Sábado, 1 de dezembro de 2018 - 07h38
O tempo é realmente o “senhor da razão” e
sempre foi e continuará sendo o melhor contador de histórias: daquelas que
deixam saudades, que fazem muita falta e nos fazem analisar, refletir e
concluir que o trabalho materializa épocas, consagra ideias e não resta outra
saída senão o de tentar repetir tudo outra vez.
Como
tudo começou? Com a advento dos primeiros trabalhos de pesca e piscicultura, no
então Território Federal de Rondônia, nos idos de 1978, através da ASTER-RO,
hoje EMATER-RO, uma equipe de cinco (5) Engenheiros de Pesca se emprenharam nas
trilhas das Comunidades Pesqueiras Tradicionais ribeirinhas e navegaram dias e
noites nos principais rios e tributários da bacia hidrográfica do então
Território Federal, com o objetivo de prestar assistência aos principais
pescadores da região, nos aspectos técnicos e sociais.
Por um lado, um equipe composta por
profissionais Engenheiros de Pesca, recém graduados e contratados pela então
ASTER-RO, através do então Governo do Território Federal de Rondônia, egressos
da UFC, do estado do Ceará, enquanto, por outro, uma equipe de assistentes
sociais faziam os atendimentos as esposas e aos familiares dos pescadores
ribeirinhos.
Durante
muitos anos, desenvolveu-se um trabalho em dotar as principais comunidades
pesqueiras ribeirinhas de Rondônia de um Sistema de Infraestrutura, sob o título
de: “Unidades Produtivas Comunitárias para Processamento de Pescado, compostas
por: i) Salgadeira Artesanal; ii) Mesas para Beneficiamento do Pescado; iii)
Tanques-de-cura; iv) Secador Solar; v) Defumador Metálico Indireto; vi)
Defumador de Alvenaria Indireto; vii) Estendais e seguidos de centenas de
Cursos de Tecnologia do Pescado, sob os títulos de: Conservação e
Beneficiamento do Pescado; Aproveitamento Artesanal de Desperdícios do Pescado
e Culinária Regional à Base de Pescado.
Estas Unidades Produtivas foram instaladas
nos seguintes municípios:
·
PORTO
VELHO: Na então Cachoeira do Teotônio, junto à Comunidade Pesqueira de
Jatuarana, e no então Lago do Cuniã, hoje Reserva Extrativista Lago do Cuniã – CNPT-RO/IBAMA-RO,
hoje ICMbio;
·
GUAJARÁ
MIRIM: Distrito de Surpresa, em parceria com o IBAMA-RO/CNPT-RO.
Durante
vários anos foram desenvolvidos dezenas de significativos Cursos de
Qualificação Técnica — trabalhos de tecnologia do pescado, tendo como objetivo
capacitar um contingente de pescadores e familiares sobre as técnicas de
beneficiamento e conservação do pescado — tudo isso impulsionado pela excessiva
oferta de pescado proveniente de nossos rios e tributários e a fim de oferecer
as famílias de pescadores ribeirinhos, residentes em comunidades isoladas, sem
energia elétrica e sem infraestrutura para beneficiar sua produção de pescado, tecnologia
de pesca, do pescado e gerencial para verticalizar e conservar sua produção
diária de pescado a fim de conservar por longos períodos.
Hoje,
decorridos 40 anos, aquela fartura de peixes, quando capturávamos peixes com as
mãos e até com o chapéu, nos rios e tributários de Rondônia não existem mais,
tudo passou e tudo acabou. E, agora, você?
Parafraseando
o velho Drummond de Andrade: e, agora, João? O rio ainda existe, e o peixe onde
está? Com o anzol na mão, quer pescar o peixe, mais o peixe não há. E, agora, João?
Agora,
o quadro se inverteu e os peixes de nossos rios sumiram, vítimas da pesca
predatória e do próprio tempo que se encarregou em dizimar os estoques
pesqueiros que nadavam contra as correntezas em busca de alimento e de se
defender de densos cardumes de peixes carnívoros e de atividades antrópicas que
também contribuíram para que tudo isto ocorresse.
Com o
surgimento e o desenvolvimento da atividade da piscicultura, em nível estadual,
o estado de Rondônia se transformou no segundo maior polo produtor e exportador
de pescado do Brasil, e, assim, atingindo o topo da produção de pescado como o
maior produtor mundial de tambaqui (Colossoma
macropomum,
Cuvier, 1818) e de pirarucu (Arapaima
gigas, SHINZ), uma posição
de destaque que enche de orgulho o setor primário e a nossa atividade aquícola.
“Com o
anzol na mão e peixes não hão”.
