Talvez seja esta a razão pela qual o Itamarati não tenha até hoje indicado um nome para ocupar o cargo de embaixador brasileiro em La Paz depois do episódio da fuga espetacular do senador Roger Pinto Molina. Isso explica também o coice desferido por Dilma Rousseff na canela do prefeito Mauro Nazif durante a visita presidencial a Porto Velho, ocasião em que o prefeito cometeu a imprudência de cobrar dela alguma atitude em relação às usinas. Quem estava por perto disse que a resposta veio de bate-pronto: “O senhor é boliviano? Os bolivianos é que têm essa mania de achacar o governo brasileiro”.
De qualquer forma, ainda que não haja confirmação da notícia, o certo é que ela é absolutamente verossímil. Evo Morales trabalha com o relatório verdadeiro do estudo de impacto ambiental do projeto, aquele que foi posteriormente substituído por determinação do Planalto. O estudo real aponta para enchentes sistemáticas em Rondônia e em grandes áreas da Bolívia. Especialistas no assunto já alertavam para a realidade que as enchentes do Madeira vieram comprovar.
Pior: a considerar seu raciocínio, as enchentes serão incorporadas ao cenário rondoniense nos próximos anos, a menos que a elas sobrevenha uma seca igualmente violenta. Os cientistas acreditam que isso não verá acontecer. Um deles explicou dia desses que há, nas nuvens que cobrem a Amazônia água equivalente a um rio Amazonas. Da mesma forma foi explicada a influência das barragens: o declive dos Andes até à barragem de Santo Antônio chega a quatro mil metros. Daqui até o rio Amazonas ele praticamente não existe.
A força da correnteza seria decorrente da velocidade com que as águas chegavam a Santo Antônio, praticamente empurrando o Madeira em direção ao Amazonas. Isso agora não é mais possível, graças às barragens. Mesmo que tenha procedência o argumento de que a mesma água que chega na barragem é a que sai, a velocidade não é mais a mesma. Por isso é que acontece o fenômeno dos remansos, que acabam inundando uma área muito maior.
O certo é que Evo Morales tem poder de pressão bastante forte para convencer o governo brasileiro a assumir a dívida de U$ 5 bilhões a título de indenização. Claro que depois das eleições, pois que interessa a ele a permanência de um governo de orientação “bolivariana” – seja lá que significado tenha isso. Ele não irá ameaçar o Brasil com uma inundação de cocaína porque isso a Bolívia já fez. Mas pode ameaçar com o corte no fornecimento de gás. De qualquer forma, absolutamente ninguém duvida de que ele vá receber.