Ainda a respeito das ameaças anunciadas em rede nacional pela advogada Beatriz Catta Preta, a quem desde o início defendi, mas contra quem me coloquei na defensiva depois da entrevista, continuo com a curiosidade açulada para saber de onde, diabos, ela tirou as ameaças que determinaram a decisão radicalíssima de fechar o escritório e abandonar a clientela e até mesmo a profissão. Como atua há mais de 20 anos no crime - onde inclusive conheceu o marido – ela deveria trafegar, como demonstrou nas oito delações premiadas que negociou, com absoluta desenvoltura, numa área que provocaria taquicardia em qualquer dos mortais comuns, entre os quais me posto.
Isso amplia a gravidade da denúncia, posto que não seria qualquer cara feia que iria desestabilizar Catta Preta. A ponto de fazê-la largar tudo, inclusive o país, coisa que desmentiu em público mas que havia anunciado para vários interlocutores, até para justificar o abandono da clientela. Como disse, ela espicaça e acicata minha bisbilhotice profissional. Está certo que o padrão de relacionamentos da advogada envolve um patamar inimaginável para quem está fora. O jogo é definitivamente muito pesado quando envolve empresas gigantescas, governo e demais poderes. E muitos bilhões de dinheiro sujo. Mas não o dinheiro dela, não importa quanto ganhou, é legal e insuspeito. A menos que tenha recebido “por fora” lá fora e nada tenha declarado.
Sobre os suspeitos por ela elencados, duvido que possa aponta-los na ação judicial que Eduardo Cunha anuncia mover contra ela. Ocorreu-me, a propósito, um trecho de “O Poderoso Chefão”, de Mário Puzo, que encontrei no Google. Foi no discurso que Don Vito Corleone fez para os mais importantes “capos” do país: “Sou um homem supersticioso, um defeito ridículo que devo confessar aqui. Se algum incidente infeliz ocorrer ao meu filho caçula, se algum oficial da polícia acidentá-lo, baleá-lo, se ele se enforcar na prisão, minha superstição me fará sentir que foi o resultado da má vontade que algumas pessoas aqui presentes ainda alimentam a meu respeito”.
- “Se meu filho for atingido por um raio” – continuou ele – “culparei algumas das pessoas aqui presentes. Se seu avião cair no mar ou seu navio afundar, sele pegar uma febre mortal, se seu automóvel for colhido por um trem, tamanha é minha superstição que porei a culpa na má vontade de algumas pessoas aqui presentes. Senhores: essa má vontade, esse azar, eu jamais esquecerei”.
Isso pode ser aplicado integralmente no caso da advogada. Se ela escorregar, cair e bater com a cabeça, a culpa vai cair no colo do presidente da Câmara. Lula, dona Dilma e todo o PT haverão de assegurar de que ninguém se esqueça disso. Daí que, encurralado, Eduardo Cunha não tem alternativa senão obriga-la a apontar judicialmente aqueles que acusa pelas ameaças. Ou admitir publicamente que mentiu, o que talvez seja o melhor a fazer, consideradas as circunstâncias.
Mas Cunha deve se precaver, inclusive com garantia da segurança física da advogada e familiares. Vai que acontece um azar? É muito grande o risco de que as tais ameaças sejam efetivamente cumpridas por alguém que tenha interesse em complicar a vida do presidente da Câmara. Gente capaz de mandar fazer isso existe aos montes. A família de Celso Daniel que o diga.
BLOGDOCHA
CATTA PRETA
Publiquei no Facebook uma nota sobre o assunto. Disse que embora o país esteja moralmente endividado com a advogada Beatriz Catta Preta, pelo recorde histórico de delações premiadas por ela conduzidas para tirar a máscara de bom moço de um monte de bandidos milionários à custa de nosso dinheiro, acredito que a causídica esteja a dever ao público uma explicação mais verossímil do que aquela exibida na Globo.
Ela se diz ameaçada, mas quem seria louco a ponto de atentar contra sua vida nesse momento? O presidente da Câmara? Nem pensar. No caso dele eu providenciaria uma escolta poderosa para a advogada. Se cai um raio sobre sua cabeça com certeza a culpa será de Eduardo Cunha, pois não? Aí tem coisa e o mais provável é que ela esteja apavorada com a possibilidade dessa coisa vir a ser descoberta.
Um leitor protestou em comentário no Blog. Disse que estou muito imaginativo, vendo ou criando fantasmas. E que minha nota parece mais uma investida pelos caminhos da teoria da conspiração. Respondi que a realidade brasileira demonstra ser desnecessário teorizar coisa alguma. Como diziam velhas raposas udenistas de Minas Gerais, “a situação está de vaca estranhar bezerro”.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)