Desde que se iniciaram os primeiros trabalhos de pesca e
aquicultura no então Território Federal de Rondônia e, depois, no atual estado
de Rondônia, que diagnósticos e prognósticos e demais relatórios foram feitos e
revelados sobre vários aspectos, obedecendo
necessariamente esta ordem:
PRIMEIRO DIAGNÓSTICO: Em 1978, com o início dos trabalhos de
piscicultura em Rondônia, afirmou-se que no prazo de até 20 anos 60% dos
igarapés do então Território Federal de Rondônia estariam mortos, vítimas do
desmatamento ciliar, das queimadas e de
construção de diques e de barragens em locais impróprios. Este texto foi
inserido no Diagnóstico Ambiental da Pesca, Piscicultura e Extrativismo de
Rondônia.
CONSTATAÇÃO: Se fossem realizados diagnósticos ambientais
criteriosos para se detectar os verdadeiros motivos da morte de nascentes e de
igarapés em toda malha hidrográfica do estado de Rondônia — com certeza, cerca
de 70 a 80% já não mais existem, tendo como responsáveis diretos:
·
o próprio Governo do Estado
que facilitou a implementação de centenas de pequenos e médios projetos de
piscicultura, em desacordo com a legislação ambiental vigente, a fim de
facilitar a situação dos eleitores, em diversos níveis;
·
os proprietários de terras,
os agricultores e os piscicultores que não vem cumprindo seus compromissos
ambientais e vem atuando na contramão dos dispositivos constitucionais
ambientais, com os Relatórios de Monitoramento Ambientais (RMA) vencidos e com
Licenças Ambientais não renovadas;
·
a omissão de determinada Empresa
de Consultoria e de prestadores de assistência técnica que só se preocupam em
lucros imediatos e acabam por deixarem sempre
seus clientes a ver navios;
·
o descaso do poder público
— aí estão inclusos os poderes municipal, estadual e federal em não cobrar com maior rigor os monitoramentos
dos licenciamentos ambientais, em todos os níveis das atividades primários e,
em especial, daquelas que se utilizam dos recursos hídricos;
·
A negligência do Governo
Estadual que tem a incumbência em prestação de ATER – Assistência Técnica e
Extensão Rural em piscicultura, através da EMATER-RO, e por falta de pessoal,
em quantidade e em qualidade, se omite ou faz de conta que faz e — quando
presta a demandada assistência técnica —, não atende plenamente as necessidades
que a atividade aquícola requer.
Seria como dotar os
hospitais do Estado de profissionais com formação em Enfermagem para responder
como médicos no atendimento dos pacientes.
SEGUNDO DIAGNÓSTICO: Em 1991, quando da elaboração e publicação
do Sistema de Produção para Criação de Tambaqui no Estado de Rondônia, se
afirmou que o estado de Rondônia tem uma verdadeira inclinação para a
piscicultura e tem tudo para se tornar o maior polo produtor e exportador de
pescado do Brasil.
CONSTATAÇÃO: Após 27 anos desta afirmação, o estado de Rondônia
se transformou no maior produtor de pirarucu (Arapaima gigas, SHINZ, 1822) e tambaqui (Colosssoma macropomum, Cuvier,
1818) mundial, e o segundo maior produtor de pescado no ranking nacional, com
uma produção em torno de 90 mil toneladas de pescado, safra 2016/2017, de
acordo com projeções do Governo.
RONDÔNIA URGENTE
Contingente de piscicultores e interessados que se
qualificaram em aquicultura em Rondônia.
O estado de Rondônia se ressente de um trabalho voltado para a
qualificação profissional, no âmbito da tecnologia do pescado, capaz de levar
tecnologia do pescado para o setor produtivo aquícola, em nível Estadual.
Neste sentido, estamos trabalhando para oferecer alternativas
tecnológicas em todos os níveis, municipal, estadual e federal e, assim,
oferecer uma gama de tecnologia pesqueira, do pescado, aquícola e gerencial, a
curto e médio prazos, para que o setor produtivo pesqueiro possa dispor de
alternativas múltiplas para:
·
estimular e viabilizar a
implementação de agroindústria para beneficiamento e conservação do pescado, em
nível da propriedades rurais e de fazendas aquícolas;
·
promover a qualificação
técnica em beneficiamento, salga, secagem e defumação do pescado e, assim,
viabilizar a verticalização do pescado;
·
dotar as propriedades
rurais e aquícolas de infraestrutura para desenvolver a verticalização da
produção de pescado, com maior aproveitamento de matéria prima e incremento na
receita líquida familiar;
·
oferta de proteína de pescado à população — no
sistema de pescado beneficiado, nos moldes peixe sem espinha, picadinho de
pescado e introdução desta proteína na merenda escolar;
·
aproveitamento de
desperdícios para o fabrico de ração para pescado e outros animais;
·
incentivar o consumo de pescado, em nível
regional e nacional;
·
agregar valor ao produto e
oferecer maiores receitas para o piscicultor.
