Um dos maiores problemas enfrentados pela empresa responsável para prosseguimento das obras da ponte sobre o rio Madeira, na BR-319, está sendo solucionado com a ajuda da enchente do rio Madeira. É que alguns moradores, instalados em pontos estratégicos para a construção do acesso à ponte, resistiam em desocupar as moradias que, vale lembrar, estão plantadas irregularmente na faixa de domínio da rodovia BR-319. A cheia do rio forçou a mudança. Houve até um caso bastante ilustrativo da situação: um morador que tinha decidido não se mudar “de maneira alguma” e desafiava a empreiteira a retirá-lo de lá, acabou pedindo socorro justamente junto aos responsáveis pela obra, depois que seu barraco foi tomado pelas águas.
O certo é que o Madeira acabou solucionando uma questão que nem mesmo os negociadores da Universidade Federal Fluminense – contratada pelo DNIT para gerenciar a desocupação - conseguiram realizar, mesmo oferecendo inclusive uma bolsa-aluguel mensal para locação de moradias até que fossem concluídas as obras do conjunto habitacional construído exclusivamente para abrigar as famílias retiradas do local. Técnicos da empreiteira e do DNIT preferem tratar discretamente o assunto, mas é certo que mais da metade dos moradores da área destinada à construção do acesso na margem urbana da rodovia, ou “lado de cá” já estão instalados nas novas moradias no “lado de lá” do rio. E, ironicamente, estão usando a ponte para a travessia, ainda que de forma precária, justamente pela falta do acesso que eles mesmos ajudaram a obstruir a construção.
Alguém haverá, com certeza, de acusar o blogueiro por falta de sentimento humanitário ou por desconsiderar o sofrimento de todas aquelas quase oitenta famílias que terão de ser desalojadas para a conclusão das obras da ponte. Acontece que os defensores da resistência nunca consideraram o sofrimento das muitas centenas de famílias que vivem do outro lado do rio e sempre foram exploradas pelo pedágio das balsas. Há quem diga, com um raciocínio embotado, que só quem paga caro pela travessia são os caminhões. Esquecem que esse custo incide sobre a mercadoria que transportam e repercute no preço final para os consumidores. Todos acabam pagando pela travessia.
Não se pode desconsiderar, ainda, que alguns moradores ainda recebiam uma “ajuda de custo” dos donos das balsas para obstruir ao máximo as obras, conforme denunciaram em Brasília os técnicos da UFF. O Certo que a enchente, que acabou resultando na paralisação temporária das balsas, está colaborando também para a evacuação do local. E mesmo sem falar sobre o assunto, os trabalhadores da ponte correm a demolir cada moradia imediatamente após a transferência dos moradores para o “lado de lá”. Ou seja, não tem volta. Ou ainda, como disse Cesar após atravessar o Rubicão com suas legiões, a sorte está lançada.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)