Por incompetência ou má-fé (ou ambos), o prefeito Mauro Nazif, com a assessoria da Semob, anunciou dia desses a celebração de um acordo com o DNIT para as obras da travessia urbana de Porto Velho – mais um capítulo da novela dos viadutos. Anunciado com pompa e circunstância, o tal acordo nada tem a ver com a continuidade das obras. Ao contrário: o que a Prefeitura pretendia, com a anuência do superintendente em exercício do DNIT, engenheiro Robson Carlindo Santana Paz Loures, seria utilizar o sistema de drenagem construído para atender à rua da Beira - marginal da BR-364 – para interligar o sistema de drenagem do bairro Fortaleza. Só que a drenagem da rodovia foi projetada para atender apenas e exclusivamente à própria BR-364 naquela área.
Se houvesse a pretendida interligação, o que poderia acontecer, na melhor das hipóteses, seria uma imensa alagação na primeira chuva forte. Do bairro, que já está alagado mesmo agora, e da BR-364. No pior cenário, teríamos a repetição do que aconteceu recentemente na região do Tênis Clube, onde um bueiro não resistiu à pressão das águas e cedeu, levando consigo as duas pistas da rodovia. O tráfego teve que ser desviado pelos bairros da região de Ulysses Guimarães, Marcos Freire, JK e Tancredo. Foi um inferno o que causaram ali as centenas de bi-trens carregados trafegando diariamente pela precariedade das vias urbanas da área. O DNIT levou a culpa, mas a responsabilidade pelo desastre cabe à falta de Planejamento e fiscalização da Prefeitura, que permitiu a construção de milhares de casas e toda a água pluvial foi direcionada para o córrego que passava pelo bueiro da Rodovia. Deu no que deu.
Pois bem. O atual prefeito também quer deixar um desastre registrado em seu nome. Mauro Nazif já havia tentado acordo semelhante com o antigo superintendente do DNIT, Fabiano Cunha. Mas ele não foi besta e nem recebeu sua excelência. Robson Carlindo, no entanto, doido para permanecer no cargo, viu aí uma excelente chance de ocupar espaço na mídia e colher os benefícios de um bom relacionamento político para exibir no Ministério dos Transportes. Imaginou, com isso, melhor credenciar-se a se estabelecer no cargo. Sem apoio, porém, do corpo técnico, ele imaginou que qualquer consulta aos engenheiros do DNIT poderia comprometer a oportunidade. Como não conhece coisa alguma da realidade local – afinal, desembarcou em Porto Velho em maio e ainda não foi apresentado à torrencialidade de nossas chuvas – ele acabou caindo na conversa fiada do alcaide. Sorte que a vereadora Ana Maria Negreiros levou uma comissão de moradores, com acompanhamento de um engenheiro da Semob, para consultar o setor de engenharia do DNIT e saber quando é que, afinal, seria resolvido o problema do bairro Fortaleza.
A vereadora ficou furiosa ao saber da impossibilidade da proposta de utilização da drenagem da rodovia. O engenheiro da Semob ainda tentou sensibilizar o colega do DNIT argumentando até com os “benefícios sociais” da medida. Mas a impraticabilidade técnica felizmente prevaleceu e ficou o dito pelo não dito. A solução para a drenagem do bairro é a abertura de um canal de 700 metros pela Prefeitura, para conduzir em direção ao rio as águas do bairro – e de muitos outros que com certeza serão anexados em seguida ao sistema. Mas o raciocínio das “autoridades” é sempre o mesmo: se a drenagem da rodovia está logo ali, para que gastar dinheiro com outro canal? A questão incorpora um problema adicional: revoltados, os moradores daquela região já ameaçam com manifestações. Já se pode prever bloqueio da rodovia, quando na verdade deveria ser bloqueado o acesso à Prefeitura. Ou a casa do prefeito, pois não?
Fonte: Carlos Henrique
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)