Porto Velho acompanha, profundamente consternada, a tragédia vivida pela família de meu amigo e vizinho, o ex-vereador Professor Mário Jorge. A cidade se une em orações pela recuperação de seu filho, baleado por assaltantes na porta de casa. O crime ocupa amplo espaço no noticiário e nas redes sociais, especialmente pelo sofrimento da família do rapaz, cujo pai é líder sindical e educador de personalidade pacífica, generosa e conciliadora.
A atitude dos bandidos, que confessaram ter sido aquele o primeiro de três assaltos “programados” para aquele dia, provoca revolta e indignação, mas não difere de centenas de outras, que lamentavelmente incorporam a insegurança ao cotidiano portovelhense. Permito-me reproduzir e sugerir, por oportuno, a leitura do texto-desabafo do general Paulo Chagas sobre violência urbana e “liberdade”. Apesar de crer que o combate à criminalidade atual e a investigação de crimes passados não são ações excludentes. Diz ele:
APÓS assistir, nos noticiários de hoje, a mais um relato escabroso do crescente índice de assassinatos de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças, por puro divertimento e pela maldade das gangues organizadas à sombra da impunidade, concluo sobre a hipocrisia da Comissão Nacional da Verdade que se presta a investigar em nome... de “direitos humanos” um passado de quatro décadas, já anistiado, sem enxergar ou importar-se com as desastrosas consequências do ambiente de “liberdade” criado e aperfeiçoado pelos companheiros da luta armada cujos crimes querem esconder.
CABE repetir as perguntas que fiz há algum tempo: Liberdade para quê? Liberdade para quem? Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar? Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas? Falam de uma “noite” que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já dura 27!
FALA-se muito em liberdade! Liberdade que se vê de dentro de casa, por detrás das grades de segurança, de dentro de carros blindados e dos vidros fumê! Mas, afinal, o que se vê? Vê-se tiroteios, incompetência, corrupção, quadrilhas e quadrilheiros, guerra de gangues e traficantes, Polícia Pacificadora, Exército nos morros, negociação com bandidos, violência e muita hipocrisia.
OLHANDO mais adiante, enxergamos assaltos, estupros, pedófilos, professores desmoralizados, ameaçados e mortos, vemos “bullying”, conivência e mentiras, vemos crianças que matam, crianças drogadas, crianças famintas, crianças armadas, crianças arrastadas, crianças assassinadas.
DA JANELA dos apartamentos e nas telas das televisões vemos arrastões, bloqueios de ruas e estradas, terras invadidas, favelas atacadas, policiais bandidos e assaltos à mão armada. Vivemos em uma terra sem lei, assistimos a massacres, chacinas e sequestros. Uma terra em que a família não é valor, onde menores são explorados e violados por pais, parentes, amigos, patrícios e estrangeiros.
VIVEMOS no país da impunidade onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói! Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam “mensalões” e vendem sentenças! Nesta terra, a propriedade alheia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é tomada de seus donos, os bancos são assaltados e os caixas explodidos. É aqui, na terra da “liberdade”, que encontramos a “cracolândia” e a “robauto”, “dominadas” e vigiadas pela polícia!
VIVEMOS no país da censura velada, do “microondas”, dos toques de recolher, da lei do silêncio e da convivência pacífica do contraventor com o homem da lei. País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas, lavouras destruídas e o gado dizimado!
MAS, afinal, de quem é a liberdade que se vê? Nossa não é, pois que somos prisioneiros do medo e reféns da impunidade ou da bandidagem organizada e institucionalizada que a controla? Afinal, aqueles da escuridão eram “anos de chumbo” ou anos de paz? E estes em que vivemos, são anos de liberdade ou de compensação do crime, do desmando e da desordem?
QUANTA falsidade, quanta mentira quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a auto estima e a própria dignidade? Quando será que nós, homens e mulheres de bem, teremos de volta a nossa verdadeira liberdade?