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Carlos Henrique

FEFA ameaça estado com foco de aftosa


 

Parece ser mais difícil erradicar o FEFA do que acabar com a febre aftosa em Rondônia. Não há vacina contra o descaramento. É, no mínimo, criminosa a tentativa irresponsável de transformar em questão político-partidária a discussão em torno do FEFA, cujos dirigentes esgrimem, em tom de ameaça, os riscos aos quais o estado ficará automaticamente exposto, caso seja mantida a decisão da Justiça e do Tribunal de Contas de suspender a arrecadação de recursos públicos para o milionário caixa do fundo. Não há, comprovadamente, qualquer interesse em debater a legalidade do sistema. Existem sim pressões, cada vez mais fortes e em tons de ameaça mais claros e elevados, praticamente exigindo a revisão das decisões. 
 
Na grande manifestação promovida em Ji-Paraná pelo chamado “Movimento Pró-FEFA” ninguém se interessou em chamar para a discussão o principal opositor do Fundo, o ex-deputado e suplente de senador Tomás Correia. Nada disso. Os donos da festa sabem que o fundo não se sustenta em um debate. Daí levarem a discussão para a imprensa e a assembleia, onde é mais fácil o convencimento do público desavisado. Na verdade, os dirigentes querem manter a qualquer custo o que chamam de Parceria Público-Privada que na verdade, do jeito que está, nada mais é do que no popular se conhece como “acordo de trabaçu”, no qual o FEFA leva a receita e o estado a rima. 

 O problema é que em todas as manifestações públicas os dirigentes do fundo deixam clara a ameaça: pode acontecer um foco de aftosa do estado caso seja mantida a supressão de sua arrecadação. Não é alarmismo, mas convém redobrar atenções. Um caso, suspeitíssimo, ocorreu em julho de 2011, no município de Theobroma, um dia depois de Tomás ser avisado em sua residência, pelo então deputado Amauri dos Santos, de que estava sendo engendrada uma falsa comunicação de aftosa para prejudica-lo. Tomás não acreditou, justamente pelo absurdo que isso representaria, mas a comunicação foi encaminhada à Idaron no dia seguinte e teve repercussão nacional. Chegou inclusive a obrigar o então ministro da Agricultura, ministro Reinhold Stephanes, a desmenti-lo. E mesmo assim provocou queda na Bolsa de São Paulo. Que ninguém se surpreenda portanto se, em meio a essa disputa, aparecer algum novo foco de aftosa no estado.

Agora mesmoo jornalista Roberto Guttierrez, em um nítido trabalho de assessoria, adverte Tomás Correia em um artigo sobre os prejuízos eleitorais que sua iniciativa poderá gerar para o senador Valdir Raupp. Ele diz acompanhar a evolução dos setores produtivos de Rondônia desde a década de 70 – o que não deixa de ser verdade. Em pelo menos um caso. Foi de sua autoria a publicação, com estardalhaço, da comunicação suspeita registrada em Theobroma, apesar de todo o esforço das autoridades sanitárias, para manter o caso, pelo menos inicialmente, em absoluto sigilo, para evitar a repercussão negativa que poderia ser desencadeada com a simples possibilidade de ocorrência.

Ao chamara atenção de Tomás sobre o “desgaste desnecessário” decorrente de sua ação, Gutierrez escreve que “politicamente, o maior prejudicado com a investida de Tomás Correia em querer acabar com o Fundo Emergencial de Febre Aftosa (FEFA), será o senador Valdir Raupp (PMDB). Tomás diz que age por vontade própria, mas, convencer os pecuaristas de Rondônia que isso é verdade não será tarefa fácil”.

Ele lembra que, “por falta de um FEFA para ajudá-lo, foi que Raupp deixou o governo de Rondônia com as fronteiras do Estado fechadas para a exportação de carne bovina e derivados, quando era governador”. E acrescenta que “foi no governo de Bianco, seu sucessor, que foi criada a agência Idaron e em menos de três anos e meio, Rondônia se tornou um Estado na categoria livre da febre aftosa com vacinação, com reconhecimento internacional”. Fica claro, pelas próprias palavras do articulista, que foi a Idaron, não o FEFA, que faltou ao governo Raupp. Ele não se preocupa nem mesmo em dissimular a utilização dos méritos da Idaron para defender o FEFA.

Diz que “passados esses anos, Rondônia se tornou um bom exemplo de combate à febre aftosa no Brasil, e todos os estados, sem distinção, mandaram técnicos e representantes de instituições de defesa sanitária animal conhecer um pouco da receita de sucesso adotada por Rondônia. Ponto positivo para a Parceria criada entre o Setor Público e o Setor Privado. O Pecuarista mobilizado e motivado, aliado à competência dos Técnicos da IDARON é que possibilitou a grande vitória em tão pouco tempo, diga-se de passagem, Rondônia ainda é recordista neste prazo”.

“Principalmente agora” – continua ele - “que estamos embarcando a primeira carga de carne para os Estados Unidos! Uma conquista da seriedade de como foram conduzidos as ações de sanidade animal em Rondônia. Acabar com o FEFA, conforme quer o suplente de senador Tomás Correia, simplesmente porque está com o orgulho ferido, é de uma pequenez assustadora. Ou será que existem outros interesses?” O jornalista viaja demoradamente pela legislação e instruções normativas para demonstrar que “as ações não podem ser sobrepostas conforme o senhor Tomás Correia imagina, ou seja, não cabe ao FEFA/RO ter Unidades de Atendimento Veterinário, Médicos Veterinários, Engenheiros Agrônomos, Técnicos Agropecuários, nem veículos para atendimento, por que? Porque as ações de Defesa Agropecuária são ações indelegáveis do estado”.

 

Este blogueiro reconhece não ser especialista no assunto, condição que Guttierrez reivindica para si. Mas em todo o seu texto não vi uma única linha capaz de justificar a existência do Fundo, a não ser quando fala em ter dinheiro disponível para eventuais necessidades. Isso eu também quero. E o FEFA tem de sobra. Mas ele também deixa clara a ameaça: “Só digo uma coisa” – afirma – “na hora em que, Deus nos livre que isso aconteça, surgir um foco de aftosa em Rondônia, quero saber se o Tomás vai querer aparecer na foto ao lado da bancarrota da economia de Rondônia”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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