Embora chocante, a foto da menina claramente subnutrida, grávida aos dez anos, postada no Facebook com a barriga pintada de batom, não obteve qualquer repercussão. A mesmerização da tragédia não permitiu aos autores daquele verdadeiro atentado qualquer volume mais significativo de “curtidas” ou “compartilhamentos”. Evidentemente sem saber o que estava fazendo ali aquela criança aparentava até certo ar feliz, até porque nem faz ideia do que lhe reserva o futuro. Nem mesmo se haverá algum, já que sua compleição física sugere gravidez de alto risco para a mãe e para o bebê. Não deixa de ser, porém, um retrato bastante fiel de nossa realidade essa frenética busca de notoriedade, inspirada talvez na periguete da novela.
A realidade da menina inspira, porém, reflexão sobre situações com as quais já estamos, infelizmente, nos acostumando. Delas, as piores surgem dos titulares de uma auto atribuída genialidade, como aquela dos dirigentes da Semtran, que pretendem revolucionar o trânsito no centro de Porto Velho com a mudança da mão de direção da avenida Sete de Setembro. Uma coisa é certa: se impactar é o que querem, vão conseguir. O secretário-adjunto do órgão, Carlos Guimarães, diz que a população vai estranhar no início, mas logo se acostuma. Acho que a população estranharia mais se o prefeito se limitasse ao feijão com arroz. Mas, ao que parece, tapar buracos, limpar as ruas, implantar sinalização e fiscalizar o trânsito é coisa muito pequena. O povo reclama isso, mas quem diz que o povo sabe o que quer?
Reinaldo Azevedo comentou em seu blog as declarações feitas à Folha SP pela psicanalista Maria Rita Kehl, cujo pensamento a identifica claramente com os ideólogos de esquerda. Ela disse sobre os rolezinhos que “Toda inclusão econômica exige, em um segundo momento, o reconhecimento da pertença a uma nova classe social. Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela. A performance dos rolezinhos funciona como denúncia da discriminação, mas não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo mal-estar de saber que não são bem-vindos nos templos do consumo de uma sociedade que, até o momento, só promoveu inclusão via consumo — e não via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade etc.”
Azevedo acrescenta que uma das razões — há uma penca — que me afastaram da esquerda é o profundo desprezo, beirando o nojo, que esquerdistas têm do povo. Eles, no geral, consideram a população um lixo, incapaz de fazer escolhas morais certas, escolhas políticas certas, escolhas estéticas certas… O povo, em nome do qual falam, não é esse que está aí, mas outro: é o “novo homem”, que tem de ser construído para substituir este que conhecemos, que já foi corrompido pelos valores do capitalismo, entendem? Não é nada surpreendente que os tiranos comunistas tenham matado e ainda matem com desassombro.
O jornalista vai além: para Maria Rita Kehl e gente como ela, gozo é para os ricos; a tarefa do pobre é reivindicar. A meninada, confessadamente, organizava aquelas jornadas para se divertir, mas Maria Rita Kehl, a iluminada, julga que “a performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação”. E emenda: “mas não sei se eles fazem isso conscientemente”. Entenderam? Ainda que um rolezeiro diga para dona Maria Rita que não se trata de protesto — e é o que estão dizendo nas redes sociais e à imprensa —, esta pensadora responderá: “É que você não tem consciência do que está fazendo; eu a tenho por você”.
Um dos mais graves problemas nacionais da atualidade é que o Brasil produz carradas desses “gênios”. E Rondônia não escapa disso. São professores que deixam de lado o aprendizado para ensinar ideologia (o que tem de tendência esquerdista na Unir é um espanto) são autodidatas que infestam as redes sociais com defesas e acusações as mais estapafúrdias, é gente de todo o tipo em busca da glória que com certeza não obtiveram profissionalmente e imaginam achar ali o credenciamento para posições melhor aquinhoadas. Mas o pior tipo ainda é aquele que sonha fazer sua própria revolução, não importa o que o povo possa pensar a respeito. Afinal, “o povo não tem consciência”.
Se o negócio é impactar, vale reproduzir o pensamento do meu leitor e amigo Aor Oliveira, que comentou a foto sobre a inauguração do terminal portuário de Cuba patrocinado pelo governo brasileiro: “Enquanto isso aqui no Brasil o povo sofre nas filas dos Hospitais, com falta de segurança e ainda tem gente que vota no PT por causa de uma bolsa família, bolsa puta, bolsa viado e outras. Enquanto o povo brasileiro não aprender a votar teremos governo como esse da Dilma: uma vergonha!”
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)