Há 10 anos, em outubro de 2003, publiquei uma excelente, mais pela qualidade do entrevistado que propriamente do autor, matéria com meu amigo Emanuel Fulton Madeira Lito Casara. Saiu naquela que foi mais uma tentativa frustrada de produzir aqui um jornal de qualidade, o “Como vai Rondônia”. A entrevista teve grande repercussão, especialmente porque Veja publicou em suas páginas amarelas, quase um mês depois, a entrevista de um professor pernambucano que dizia exatamente a mesma coisa: “A floresta deve prestar serviços à economia para ser preservada”. Repercutiu até na Câmara Federal, em cujos anais o então deputado Confúcio Moura fez questão de registrá-la.
Absolutamente atual, como se poderá comprovar em pequenos trechos que reproduzo amanhã, a entrevista de Lito Casara registrava uma advertência da extremamente significativa: “Esta sociedade que reclama dos políticos deveria reclamar de si própria. Nós sempre teremos os políticos do tamanho que quisermos, do tamanho que nós formos. Se nós formos grandiosos em atitudes, nós vamos ter os políticos igualmente grandiosos em atitudes, porque nós vamos cobrar deles”. Não é preciso ser mais didático. Mas insisto: se Rondônia precisa pegar no tranco, todos têm que empurrar do mesmo lado.
Simples assim. Pena que hoje, dez anos depois, ainda é mantida por aqui o que eu chamo de maldição dos Cutubas e Pelecurtas. Nossos dirigentes – e não falo apenas da classe política – precisam romper esse estigma do passado. É preciso deixar no passado essa mentalidade amesquinhadora e abrir corações e mentes para o alvorecer de uma nova e promissora realidade que se anuncia. Mas que nunca virá a menos que estejamos preparados para acordar. É preciso um esforço conjunto para fazer com que as coisas aconteçam.
A oportunidade, como dizem os políticos, é um cavalo arreado que passa apenas uma vez. Pois ele já apareceu inúmeras vezes por aqui e Rondônia seguiu à pé, graças ao raciocínio tosco de quem não consegue ver um palmo à frente do nariz. Ou do umbigo, se preferirem. É a maldita lógica burra do “nem eu nem ele”, que sempre resulta em “nem ninguém”. Eis que agora o animal novamente se anuncia. É preciso estar preparado para cavalga-lo. Antes, contudo, será preciso que nossos dirigentes alcancem a maioridade mental e deixem de lado atitudes que acabarão espantando o transporte. É preciso acabar com atitudes nanicas cujos resultados nos tem mantido, há pelo menos uma década, conforme testemunha a entrevista de Lito Casara, na condição de quarto dos fundos da nação. Poderíamos ocupar rapidamente a condição de coração geopolítico da América do Sul. Mas optamos por permanecer terra de ninguém, ou área de garimpo.
Os será que alguém pode, com honestidade, dizer que os consórcios construtores das hidrelétricas estariam fazendo outra coisa por aqui? Estão garimpando a energia do rio e já produzem danos ambientais infinitamente maiores que de Bom Futuro. Não ligam a mínima para o que vai acontecer depois. Mudou o leito do rio? Inundou? Desbarrancou as margens? Ô dó. Interessa é que a riqueza possa cair diretamente nos cofres de São Paulo, que ficará com toda a receita do ICMS. Para Rondônia sobrarão os minguados royalties e o que de banana eles puderem comprar, o leitor pode imaginar para quê. E nossas autoridades fazem contra isso exatamente nada. Qualquer manifestação contrária já tem resposta pronta: “Quer dinheiro”. E a devastação continua. Se a Sedam finalmente decidir agir e cassar a licença ambiental “dasusina”, o mais provável é que, ao invés de receber aplausos por sua atitude, seja acusada de levantar fundos para a campanha de Nancy Rodrigues e Confúcio Moura.
Mas o estado precisa exatamente disso: atitude.Para fazer as coisas andarem na direção favorável aos nossos interesses. O Governo Federal continua com a tática de compensar uma promessa não cumprida com uma nova promessa, como que rolando indefinidamente sua dívida para com o estado. Enquanto isso, suga religiosamente R$ 15 milhões mensais de nosso FPM por conta da dívida do Beron. Rondônia é o único estado que tem pago compulsoriamente as parcelas. E o Banco Central já admitiu, em documento que deixou escapar, que o banco possuía à época dinheiro retido nos depósitos compulsórios ao Bacen suficiente para honrar sua dívida. E mais: quando o Banco do Brasil pagou pelos correntistas que arrecadou com a história de abrir agências – tarefa exclusivamente sua, como banco social - e incorporar servidores? Quanto faturou com o crédito consignado – risco zero – para dezenas de milhares de servidores? Quanto pagou ao estado por esta mina de ouro?
E a transposição, que poderia representar uma economia de no mínimo R$ 30 milhões para o Estado? O Governo Federal burlou a lei aprovada no Congresso, cassou os direitos dos servidores contratados até 1991 e está aplicando um solene cano do demais. Daqui a pouco dona Dilma volta aqui em campanha. Será capaz de esquecer o que já disse e prometer de novo a transposição. Enquanto isso, seu governo protela ao máximo o cumprimento da decisão do Supremo que transfere para os quadros da União, por decisão judicial, 1.200 policiais militares. A Advocacia Geral da União tem usado e abusado de recursos protelatórios. Só falta entrar com embargos infringentes. É mais que passada a hora de se rebelar contra tudo isso. O Estado tem sido obrigado a fazer economia de guerra por conta de uma crise que não existiria se a União pagasse o que nos deve. Mas é preciso cobrar. E antes das eleições. Porque, depois, babau.
Alonguei demais o texto e, com o devido perdão do leitor, permito-me continuar o assunto amanhã.
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