Lamento ser forçoso voltar a um assunto que, imagino, esteja perto de esgotar a paciência do leitor. Mas é justamente em respeito ao leitor, cuja opinião é a única à qual devo satisfação, que volto a comentar a Operação Apocalipse, cujos desdobramentos merecem atenção, pela verdadeiramente histórica guinada que o trabalho policial permitiu impor à condução dos destinos de nosso estado.
A dimensão do envolvimento de significativa parcela da classe política com uma ação deliberada e cuidadosamente planejada para submeter o estado ao controle do narcotráfico não encontra paralelo em nossa história. Ações que chegaram ao inacreditável registro em cartório – que, vale dizer, não tem qualquer valor legal, mas dimensiona adequadamente a ousadia dos marginais – apontam para a necessidade de um trabalho efetivo das autoridades, em todos os níveis, para extirpar esse mal.
A história de Rondônia, vale dizer, nunca foi exatamente um modelo de existência ordeira, pacífica e legal. Episódios lamentáveis tem historicamente registrado a vida rondoniense nas páginas policiais da imprensa, ela própria sempre escandalosamente envolvida. Mas nunca estivemos tão perto como agora de um desastre de tais dimensões. E se a ação policial remete mais uma vez nossa história para as páginas policiais temos, pelo menos, o alento de saber que, desta vez, venceu o lado da legalidade.
Mas isso ainda vai exigir muito trabalho. Um exemplo do poder de reação dos narcotraficantes ostensivamente instalados na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Vereadores circulou ontem na internet, curiosamente distribuída por um mailing rigorosamente igual ao utilizado pela Assessoria de Imprensa da ALE. Um release laudatório intitulado “A verdade por trás do apocalipse” chancelado por uns tais “Vigilantes de Rondônia” não deixa dúvidas sobre o atrevimento dos narcomilicianos.
A pretexto de relatar cronologicamente uma imaginosa conspiração contra os coitadinhos atingidos pela Operação Apocalipse em um imaginoso texto, o pessoal da quadrilha – ou o que restou dela em liberdade – parece ter recorrido ao trabalho dos consumidores. “Coisa de noiado”. É para fazer inveja aos defensores dos réus do mensalão. A carta ataca violentamente o Governo do Estado, o Judiciário e o Tribunal de Contas. Só poupa o Ministério Público, na defesa de Hermínio et caterva. Se a intenção, no entanto, foi proteger o agora quase ex-presidente do Legislativo, melhor para ele teria sido deixar o caso apenas por conta da acusação.
O certo é que ainda nem foi concluído o trabalho com a documentação reunida pelos policiais – parece que apenas ontem começaram a ser analisados os documentos encontrados na casa de Hermínio Coelho – e as defecções entre os defensores começam a acontecer em cascata. É sintomático.
COMENTÁRIOS
Inácio Azevedo da Silva | 16-07-2013 08:07:59
Prezado Carlos - Sem querer tomar partido e ao mesmo tempo tomando, acho que no caso de aluguel de SW4, conforme depoimento de um dos acusados dia 12 passado, para os seguranças do então candiadto a governador em 2010 "Cunhado é parente sim" ou será que o governador não viu os seus seguranças andando de SW4, ? ou será que ele não sabia quem bancava os custos do aluguel das mencionadas SW4? Tem bastante perguntas que precisam de respostas em todo essa operação e como cidadão que está em Rondônia a mais de 30 anos, que, como muitos, também ajudou RO nessas décadas, gostaria de que fossem esclarecidas. Em tempo: Não estou, nunca estive (apesar de convites), nem tive ou tenho nem parentes do décimo grau na folha da Assembléia Legislativa em nenhum gabinete.
Alexandre Araujo | 15-07-2013 15:07:06
Caro colega Carlos Henrique Ângelo respeito sua opinião quanto a sua defesa em prol do governador do Estado Confúcio Moura pessoa no qual não nutro qualquer apreso e tenho muitos motivos para tal opinião e falo com toda convicção porque trabalhei na sua campanha vitoriosa para governo em 2010. Assim como tem colegas que defendem o presidente da ALE/RO deputado estadual Hermínio Coelho, fato que não concordo, mas com o jornalista devemos nos pautar em informar e não advogar em defesa do politico. Sua luta em provar a inocência do governador chegou ao ponto de enviar este e-mail a sua pessoa com uma seguinte pergunta qual o verdadeiro motivo desta sua defesa caro colega?. Como jornalista não vejo esta guerra de opinião boa para a classe que já é muita desacreditada e com estas picuinhas as coisas se avolumam mais ainda devemos sim nos unir e exigir que Rondônia passe a limpo que nós possamos eleger quem realmente tem compromisso com este pujante Estado do qual Eu escolhi há 26 anos para morar e constituir uma família e me orgulho muito de ser pai de uma filha de 15 anos e um filho de 08 meses nascido aqui. Em tempo não tenho mídia do Estado e da ALE/RO e nem tão pouco tenho cargo de comissão só estou aqui defendo a nossa classe abraços Alexandre Araujo jornalista DRT/RO 699 MTE nº. 1029.
Resposta do blogueiro:
Caro Alexandre. Já disse aqui e, como você parece não ter lido ou, se leu, não acreditou, vou repetir: Não tenho qualquer compromisso com o Governador Confúcio Moura, embora não exista qualquer impedimento, já que sou profissional e vivo exclusivamente daquilo que escrevo. Mas as opiniões que aqui posto são exclusivamente minhas e passo ao leitor apenas aquilo no que acredito. Se o tempo comprovar que eu estive errado, não terei alternativa a não ser me desculpar com o leitor, já que apenas com ele tenho compromisso.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)