Rondônia, que já foi destaque na mídia nacional com a memorável “Bancada do Pó”, volta agora ao noticiário – claro que mais discretamente, posto que os mensaleiros já trilham o mesmo caminho - com a instituição da “Bancada da Cana” – todo o mundo em cana, de senador, deputado federal e deputado estadual a vereadores. E a representação do legislativo rondoniense ainda pode ser ampliada. O que, acalmem-se os apressados, não deve demorar muito.
Em Brasília, alguém sugere preventivamente a construção de mais um anexo da Câmara para facilitar a vida de parlamentares presos e albergados. Até o nome já foi sugerido: "Presídio dos Papudos”. Enquanto isso, o senador Ivo Cassol se diz inocente e indignado. E anuncia que vai recorrer, para gáudio, folguedo, júbilo, prazer, regozijo e satisfação de seus advogados.
Claro que a tarefa embute um complicador formado por novos processos que estão na fila de espera para julgamento. Pior é que neles o réu não poderá alegar primariedade, o que significa que mais uma condenação poderá levar o ex-governador a deixar a condução de albergado para cumprir a pena efetivamente em cana. E vai continuar a ter a segurança pessoal paga pelo estado, apenas substituindo os Policiais Militares pelos guardas penitenciários.
Enquanto isso, a situação açula grupos de saudosistas, que defendem a candidatura de José Bianco ao Governo. Ele mantém a clássica postura de negar qualquer interesse, mas desfila como candidato, distribuindo sorrisos e tapinhas nas costas. É bom, porém, que alguém o advirta para alguns problemas. O primeiro da lista é formado pelos servidores demitidos. Ao contrário do que imaginam os companheiros de Bianco, nada foi esquecido. O ódio dos atingidos pela degola se estende por gerações. Existe ainda a questão de José Batista, mas isso é assunto para outra oportunidade.
COMENTÁRIO
Engenheiro Lúcio Mosquini – diretor geral do DER
Caro Carlos Henrique: Com relação às obras de restauração da BR 364 estamos mais uma vez pagando o preço da burocracia que impera no serviço publico. As cortes de fiscalização cumprem o seu papel, parabéns. A deterioração das rodovias federais, "buracos", também cumpre o seu papel, ou seja, mata todos os dias no mínimo uma pessoa em todo o país.
Em Rondônia isso não é diferente. Na curva dos noivos em Jaru as mortes são anunciadas, basta uma carreta com carga alta trafegar pela curva com velocidade acima de 50 km/h e o encontro com a morte está marcado. Face aos anúncios fúnebres o Governo de Rondônia, por meio do DER, propôs ao DNIT intervir para eliminar a curva da morte. Mas não obtivemos sucesso ainda. Vamos continuar nessa perseguição, pois nesse momento alguém pode estar em apuros no Km 429 da BR 364.
PORQUE A POPULAÇÃO ODEIA O PT?
Depois de ler “atentamente”, como gostam os políticos, o artigo publicado pelo meu amigo Itamar Ferreira, da CUT que tenta explicar “Porque a elite odeia tanto o PT”, até pensei em responder. Mas não é necessário. Escolhi, aleatoriamente, um dos inúmeros textos que recebo pela internet para fazê-lo. O médico *José J. Camargo resume a resposta em duas palavras: “Indignação reprimida”. Veja o que ele diz:
Todos os que tentam explicar a intensidade crescente do clamor do povo nas ruas, citam fatos e circunstancias, mas há um pasmo geral pela densidade dos protestos que revelam uma demanda de indignação reprimida, a ponto de uma simples revolta pelo aumento do preço de passagens ter servido de gatilho para um movimento que não parece ter data para terminar. O que impressiona mais é a mudança de atitude de um povo que aparentava alienação e que, de repente, se descobriu poderoso e indomável.
