Hidrelétricas do Madeira: Jirau reduz ritmo de obras
Prefeitura não sabe o que fazer com danos da Santo Antônio
A julgar pelo noticiário da imprensa, ou a administração dos projetos e seu relacionamento com as autoridades rondonienses estão colocadas nas mãos de malucos, ou as obras das duas usinas hidrelétricas do rio Madeira estão situadas em um território particularmente distante da realidade local. Parece piada, mas infelizmente não é. Fica difícil chegar a uma conclusão diferente. Enquanto a Santo Antônio Energia avança sobre os cofres do BNDES em busca de mais R$ 1,5 bilhão para elevar o reservatório em 80 centímetros e instalar mais seis turbinas no empreendimento, os desastres ambientais provocados pela dissipação da energia na queda d’água e pela retenção de resíduos na barragem, que seguramente levarão rio abaixo as instalações do mirante e do Café Madeira, deixam absolutamente perdidas, ou melhor, atoleimadas, as autoridades municipais.
O Consórcio comemora a expectativa de produção de mais 417,6 megawatts de energia, mas nenhuma explicação oferece para o problema, já denunciado aqui, do erro no projeto, que resultou em uma incompatibilidade entre os sistemas de proteção e controle dos equipamentos - na geração e na transmissão – que não conversam adequadamente entre si. Isso impõe uma redução na capacidade de produção sob pena das turbinas serem atingidas por uma “auto excitação” e literalmente queimarem, com prejuízos incalculáveis para o projeto, para Rondônia e para o país.
A verdade é que se não for corrigido o entrave, a capacidade de transmissão ficará limitada a míseros 700 megawatts, bem longe da potência de 3.150,4 MW hoje comemorada com alarde. Tem mais: com a elevação dos 80 centímetros autorizados pela Aneel, que parece assinar sem ler a documentação do projeto, o lago será ampliado a ponto de comprometer a geração da hidrelétrica de Jirau. Para isso a Aneel anuncia um paliativo, com o repasse de 24,3 MW de Santo Antônio para Jirau a título de compensação – já questionado por ambas as partes, vale dizer.
O que a ninguém parece incomodar são os efeitos da ampliação da área alagada e os desbarrancamentos abaixo da barragem. Ou alguém duvida de que haverão de ocorrer com maior intensidade? A verdade é que não há, em Rondônia, nenhum órgão preparado para lidar com o problema. Faltam técnicos capacitados para o enfrentamento necessário dos representantes altamente especializados e pagos a peso de ouro pelas usinas.
Se a Prefeitura de Porto Velho, coitada, bate cabeça até para quantificar os estragos e produzir um laudo técnico sobre o desbarrancamento do mirante, certamente não conseguirá nem mesmo imaginar a questão anunciada em toda a sua real dimensão. Para o Mirante, os assessores do prefeito dizem ter solicitado uma avaliação dos Bombeiros, que negam ter recebido oficialmente o pedido. Mas de nada adiantaria, já que também nossa Companhia de Bombeiros não dispõe de técnicos capacitados para um trabalho dessa magnitude nem recursos para contratá-los.
Jirau compra áreas para ampliação do lago
Enquanto isso, ao mesmo tempo em que questiona junto à Aneel o volume de megawatts a serem repassados pela Santo Antônio Energia, o consórcio construtor de Jirau parece ter colocado um freio no andamento das obras. Talvez já imagine conseguir autorização para elevar também a sua barragem, de forma a produzir mais energia, não importa se vai ou não ser transmitida pelo linhão, já que o interessante mesmo é o dinheiro do BNDES. Sintoma dessa estratégia é a compra de áreas no entorno do lago. Os ribeirinhos tinham negociado média de 30% das propriedades num primeiro momento. Agora, cada proprietário está sendo chamado para negociar a venda dos restantes 70%. As águas vão subir e certamente vão dar problema até em território boliviano.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)