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Carlos Henrique

'Caldeirão do diabo': Uma tragédia anunciada


 
A população de Porto Velho imagina que a elevação do nível das águas do Madeira para mais de 18 metros, já tendo ultrapassado o histórico nível registrado há um século, e com perspectiva de subir ainda mais em março, é o pior dos problemas. Faltou contudo maior atenção à notificação encaminhada pelo consórcio controlador de Jirau à Agência Nacional de Águas, Ibama e Aneel. No documento, publicado por Valor Econômico, o consórcio Energia Sustentável do Brasil – ESBR adverte que a elevação do nível da lâmina d’água de Santo Antônio para além da cota de 75 metros. Isso estaria comprometendo as estruturas da barragem de Jirau.
 
A gravidade da situação não parece ter sido levada ainda em consideração no estado, até porque as duas usinas vivem em permanente conflito, especialmente por questões de ordem financeira. Problemas ambientais nunca passaram da condição de secundários nas preocupações de ambos os empreendimentos. Pode ser que também agora a carta distribuída pelo consórcio seja apenas mais uma jogada daquelas que antecedem a mais um avanço nos cofres do BNDES. Mas pode ser que, agora, a situação seja realmente grave e a estabilidade da barragem esteja realmente em situação de risco.
 
Pode-se imaginar o que aconteceria em Porto Velho na eventualidade do rompimento da barragem. Técnicos do Indam, que advertiram para a necessidade de consideração dessa possibilidade, afirmam que caso isso aconteça, em exatamente sete horas a barragem de Santo Antônio seria atingida por um verdadeiro tsunami ao qual não conseguiria resistir. O resultado iria atingir pelo menos 30% de Porto Velho, com algo em torno de 50 mil mortes. A hidrelétrica de Jirau passaria a ser conhecida internacionalmente pelo seu verdadeiro nome: “Caldeirão do diabo” – a localidade de Jirau está situada a três quilômetros da barragem.
 
O documento do ESBR foi minimizado pelos dirigentes de Santo Antônio, para quem a mesma água que entra é a que sai da barragem. Mas o Consórcio afirma que a autorização concedida pelo Ibama, dá conta de que a altura máxima suportada por Jirau é de 74,8 metros em relação ao reservatório da usina de Santo Antônio. Esta, no entanto, estaria operando com um reservatório que já teria ultrapassado a cota de 75 metros. "Tal fato, além de não respeitar o limite estabelecido por imposição do projeto estrutural da usina de Jirau, está ocasionando diversos impactos na estrutura do empreendimento e demais existentes no canteiro de obras", alega o ESBR no documento.

Segundo o consórcio, o reservatório de Santo Antônio já chega a comprometer, inclusive, o sistema de transposição dos peixes, um tipo de escada de concreto por onde os peixes sobem a corredeira do rio. A situação estaria comprometendo até a instalação de novas turbinas de Jirau, por conta de "consequente inundação de toda casa de força, devido à pressão sobre a mesma, para a qual não está dimensionada". O consórcio ESBR pede, no documento, o imediato esvaziamento do reservatório, para que a situação volte ao normal, pelo menos dentro do que é possível dizer, considerada a anormalidade da elevação das águas do Madeira.

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