CONSTATAÇÃO: É difícil para todos nós profissionais que deram os primeiros
passos na piscicultura em Rondônia se constatar que:
Elo da corrente mais frágil.
·
de todos os elos da
corrente que compõem a atividade da piscicultura em Rondônia a figura do
piscicultor — é na verdade o ELO DA CORRENTE mais frágil, e é aquele que mais trabalha e é o mais
fragilizado e é o que menos é remunerado;
·
quem está criando peixe no
estado de Rondônia não tem o domínio sobre as técnicas de conservação do
pescado;
Tambaqui sem espinha.
·
quem produz o pescado em
Rondônia não dispõe de infraestrutura técnica para beneficiamento e conservação
do pescado;
·
quem produz o pescado em
Rondônia está nas mãos dos intermediários e estes últimos são beneficiados com
o maior percentual do lucro da produção;
·
que o Estado na condição de
um péssimo gestor da coisa pública não oferece meios para mudar o atual quadro de
penúria e esta situação tende a se agravar, continuamente;
·
que a EMATER-RO, agora como
autarquia governamental e o braço direito do Governo de Rondônia junto aos
serviços de ATER — único órgão responsável pela extensão rural e prestadora de
serviços de extensão aquícola – assistência técnica sobre piscicultura, nos 52
municípios de Rondônia — que desenvolvem a atividade de criação de peixes, não
dispõe de profissionais com formação em Engenharia de Pesca em número
suficientes para atender a demanda insatisfeita por tecnologia de ponta —
adequada e em níveis satisfatórios para suprir as necessidades dos setores
produtivos;
· que um significativo contingente de profissionais graduados em Engenharia de Pesca, egressos da Fundação Universidade Federal de Rondônia — UNIR, em torno de 30 EP, aptos e ociosos, poderiam ser contratados através do Novo Governo que se instala a partir de primeiro de janeiro de 2019, a fim de suprirem as necessidades prementes em todos os 96 Escritórios da EMATER-RO, em operação em todos os municípios e principais Distritos de Rondônia, através de um Edital Emergencial, a exemplo do + MAIS MÉDICO, que está ocorrendo em nível nacional.
Em termos comparativos, a importância das proteínas do pescado se equiparam a de outros produtos de origem animal, no que tange a aminoácidos, além de conterem todos os que são considerados essenciais, a exemplo da valina, alanina, lisina, isoleucina, metionina, treonina, triptofano, histinina, fenilalanina e leucina.
PAPEL DO PESCADO NA DIETA HUMANA
Culinária regional à base de tambaqui na brasa.
Quando
se refere aos componentes químicos do pescado, lembra-nos o alto valor
biológico de suas proteínas. Apesar de
conhecermos os constituintes mais importantes encontrados no alimento,
provenientes do músculo do pescado, pode-se, também, citar outros elementos de
menores importâncias, porém, vitais para uma boa alimentação, tais como:
Como
produto rico em sais minerais, vitaminas e gorduras, o pescado é considerado
como alimento de alto valor nutritivo para as diversas fases da vida, passando
pela infância, adolescência, maturidade e a velhice.
Antônio
de Almeida Sobrinho prestou consultoria técnica junto aos seguintes organismos
nacional e internacional:
·
CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico — de 1998 a 2000, na condição de
Consultor DTI, junto ao Governo do Estado de Rondônia e responsável técnico por difusão de
tecnologia do pescado, em nível Estadual;
·
PNUD – Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento — de 2000 a 2002, na condição de Consultor
Técnico, junto ao CNPT/IBAMA, com relevantes serviços prestados a vários estados
da Região Norte, com destaques para Rondônia, Acre e Amazonas.
_____________________________________________________________________
Antônio
de Almeida Sobrinho é graduado em Engenharia de Pesca (UFC-CE); Pós-Graduação
em Tecnologia do Pescado (Lato sensu) pela
(FAO/UFRPE e MAPA); Pós-Graduação (Lato sensu) em Análise Ambiental na
Amazônia Brasileira pela (UNIR/CREARO); Pós-Graduação (Lato sensu) em
Metodologia do Ensino Superior – UCAM-MG (Conclusão) e tem Pós-Graduação
(Stricto sensu), em nível de Mestrado, em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente pela (UNIR).
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