Terça-feira, 1 de julho de 2014 - 09h16
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) trabalhou em sua última assembleia geral (maio próximo passado) o texto intitulado “cristãos leigos (as) na Igreja e na sociedade (Sal da Terra e Luz do Mundo)”.
Como texto de Estudos da CNBB, o subsídio já foi enviado a todas as dioceses do Brasil a fim de que possa ser refletido entre os leigos(as), consagrados(as), conselhos pastorais, conselhos de leigos(as), diáconos, presbíteros e bispos. As sugestões deverão ser encaminhadas à comissão da CNBB encarregada de apresentar o texto modificado na próxima assembleia.
O Concílio Vaticano II, grande reunião dos bispos do mundo inteiro realizada em alguns períodos de outubro de 1962 a dezembro de 1965, cujo cinquentenário do seu encerramento estaremos celebrando em 2015, trouxe uma nova visão do cristão leigo(a) ao afirmar: “Por leigos entende-se aqui o conjunto dos fiéis, com exceção daqueles que receberam uma ordem sacra ou abraçaram o estado religioso aprovado pela Igreja, isto é, os fiéis que, por haverem sido incorporados em Cristo pelo batismo e constituídos em povo de Deus, e por participarem a seu modo do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo realizam na Igreja e no mundo, na parte que lhes compete, a missão de todo o povo cristão” . E acrescenta: A índole secular é própria e peculiar dos leigos (...) Aos leigos compete, por vocação própria, buscar o reino de Deus, ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, no meio de todas e cada uma das atividades e profissões, e nas circunstâncias ordinárias da vida familiar e social, as quais como que tecem a sua existência. Aí, os chama Deus a contribuírem, do interior, à maneira de fermento, para a santificação do mundo, através de sua própria função; e, guiados pelo espírito evangélico e desta forma, a manifestarem Cristo aos outros, principalmente com o testemunho da vida e o fulgor da sua fé, esperança e caridade. A eles, portanto, compete muito especialmente esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos, de tal maneira que sempre se realizem segundo o espírito de Cristo, se desenvolvam e louvem o Criador e Redentor” (LG 31).
Esta visão é importante porque, geralmente, a palavra leigo indica alguém que não tem conhecimento do assunto. Mesmo depois de cinquenta anos, esta visão positiva do leigo ainda não está de todo assimilada. Então, todos necessitamos descobrir e assumir que o cristão leigo(a) tem uma missão muito bonita e fundamental na sociedade e na Igreja e esta missão lhe é dada por Deus já no Batismo; sendo confirmada na Crisma.
O mesmo Concílio dedicou um de seus documentos ao Apostolado dos Leigos. Vinte e cinco anos depois, o Papa João Paulo II convocou um Sínodo sobre a vocação e a missão dos cristãos leigos(as) na Igreja e no mundo e publicou em 1988 uma exortação apostólica sobre o assunto, com o título de “Christifideles laici”. Em 1999, a assembleia geral da CNBB fez conhecer um documento importante sobre Missão e Ministérios dos cristãos leigos. O Papa Francisco, na exortação apostólica “Alegria do Evangelho” (EG), dá muita importância à missão dos cristãos leigos e leigas na vida da Igreja e na sociedade. Veja a profundidade dessas palavras do Papa: “Cada um dos Batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva não precisa de muito tempo de preparação para sair a anuncia-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos mais que somos “discípulos” e “missionários”, mas sempre que somos “discípulos missionários” (EG 120).
Durante este ano, temos a oportunidade de refletir sobre o texto de Estudos, a fim de aprofundarmos este assunto. Aqui, apresento alguns aspectos gerais.
