Passou batida pela mídia a subida do Dólar que ontem fechou a R$ 2,25 – na maior cotação dos últimos quatro anos. O noticiário focou o único assunto que parece desejar agora: a onda de manifestações que deve continuar levando milhões às ruas em todo o país. É claro que, para a maioria, tudo isso tem sabor de aventura, de festa, pelo menos por aqui. Em Porto Velho faltaram apenas os trios elétricos e a venda de abadás: de resto era tudo uma banda só. É claro que sobram motivos para protestar. Mas não foram a PEC 37 ou a cura gay que tiraram a molecada de casa, especialmente porque a insatisfação não é principalmente deles, mas dos pais. E foram justamente os filhos que levaram os pais para as ruas.
Quem sofre com os preços que disparam diariamente nas gôndolas dos supermercados? Quem gasta mais combustível com o trânsito que se arrasta em Porto Velho? Quem se preocupa com as perspectivas extremamente negativas da economia? Quem já começa a sentir de novo o cheiro da volta do desemprego, da falta de grana para pagar as prestações assumidas em um tempo que o governo decidiu chamar de vacas gordas quando, em verdade, as que realmente engordavam estavam nos pastos mais verdes dos vizinhos ricos? Quem sofre agora a angústia de ter acreditado nesse remake petista do “país que vai prá frente”?
Mesmo assim, a bandalha petista está desarvorada. O jornalista Jorge Serrão, do site Alerta Total, diz que Lula, Dilma e seus seguidores remunerados parecem abalados psicologicamente. Dilma até convocou para hoje pela manhã uma reunião de emergência no Planalto para avaliar a situação. Os petistas sentem a dura dor da perda da hegemonia sobre a condução das massas nas ruas. A turma que agora sai de casa para protestar obedece tanto a seus comandos quanto os organismos da economia. O governo agora é um passageiro da agonia no “Inverno Brasileiro”.
O Dólar em alta vai, de fato, impactar o custo de vida das pessoas e das empresas no curto e médio prazos. Na véspera e no ano (re)eleitoral de 2014, o País sede da Copa privada de Futebol da FIFA deve sentir os impactos dos novos rumos da economia mundial. Os deuses da economia já trabalham com a previsão segura e pessimista de que os capitais vão migrar dos mercados emergentes (como o Brasil) para os EUA.
Investidores devem fugir da nossa bolsa de valores e das aplicações de renda fixa. O sempre perdido Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil deve apelar para a velha fórmula de sempre: subir os juros para ver se atrai o capital-motel. A medida sempre alegra os bancos – que aumentam suas já absurdas margens de lucro. E como a grande massa não entende tal processo, ninguém protesta, mas se ferra no final das contas.
A coisa só não está mais feia para o governo porque outubro de 2014 ainda é uma data distante. Mas a chamada fadiga política (leia-se: maioria do povo de saco cheio com governos, governantes e políticos) é uma constatação óbvia ululante. O mais desesperador para os autoproclamados poderosos é que eles não têm um botãozinho para dar um basta na onda de protestos – para os quais não faltam motivações bem objetivas, diante dos abusos cometidos pela governança do crime organizado.
O triste para os brasileiros de bem é a absoluta falta de um projeto alternativo ao sistema que hoje nos comanda. A oposição ao esquema atual não tem, na ponta da língua, do lápis ou do papel, um programa realmente viável para o Brasil. Problemas sobram e podem motivar um milhão de passeatas (pacíficas ou com vandalismos). Soluções não são claramente formuladas para que a massa ignara saiba que elas existem, consiga compreendê-las e lute para que sejam implementadas urgentemente.
O drama real do Brasil é a falência múltipla das instituições políticas. Quando não se vislumbra uma solução Política (com P maiúsculo) no curto prazo, o quadro institucional não se altera. Os três poderes ficam onde sempre estiveram, com a única novidade de que o zepovinho mais jovem sai à rua para manifestar indignação contra nossa coleção nacional de erros. Entre a gritaria e a mudança efetiva para melhorar alguma coisa a distância parece infinita.
E como o Brasil não dá sinais de que deixará de ser a passiva colônia de exploração pós-moderna, mantida artificialmente na miséria pelo Poder Real Globalitário, pouco ou nada tem condições de mudar. O rumo que os banqueiros internacionais – acionistas e controladores efetivos do Banco Central privado dos EUA – definirem é o que seremos obrigados a seguir, e PT saudações (com direito a trocadilho infame com a expressão Perda Total).
Bom que o mundo assista, mesmo sem entender muito bem, ao nosso espetáculo de indignação – que já se transforma em um modismo jovem. A esperança é que os segmentos mais esclarecidos consigam formular e apresentar publicamente um verdadeiro Projeto de Desenvolvimento para o Brasil, para que um dia sejamos matriz e não periferia planetária.
Novamente, o drama barroco tupiniquim: temos realmente condições de cumprir tamanho desafio, ou vamos ficar mera gritaria e protestos sem fim? Sem liderança e projeto efetivo, tudo que acontece agora não vai passar de uma megamanifestação de torcida organizada esperando um gol salvador do Neymar Jr... Temos agora uma grande torcida contra. Quando ela estiver a favor de algumas coisas concretas, aí algo pode mudar...
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)