis diretos em reparar estes danos acarretados com as águas das enchentes têm que considerar que o somatório dos prejuízos materiais e dos danos com moradias e outros podem chegar a bagatela em torno de R$ 5.000.000,00 (Cinco bilhões de reais), segundo levantamentos preliminares e projeções feitas para minimizar e indenizar os prejuízos causados com a polêmica cheia que inundou alguns bairros e centro de Porto Velho e deixou debaixo d’água centenas de comunidades ribeirinhas da bacia hidrográfica do rio Madeira e de seus Distritos. 

PENSAMENTO DA SEMANA

A Prefeitura de Porto Velho, através de mutirão formado com todas as Secretárias e em parcerias com os demais organismos governamentais não-governamentais, tem que participar da limpeza e desinfecção de residências, custe o que custar, sob pena de transformar a população afetada com a cheia do rio Madeira em vítimas de leptospirose e de outros tipos de doenças endêmicas da Amazônia brasileira.

Antônio de Almeida Sobrinho é graduado em Engenharia de Pesca e Analista Ambiental , Pós-Graduação em Tecnologia do Pescado, com  Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

E-mail: almeidaengenheiro@yahoo.com.br (69) 9919-8610 e (69) 8111-9492

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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