Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Esmeraldo Farias

Festa Memorável


Celebramos a cada ano a Festa do Corpo de Cristo. No ano de 1264,  o Papa Urbano IV pediu que toda a Igreja celebrasse essa festa a fim de que a Eucaristia fosse sempre o centro de toda a vida da Igreja. A celebração foi crescendo em muitos lugares, até que em 1269, a cidade de Colônia na Alemanha teve a ideia de realizar a procissão com o Santíssimo Sacramento após a celebração Eucarística. Esse costume foi logo seguido por outras dioceses e hoje é assumido em todo o mundo. Em alguns lugares, com muita solenidade. Isto vemos também no Brasil, desde o tempo de Colônia.

É uma festa memorável porque nasce do mandato de Jesus Cristo aos apóstolos na última ceia: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).

Fazendo memória, participamos dos acontecimentos salvadores. No livro do Êxodo, vemos como a participação no fato lembrado acontece graças à participação no rito celebrado. “Moisés disse ao povo: “Lembrai-vos deste dia, em que saístes do Egito, da casa da escravidão; pois com mão forte Iahweh vos tirou de lá; e, por isso, não comereis pão fermentado. (...) Guardarás este rito neste mês de Abib. Naquele dia, assim falarás a teu filho: “Eis o que Iahweh fez por mim, quando saí do Egito. E será como um sinal na tua mão, um memorial entre os teus olhos...” (cf. Ex 13,3.6.8-9).

“O memorial traz o fato recordado e ritualmente presente, hoje. Dessa forma, possibilita que as pessoas que participam da festa estejam incluídas na relação de aliança de todo o seu povo com o Senhor e que a libertação seja um fato contínuo, até a plena realização das promessas do Senhor”. (Ione – O Mistério Celebrado: Memória e Compromisso, Paulinas, vol. 9, p. 78).

Na celebração Eucarística, em resposta ao Eis o Mistério da Fé, a assembleia litúrgica proclama: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e  proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor, Jesus!”

Pela ação ritual acontece para nós, hoje, a Páscoa de Jesus, no contexto da nova aliança. “A entrega de Jesus, sua morte-ressurreição que aconteceu uma única vez (Heb 10,10-18), torna-se presente para nós pela ação litúrgica, ou seja, toda vez que fazemos memória desses fatos e de nossa salvação: “Todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26). Não se trata de repetição, mas de uma atualização. O passado é trazido para o presente, no hoje da celebração litúrgica. Pela ação memorial também o futuro torna-se presente, a vinda gloriosa do Senhor é antecipada na ação ritual; a realização escatológica – do fim – já está presente no memorial; já estamos antegozando dela no momento celebrativo (Sc 8).

Podemos ver como esses três momentos ou três dimensões da “memória” litúrgica estão presentes na aclamação mais importante da celebração eucarística: Anunciamos, Senhor...:

a) Anunciamos a morte do Senhor e proclamamos sua ressurreição que aconteceram no passado.

b) Ao fazer isso, pela força do Espírito Santo, no momento litúrgico atual, hoje, Deus nos faz passar da morte para a vida.

c) Enquanto celebramos e cantamos “Vinde, Senhor Jesus!”, ou “até que ele venha”, evocamos a realidade futura na qual acreditamos: O Reino de Deus plenamente realizado, penetrando toda a realidade  (Ione, O Mistério Celebrado: Memória e Compromisso, Paulinas, vol. 9 ps. 79-80).

O memorial da antiga e da nova Páscoa só tem sentido no contexto da aliança com o Senhor. Aí, ele toma a iniciativa, por amor, por gratuidade, compaixão, ternura. O povo pratica infidelidade, mas Ele é fiel e, em Jesus Cristo, sela esta fidelidade, de tal modo que, quando somos fiéis é o próprio Cristo que, em nós está sendo fiel.

Somos chamados a viver e celebrar esse memorial na realidade dos pobres com quem Jesus mesmo se identifica para que, a cada dia, possam experimentar a fidelidade de Deus que, em Jesus Cristo, renova sempre a aliança tornando o povo seu povo e tornando-se o Deus desse povo. Não  podemos, no entanto, estabelecer tempo para que aconteça a libertação desse povo. O fundamental é que sejamos Ministros discípulos Missionários a apontar a pessoa e a Missão de Jesus Cristo de quem as pessoas e comunidades devem se aproximar para celebrar em comunidade o Mistério da sua Páscoa: “aproximemo-nos, então, com segurança do trono da graça para conseguirmos misericórdia e alcançarmos graça, como ajuda oportuna” (Heb 4,16). “Sem esmorecer, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa. Velemos uns pelos outros para nos estimularmos à caridade e às boas obras. Não deixemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Procuremos, antes, animar-nos sempre mais, à medida que vedes o Dia se aproximar” (Heb 10,23-25).

Todos somos chamados a acolher esse Mistério Pascal para que nele sejamos mergulhados. É claro que para tanto, não pode faltar a nossa aproximação das pessoas, especialmente daquelas que não têm nenhuma ou pouca participação na vida da Igreja, para que se possa acompanhá-las no processo de iniciação cristã oferecendo, em etapas, a possibilidade desse encontro vivo  com Jesus Cristo. É um grande trabalho missionário hoje que precisa ser incentivado e assumido em cada paróquia, em todas as comunidades com seus grupos, pastorais, movimentos...

Celebrar de modo festivo esta grande memória da nossa redenção, significa reassumirmos o compromisso de participarmos de modo especial e continuado das celebrações nos finais de semana na certeza de que estamos realizando o que Jesus ordenou: “Fazei isto em memória de mim”.

Mas, é evidente que o cumprimento do mandato de Jesus não pode se restringir à nossa presença na comunidade, porque a celebração litúrgica é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana a sua força (SC 10). Sendo assim, somos chamados a viver durante a semana o que celebramos festivamente e de modo comunitário a cada domingo e levar para o domingo nossa ação de graças, nossos desafios, alegrias e sofrimentos da semana.

Em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, pedimos a graça para que, “na força da Eucaristia, sejamos sempre livres para servir”, especialmente os mais pobres, os que sofrem com a enchente do Rio Madeira, os doentes...

A festa do corpo de Cristo seja sempre memorável na certeza da celebração da Memória da Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo em nossa vida e da nossa vida à luz da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Em outro momento, aprofundaremos mais o tema da Eucaristia.

Deus abençoe todos. D. Esmeraldo.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Um planta, outro rega

Um planta, outro rega

Dom Esmeraldo Barreto de Farias   Um planta, outro rega. “O importante é aquele que faz crescer: Deus”. (1Cor 3,7). S. Paulo, escrevendo à comunidade

Papa Francisco transfere dom Esmeraldo Barreto para São Luís (MA)

Papa Francisco transfere dom Esmeraldo Barreto para São Luís (MA)

Na manhã desta quarta-feira, 18 de março,  o papa Francisco nomeou dom Esmeraldo Barreto de Farias como bispo auxiliar de São Luís (MA), transferindo-

Dom Esmeraldo convida para as celebrações da 4ª feira de cinzas

Dom Esmeraldo convida para as celebrações da 4ª feira de cinzas

 Durante entrevista na TV Rondônia, o Arcebispo de Bispo de Porto Velho  Dom Esmeraldo convida a população para as celebrações da 4ª feira de cinzas

Pensando o Brasil: Desafios diante das Eleições 2014

Pensando o Brasil: Desafios diante das Eleições 2014

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua assembleia geral de maio 2014, como tem feito em anos anteriores, publicou   algumas consid

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)