A julgar pelas primeiras informações relativas à denúncia formulada pelo Promotor de Justiça Tiago Cadore, o ex-deputadoe candidato derrotado por Mauro Nazif no segundo turno das eleições para a Prefeitura de Porto Velho, Lindomar Garçom não foi nem indiciado pela Operação Apocalipse. Não há qualquer ligação de seu nome com a quadrilha de estelionatários e narcotraficantes arrolados num cuidadoso trabalho que já terá mandato nada menos que cinquenta nomes para a Justiça.
Não tenho procuração para defender Garçom. Aliás, já lhe apliquei algumas boas e certamente doídas alfinetadas. Mas é preciso restabelecer a verdade e, na medida de minhas limitadas possibilidades, corrigir o erro. Até em defesa da profissão que exerço.É claro que o blogueiro pode estar enganado, mas qualquer dúvida poderá ser dirimida na entrevista coletiva anunciada pelo promotor para a tarde de hoje. Mas me permito manifestar meu ceticismo a respeito, pois não acredito que algum colega se dará ao trabalho de perguntar.
A verdade é que Lindomar Garçom foi condenado e publicamente linchado pela mídia, por conta do envolvimento e prisão dos vereadores Marcelo Reis e Eduardo Rodrigues, de seu partido, o PV, e agora liberados pela Justiça, com os narcotraficantes. Pior: o ex-deputado pode ter perdido a eleição para a Prefeitura justamente por isso.
No debate da TV o candidato Mauro Nazif chegou a insinuar que sua candidatura estivesse sendo financiada pela quadrilha e seus correligionários se encarregaram de disseminar a comprometedora ligação. Com o desencadeamento das operações policiais Garçom foi acusado, julgado e condenado pela imprensa, que aboliu, em todas as referências a seu nome, até o previdente “supostamente”, para taxativamente sentencia-lo como “envolvido”.
O caso está fadado a passar à história como mais um linchamento moral de um inocente, já que ninguém por aqui terá a decência de admitir a culpa pelas acusações infundadas e soltar uma manchete do tipo “Nós erramos, Garçom é inocente.” O mais provável e desavergonhadamente fácil é que seja novamente acusado. Poderão decidir que ele foi favorecido pela Polícia nas investigações a pedido do governador Confúcio Moura.
E por mais que seja provada sua inocência, seu futuro político está irremediavelmente marcado pelo episódio junto à opinião pública. Não que isso possa obstacular uma provável candidatura a deputado federal bem sucedida em 2014. Bom de votos, ele mantém e cultiva permanentemente a confiança de seus eleitores, a maioria dos quais não está nem de longe interessada no que diz a mídia – este blogueiro incluído. Mas isso já aconteceu antes. O senador assassinado Olavo Pires é lembrado até hoje como traficante, sem que nunca tenha sido provada qualquer coisa contra ele.
De qualquer forma é importante registrar, mesmo à revelia de sua autorização, uma conversa que tive com a insuspeita jornalista Marlene Matos, que acompanhou Garçom por toda a campanha. Ela disse que de fato o então candidato foi permanentemente assediado pelo grupo, mas embora precisasse de dinheiro – “às vezes faltava até gasolina” – ele jamais aceitou, justamente por temer a vinculação de seu nome com os narcotraficantes. Acabou, coitado, contaminado. Osmose partidária.
Não sei se Lindomar Garçom, que tinha chances reais de conquistar a Prefeitura não fosse atingido em cheio pela boataria, teria sido um bom prefeito. Mais experiência administrativa que Mauro Nazif com certeza tinha. E sua proposta para resolver o problema dos viadutos era a mais adequada: devolver imediatamente ao DNIT ou entregar para o BEC. Coisa que lamentavelmente Nazif demorou uma eternidade para entender. Fazer o quê?