Há cerca de três anos, estava em São Paulo esperando um avião para voltar para casa, quando fui surpreendido pela greve dos controladores de voo e assisti estarrecido à naturalidade com que centenas de passageiros, diante da noticia de que não haveria decolagens naquela noite, assumiu a postura de cordeirinhos submissos, e sem mais que uns resmungos inconsequentes, deitaram no chão do saguão do aeroporto de Congonhas, a lamentar sua sorte, conformados e inertes.
Aquele gesto representou para mim o emblemático comportamento de um povo que, desrespeitado nos seus direitos mais elementares, se encolheu como um cão de rua, revelando a perda absoluta de sua incapacidade de indignação. Mas aquilo foi apenas um incidente minúsculo do infindável rosário de atropelamentos de sua já combalida autoestima. Mais estava por vir. E veio.
Depois disso, as denúncias de corrupção inundaram os noticiários, a falta de segurança nos transformou em pigmeus amedrontados, os mais pobres passaram a morrer nas filas de espera por atendimentos nos hospitais sucateados, enquanto se construíam arenas milionárias em cidades onde nunca mais se jogará futebol depois da Copa.
Como a espiral do acinte é ilimitada, se sucederam alguns primores de humilhação: um senador que renunciara temendo ser cassado por corrupção, voltou ao palco do poder para assumir a presidência da casa, deputados condenados no processo do mensalão assumiram postos na Comissão de Constituição e Justiça (!) e, quando se sentiram intocáveis e prestigiados, iniciaram um movimento para reduzir o poder de quem os condenara.
Em nome da governabilidade, que é a justificativa técnica para o que conhece como conchavo, os ministérios se multiplicaram e, até às 17 horas, quando enviei esta coluna, já eram 39. Quando a crise da saúde pública ficou intolerável, os médicos foram convocados para assumir a culpa, porque eles se negavam a trabalhar nos rincões mais remotos do País sabendo que lá não existem hospitais, nem exames elementares, nem medicamentos, e que estariam condenados ao exercício de impotência de assistir às mortes evitáveis.
Diante da negativa, a solução solerte foi anunciar a importação de médicos estrangeiros sem exame de capacitação, quando os bem informados sabem que tudo não passa de uma manobra despistadora para repatriar os companheiros, que incapazes de passar no vestibular no Brasil, foram enviados para um faz de conta de estudar medicina lá fora. E agora estava hora de trazê-los de volta para a pátria amada, idolatrada.
E claro, sem nenhum exame de revalidação, que serviria para desmascarar o arremedo de formação técnica que tiveram. Se não fosse assim, por que se recusar a fazer a prova a que se submetem regularmente todos os estrangeiros que pretendam fazer medicina em outro país? Verdade que o povo mais humilde não lê jornais, mas pela TV, antes da novela das 9, deve ter ficado estarrecido quando anunciaram que o governo brasileiro, no instante em que a economia estagnou e inflação está de volta, anunciou garboso, o perdão de uma dívida de quase um bilhão de dólares aos países africanos.
Com esta sucessão de sandices e desmandos, se acabou atingindo o limite de tolerância. A pressa em consertar os estragos, e o turbilhão de projetos desengavetados (e se eram tão bons porque não foram utilizados antes?) revelam a enorme perplexidade que tomou conta dos nossos "governantes".
Provavelmente o maior erro que cometeram foi ignorar que quem é obrigado a dormir no chão, um dia se levanta com raiva. Muita raiva!
*DR. JOSÉ J. CAMARGO nasceu em Vacaria, em 6 de agosto de 1946. Formou-se na UFRGS em 1970, optando pela cirurgia torácica e completando sua formação acadêmica na Clínica Mayo, nos Estados Unidos. Foi o pioneiro em transplante de pulmão na América Latina, em 1989, tendo realizado cerca de 300 transplantes de pulmão e sendo o único a realizar transplante de pulmão com doadores vivos fora dos Estados Unidos. Foi o idealizador e hoje dirige o Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre, e é Diretor de Cirurgia Torácica no Pavilhão Pereira Filho, também da Santa Casa, tendo realizado mais de 30.000 cirurgias de tórax. Tem centenas de publicações científicas e já proferiu cerca de 900 conferências, em 22 países.