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Gente de Opinião

Carlos Henrique

Vitória das ruas: Dilma desiste dos 6 mil cubanos


 

Apavorado com as manifestações duas ruas, engrossadas pela mobilização dos médicos e estudantes de medicina em todo o país, o governo petista recuou da ideia de negociar com o governo cubano a contratação “terceirizada” de seis mil médicos – defendida pelo chanceler Antônio “patridiota” como "uma cooperação que tem grande potencial e à qual atribuímos valor estratégico". A estratégia à qual se referiu é aquela referendada pelo chamado “Fórum de São Paulo”, para manutenção da esquerda no poder a qualquer custo. Não colou.

 
O problema da caótica situação da saúde pública no Brasil não é gerado apenas pela falta de médicos na periferia das cidades e nos rincões mais afastados – Rondônia incluída – mas pela falta de seriedade ou vergonha na cara como dizem acertadamente os manifestantes. Faltam médicos, mas mesmo onde eles existem faltam leitos nos hospitais, faltam até macas para instalar os pacientes nos corredores. Faltam medicamentos e aparelhagem. Faltam cadeiras e, se ouvessem, faltaria espaço para colocá-las.
 
Só não falta dinheiro: o que existe daria para criar um plano de carreira digno para os médicos e adquirir o mínimo necessário para uma saúde pública pelo menos satisfatória – o que já significaria o paraíso para aqueles que dela dependem. Mas para isso seria necessário estancar a sangria da corrupção e dar aos recursos sua destinação correta. Falta governo. Falta sensibilidade, humanidade e espírito Cristão. E isso o PT não conseguiu aprender em seus dez anos de poder. Não sei se o próximo governo conseguirá uma solução para o problema. Mas tenho certeza de que o atual não vai.
 
Reproduzo aqui a carta assinada pela médica Juliana Myssen, que circula na internet. Sobre ela, tenho certeza, a presidente não foi informada ou, se foi, não deu a atenção que merece, especialmente pela comovedora sinceridade:
 
 
"O dia em que a Presidenta Dilma, em 10 minutos,
 cuspiu no rosto de 370.000 médicos brasileiros."
 
"Há alguns meses eu fiz um plantão que chorei. Não contei a ninguém (não é nada fácil compartilhar isso numa mídia social). Eu, cirurgiã-geral, "do trauma", médica "chatinha", preceptora "bruxa", que carrego no carro o manual da equipe militar cirúrgica americana que atendia no Afeganistão, chorei. 

Na frente da sala da sutura tinha um paciente idoso internado. Numa cadeira. Com o soro pendurado na parede num prego similar aos que prendemos plantas (diga-se: samambaias). Ao seu lado, seu filho. Bem vestido. Com fala pausada, calmo e educado. Como eu. Como você. Como nós. Perguntava pela possibilidade de internação do seu pai numa maca, já que estava há mais de um dia na cadeira. Ia desmaiar.
 
Esperou, esperou, e toda vez que abria a portinha da sutura ele estava lá. Esperando. Como eu. Como você. Como nós. Teve um momento que ele desmoronou. Se ajoelhou no chão, começou a chorar, olhou para mim e disse "não é para mim, é para o meu pai, uma maca". Como eu faria. Como você. Como nós. 
 
Pensei: "meudeusdocéu, com todos que passam aqui, justo eu... Nãoooo..... Porque se chorar eu choro, se falar do seu pai eu choro, se me der um desafio vou brigar com 5 até tirá-lo daqui". E saí, chorei, voltei, briguei e o coloquei numa maca retirada da ala feminina.
 
Já levei meu pai para fazer exame no meu HU. O endoscopista quando soube que era meu pai, disse "por que não me falou, levava no privado, Juliana!" Não precisamos, acredito nas pessoas que trabalham comigo. Que me ensinaram e ainda ensinam. Confio. Meu irmão precisou e o levei lá. Todos os nossos médicos são de hospitais públicos que conhecemos, e, se não os usamos mais, é porque as instituições públicas carecem. Carecem e padecem de leitos, aparelhos, materiais e medicamentos.
 
Uma vez fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu hospital universitário. No consultório de um professor ele me pergunta: "e você confia?". Respondi: "Se confio para os meus pacientes tenho que confiar para mim."
 
Eu pratico a medicina. Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá rugas, lágrimas, mas eu ainda acredito na medicina. Me faz melhor. Aprendo, cresço, me torna humana. Se tenho dívidas, pago-as assim. Faço porque acredito. Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor. Menos corrupto. Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais macas. Com hospitais melhores, mais equipamentos e que não faltem medicamentos. Um SUS melhor.
 
Briguei pelo filho do paciente ajoelhado. Por todos os meus pacientes. Por mim. Por você. Por nós. O SUS é nosso. Não tenho palavras para descrever o que penso da "Presidenta" Dilma. (Uma figura que se proclama "a presidenta" já não merece minha atenção). Mas hoje, por mim, por você, pelo meu paciente na cadeira, eu a ouvi.
 
Ouvi dizendo que escutou "o povo democrático brasileiro". Que escutou que queremos educação, saúde e segurança de qualidades. "Qualidade"... Ela disse. E disse que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil... Para melhorar a qualidade...?
 
Sra. "presidenta", eu sou uma médica de qualidade. Meus pais são médicos de qualidade. Meus professores são médicos de qualidade. Meus amigos de faculdade. Meus colegas de plantão. O médico brasileiro é de qualidade.
 
Os seus hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem qualidade. O seu governo é que não tem qualidade. O dia em que a Sra. "presidenta" abrir uma ficha numa UPA, for internada num Hospital Estadual, pegar um remédio na fila do SUS e falar que isso é de qualidade, aí conversaremos. Não cuspa na minha cara, não pise no meu diploma. Não me culpe pela sua incompetência.
 
Somos quase 400mil, não nos ofenda. Estou amanhã de plantão, abra uma ficha, eu te atendo. Não demora, não. Não faltam médicos, mas não garanto que tenha onde sentar. Afinal, a cadeira é prioridade dos internados.
 
Hoje eu chorei de novo."

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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