1. Irmandades, Confrarias, Associações e a Ação Católica
Antes do Concílio Vaticano II, os leigos(as) no Brasil foram se organizando através das Irmandades, Confrarias, e Associações (algumas vieram ainda do tempo colonial com características mais sócio-religiosas numa dimensão mais espiritual e/ou de assistência). Na década de 1930, o Cardeal Sebastião Leme, do Rio de Janeiro, e outros bispos buscaram articular várias formas organizativas dos leigos. Para ajudar nesse trabalho, foi criada a Confederação das Associações Católicas com atuação especial no Rio de Janeiro, são Paulo e Olinda e Recife. Em 1935, foi oficializada a Ação Católica Geral e mais tarde a Ação Católica especializada, articulada em âmbito nacional. Esta procurava atingir os jovens através dos vários setores: juventude agrária católica (JAC), estudantil (JEC); operária (JOC); profissionais liberais ou independentes (JIC), universitária (JUC). Esse modo organizativo muito contribuiu para que os católicos aí associados fossem descobrindo que a sua missão na Igreja e na vida da sociedade decorria do batismo. Isto era e é muito importante porque, às vezes, pode-se dar a impressão que a ação dos leigos(as) depende do mandato do padre ou do bispo. Essa consciência de que a missão provém do batismo e que se faz necessário uma organização em vista de sua atuação não conduzia a uma independência onde cada grupo seguisse por sua livre vontade, mas a uma integração com o que a diocese com suas paróquias fossem organizando.
Lembro-me muito bem de Júlia que, no início dos anos 60 no município de S. Miguel das Matas – BA, desempenhou um papel importantíssimo e em seguida foi escolhida como secretária nacional da JAC. O município onde nasci é vizinho de S. Miguel das Matas.
2. Importância das Comunidades Eclesiais de BASE (CEBs)
Na década de sessenta, vemos o nascer e florescer das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que se tornaram forte oportunidade para a participação e formação da consciência e missão dos leigos(as) tendo como centro a Palavra de Deus e as realidades dos pobres. Essa privilegiada forma de vivência comunitária se espalhou pelo Brasil, em especial pelas periferias das cidades, área rural e ribeirinha. Na Conferência de Medellín (1968), ganhou reconhecimento: “a comunidade cristã de base é o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé, como também pelo culto que é sua expressão. É ela, portanto, célula inicial de estruturação eclesial e foco de evangelização e atualmente fator primordial de promoção humana e de desenvolvimento” (Med 15,10). O Papa Paulo VI, na exortação apostólica sobre a Evangelização no mundo contemporâneo de dezembro de 1975, destaca:“O Sínodo ocupou-se largamente destas "pequenas comunidades" ou "comunidades de base", dado que, na Igreja de hoje, elas são frequentemente mencionadas” (EN 58) A partir de 1975, foram organizados os encontros intereclesiais. O último aconteceu em Juazeiro do Norte (CE) em janeiro próximo passado, reunindo mais de quatro mil animadores(as) de CEBs de todo o Brasil, além de outras pessoas provenientes de países da América Latina, Europa, África... O Papa Francisco enviou uma mensagem especial para a abertura desse 13º encontro realizado no Ceará, incentivando as CEBs.
3. As Pastorais Sociais e a Participação dos Cristãos Leigos (as).
A participação nas Comunidades eclesiais foi também importante para que muitos leigos(as) pudessem perceber a situação de sofrimento de tantas pessoas e grupos e se disponibilizassem para atuar como membros das pastorais sociais que “significam a solicitude e o cuidado de toda a Igreja missionária diante de situações reais de marginalização exclusão e injustiça” (Texto de Estudos sobre os Cristãos Leigos e Leigas, nº 193). Em muitas dioceses, a atuação das pastorais sociais tem deixado uma marca singular profética de solidariedade, indo além do assistencialismo. Entre as principais pastorais sociais, citamos: Pastoral da Criança, do Menor, da Sobriedade, da Pessoa Idosa, Afro-Brasileira, Carcerária, Familiar, dos Migrantes, da Mulher Marginalizada, dos Nômades, dos Pescadores, da Saúde, da Mobilidade Humana, dos Brasileiros no Exterior. Temos ainda várias entidades que são ligadas à CNBB, como: Comissão de Justiça e Paz, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Centro Nacional de Fé e Política (CEFEP)...
