Alguém já comparou o louco a um relógio parado: pelo menos uma vez por dia ele está certo. Parece ter sido o momento de Jair Bolsonaro. Ele disse à Folha que a situação do país é pior do que o período anterior a 1964. Ele criticou o aparelhamento de instituições e comparou a situação ao contexto do golpe militar. Mas demonstrou, logo em seguida, que continua Bolsonaro ao afirmar que a esquerda naquela época não estava tão aparelhada como está hoje. Estava sim!
Tivesse algum conhecimento sobre a história ele saberia que João Goulart não foi derrubado apenas pela direita, com Lacerda e sua UDN, da qual se aproximou o PSD. A esquerda forneceu farta munição aos golpistas, com Brizola no sul, Arraes no Nordeste e os sindicatos em todo o país. Mais a CIA, claro, por conta da nacionalização das empresas americanas iniciada pelo então governador Leonel Brizola.
A ponto de, no fatídico comício da Central, meu conterrâneo Clodesmidt Riani, então deputado e presidente da CGT, ter anunciado, na véspera do movimento, que parava o país em menos de 24 horas caso não fossem aprovadas as reformas que Jango negociava com as bancadas Congresso.
Bolsonaro parece desconhecer também que a organização sindical dos sargentos, vista como perigosa pela quebra da hierarquia militar, foi a gota dágua para os defensores do golpe de estado, que já tramavam e foram contidos pelos legalistas - o marechal Henrique Lott à frente - em vários episódios desde a tumultuada posse de Juscelino.
Mas a verdade é que, com o Executivo e o Legislativo claramente fragilizados perante a opinião pública, não ajuda em nada à estabilidade institucional do país o ativismo judicial que permite trapaças como a arquitetada pela defesa de Lula. Seus advogados, como que para esconder as unhas para não comprometer seu trabalho no STJ, não assinaram o recurso, mas foi uma clara manobra, verdadeira cilada para desacreditar Sérgio Moro.
Engana-se quem imagina que não há clima para uma intervenção militar. Sempre há. Ele está agora mesmo sendo fomentado diariamente, a cada nova trapalhada das autoridades.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)