O verdadeiro alvo da quadrilha desmantelada pela polícia na Operação Apocalipse tem passado ao largo da atenção de nossa “combativa” imprensa, apesar das dimensões verdadeiramente apocalípticas e assustadoras. O tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, contratação de funcionários fantasmas na Assembleia e na Câmara dos Vereadores, falsificação de cartões de crédito e compra de votos não eram fim, mas apenas meios de captação de recursos para financiamento da principal meta da tal Organização Criminosa ou Orcrim no jargão policial. Todas as ações eram cuidadosamente planejadas com foco nas eleições de 2014, quando o grupo teria candidato próprio ao governo do estado: Hermínio Coelho.
Antes que o raciocínio venha a ver apressadamente desqualificado para a condição de mera teoria conspiratória, cumpre ressaltar que a organização operava nos moldes de um partido político, com as maiores bancadas na Assembleia e na Câmara. Além disso, se confirmado o diz o inquérito policial, esteve muito perto de conquistar a Prefeitura de Porto Velho no segundo turno das últimas eleições, com Lindomar Garçom. Além disso, com o envolvimento de cinco deputados e possibilidade de aumento da bancada nas eleições de 2014, ficaria promissora a perspectiva de manutenção do controle sobre a presidência mesmo com uma possível derrota de Hermínio Coelho na disputa do governo estadual.
Com esse cenário, fica adequadamente dimensionada a importância da Operação Apocalipse para estado, apesar dos esforços de Hermínio Coelho em sua copiosa choradeira na mídia para limitá-la a uma mera disputa por um cargo de conselheiro do Tribunal de Contas ou defesa do governador Confúcio Moura. É claro que muita coisa ainda vai rolar nessa história até que tudo fique devidamente esclarecido. Mas é verdadeiramente apavorante a ideia de ter o governo do estado nas mãos de uma quadrilha de traficantes. O que não significa que isso já não tenha ocorrido em outras ocasiões. Vale lembrar as acusações de envolvimento com o tráfico que pesavam contra o senador assassinato Olavo Pires.
De qualquer forma, a Operação Apocalipse tem provocado um verdadeiro corre-corre na Assembleia. Pelo sim, pelo não, cada setor está preocupado em regularizar a folha de pontos de seus servidores. Pelo menos foi o que se viu na assessoria de imprensa que ontem convocou uma multidão nunca vista de jornalistas ali registrados para a assinatura das folhas de pontos. O setor parecia um terreiro de macumba, tantos eram os fantasmas que baixavam.
Outro mérito adicional da operação foi situar adequadamente para os servidores estatutários do legislativo a pessoa do presidente do Sindicato, Raimundo Façanha, tio de “Beto Baba”, parceiro de Hermínio Coelho no carteado e ainda procurado pela polícia. Façanha distribuiu nota na qual externa a perplexidade do sindicato com o envolvimento do legislativo em um escândalo que “abala a estrutura funcional de um estado de direito”. Não abala. Todo o direcionamento das investigações pode abalar a intimidade familiar do presidente, mas não tem qualquer ligação com os estatutários da ALE. Estes poderão ser até beneficiados caso a operação policial resulte em um expurgo dos mais de 1.500 comissionados que literalmente assombram aquele poder.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)