4. A presença e atuação dos Jovens
A atenção da Igreja não descuidou dos jovens que continuam participando da vida da Igreja e atuando na vida da sociedade. Para isto, temos as Pastorais da Juventude e outras expressões juvenis ligadas a movimentos eclesiais, congregações religiosas e novas comunidades. A CNBB incentivou e sugeriu que, em cada diocese, fosse dinamizado o setor juventude reunindo as várias expressões juvenis em vista de um trabalho de conjunto procurando estar mais próximos dos jovens. É uma forma de colaborar para que os leigos(as) jovens encontrem maior espaço na vida da Igreja e também da sociedade. Na arquidiocese de Porto Velho, o setor Juventude está se fortalecendo. Um sinal importante foi o lançamento, no dia da Festa de Pentecostes, da primeira Cartilha para as várias expressões juvenis. Esta Cartilha nasceu dos encontros e da reflexão com as lideranças dos vários grupos ligados à Igreja Católica que trabalham com jovens e de uma pesquisa feita com a participação de mais de quinhentos jovens. Estão previstas mais outras quatro Cartilhas para o final deste ano e para 2015.
5. Na estrutura pastoral paroquial e diocesana, tem se fortalecido a presença dos leigos(as) nos Conselhos pastorais e econômicos em nível de Paróquia, de região, de diocese; além do Conselho Diocesano, Regional e Nacional dos Leigos(as).
Concluo este breve escrito pedindo permissão ao Prof. José Detoni (de Porto Velho) para citar as trovas de sua autoria relacionadas com o texto “Estudos da CNBB 107” sobre os Cristãos Leigos (as) e também agradecendo pro esse trabalho.
O grande Vaticano II
Pra Igreja trouxe dias melhores
O Espirito iluminou a todos
E viu-se que não há maiores
Se Ele veio para servir
Os leigos não são cristãos “menores”.
A grande tecnologia
Uniu a todos sem eufemismo
Mas, por estranha contradição,
Produz isolacionismo
O maior perigo do homem
Ainda é o individualismo.
Entre mundanidade e vida cristã
Parece existir contradição
Deus não fez coisa errada
Possível é a superação
O leigo no mundo inserido
Pode ser um bom cristão.
Superar o antagonismo
Entre a Igreja e mundo “frio”
Exige discernimento,
Coragem e muito brio
O leigo ser sal da terra
E do mundo é o desafio.
Deus é o Senhor da história
Desde tempos imemoriais
A Igreja a Ele fiel
Entende as épocas nunca iguais
E sempre se atualizando
Lê dos temos os sinais.
Vencer o egoísmo
É começo de vitória
É no dialogo com o outro
Que a missão é encarnatória
A Igreja não está alienada
Ela se insere na história.
Na alegria o Ressuscitado
A todos envia na missão
De superar o egoísmo
E produzir amor, paz e união
Produzir comunidade
Isso é meta do cristão.
Grupos, grupinhos e grupelhos
O espírito da Igreja ultrapassa
Com muitas, regras e regrinhas
A ação se amordaça
O laicato é sal da terra
E fermento é na massa.
Ser Igreja é superar
Visão fechada, individual
É assumir responsabilidade
Com o outro sendo igual
Formar Igreja é portar-se
Como sujeito eclesial
Acima do bem e do mal
A fraternidade almeja
Pra superar o egoísmo
Não é fácil a peleja
Mas é na solidariedade
Que o cristão constrói Igreja.
Superar o clericalismo
É formar consciência eclesial
A hierarquia só é cristã
Se for serviço ao igual
Todos formamos o Reino
A partir da marca batismal.
Na “Christifideles” e outros
Avanços houve extraordinários
A hierarquia tornou consciência
De não guardar tesouro nos armários
Sem secundárias distinções
Somos todos missionários.
O Batismo é marca e fonte;
Qualquer cristão tem em seu peito
Não ensimesmar-se, nem ter massa
A realidade é dura, tem defeito
Mas o Cristão põe a mão à obra
Tornando-se eclesial sujeito.
Deus abençoe você e sua família. D. Esmeraldo.
(PS: em outros momentos, abordarei outros aspectos do Texto de Estudos 107 da CNBB).
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