Calma gente, que não sou doido para introduzir Fiódor Dostoiévski nessa conversa fiada diária. Só gigolei o título aí de cima me ocorreu por conta de um debate travado ontem no Facebook a respeito da celeuma em torno da jornalista Raquel Seherazade – a Sherazade brasileira, que protagoniza nossas 1001 noites de terror. Ela virou alvo dos petistas ao justificar a reação do público contra os baderneiros. O Sindicato dos Jornalistas de SP, comandado pelo PT, emitiu nota condenando-a por incitação à violência, embora não tenha dito coisa alguma sobre os quebra-quebras claramente encomendados. O sindicato do Rio também a condenou por “incitação à violência”. O que nós, o povo, pensamos a respeito não interessa.
Lamentavelmente, os representantes da categoria, que incensam o sensor Franklin Martins em São Paulo, mas não dedicaram uma única linha à descarada demissão de Boris Casoy, engrossam o coro dos que querem a cabeça da bela e competente âncora. Diariamente somos assolados pela violência. A bandidagem não tem mais medo. Ataca diretamente os governantes. Todos os dias pessoas de bem são maltratadas, esculachadas, estupradas, violentadas, sequestradas, assaltadas, e o Estado literalmente alheio em sua capacidade de resposta, salvo quando os direitos humanos são aplicados aos bandidos, como diz Fábio Pereira Ribeiro em seu belo texto sobre o “Sincericídio de Romeu Tuma Jr”.
E de nada adianta defender a inversão de maiores recursos em segurança. O dinheiro é realmente pouco, mas existe. Como existem, embora igualmente poucos, recursos para educação, saúde e infraestrutura. O problema é que ele não chega à sua destinação final, dada a necessidade de investimentos em áreas menos nobres. O dinheiro passa por muitas mãos na trajetória do poder à ponta. E cada uma delas tira dele uma lasca para outras prioridades. Quando chega, a verba, que já saiu nem assim tão gorda, está anoréxica.
O problema dos políticos está na necessidade de prover cada grupo particular com as boquinhas amealhadas ao longo do mandato. Disso resulta, invariavelmente, o avanço por sobre o tal do erário. E, como mesmo assim falta dinheiro, o indigitado fica praticamente obrigado a recorrer às verbas cuja destinação era outra, como educação, segurança e saúde. Como existe muito macaco prá pouca banana, como dizia Jerônimo Santana, o que sobra acaba insuficiente para atender com benefícios às necessidades do público. Até porque quanto menos fazem mais os governantes são obrigados a investir na mídia para convencer o eleitorado de que fizeram muito, sim senhor.
Um exemplo bastante elucidativo é o da ex-senadora Marina Silva, que desfila com como vestal por todo o País, mas tira a fantasia no Acre para apoiar a candidatura do governador Tião Viana à reeleição. É que o seu “grupo” está encastelado no governo do estado e ela precisa, afinal, pagar as contas. É claro que o seu candidato a presidente na chapa em que pelo menos por enquanto figura como candidata a vice, sabe disso. Eduardo Campos sabe que não terá um palanque no Acre. Na verdade, nem na própria candidatura, pelo PV, Marina Silva foi bem em sua terra: o estado preferiu José Serra, que ficou com 52,18% dos votos, contra 23,74% de Dilma Rousseff e apenas 23,58% de Marina.
Não é que o santo não faça milagres em casa. É que em casa todo o mundo o conhece e sabe que ele é do pau oco. Basta perguntar, por exemplo, a quem o conheceu, em Rio Branco, quem foi Chico Mendes. Se o entrevistado não for um dos muitos beneficiados eleitoralmente pela exploração de seu cadáver, o que se vai ouvir, no mínimo é que se tratava de um rematado picareta. Transformado em mártir pela mídia a serviço do sindicalismo internacional, das ONGs e interesses afins, o “líder seringueiro” trabalhou mais depois de morto do que jamais fez durante toda a sua vida, basta conferir com o PT de Marina Silva, dos irmãos Viana, de Lula et caterva.
O Psicólogo Wagner Dias Caldeira fez uma análise bastante fundamentada no Facebook sobre a barbárie já rotineira do cotidiano brasileiro. Disse que todos estamos cansados de assistir na tevê a ação da criminalidade, mas não existe solução fácil nem explicação razoável, pelo que acredita que a âncora do SBT deveria ter ficado calada.
Argumentei que ele demonstra ser profundo conhecedor do assunto, mas me permito considerar que se as autoridades começassem pelo feijão com arroz, combatendo a impunidade, por exemplo, já seria um grande avanço. O público ao qual Sheherazade se dirige também não conhece a prodigalidade de signos que emolduram a questão, mas aplaude a jornalista e já se daria por satisfeito se houvesse mais polícia nas ruas e um rigoroso combate à baderna, que não tem, perdoem, merda nenhuma de democrática. É só baderna e ponto. Gostaria de encerrar o artigo com um singelo “PT saudações e adeus”. Mas tenho medo de que isso não seja possível. Pobre Brasil!
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)