Sábado, 20 de março de 2010 - 09h50
Na semana que antecede a Semana Santa, vamos recordar os 30 anos da morte de Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado no dia 24 de março de 1980, com um só disparo no coração, por militares do exército, quando celebrava a missa.
Considerado o líder mais popular do país nasceu em 1917 de uma família modesta em Ciudad Barrios , El Salvador. Com 14 anos entrou no seminário e em 1942 foi ordenado sacerdote. Nomeado bispo auxiliar de Sal Salvador em 1970, bispo da diocese de Santiago de Maria (1974) e arcebispo de El Salvador, em 1977. Com o assassinato do padre jesuíta Rutílio Grande, comprometido com o povo e seu amigo, Dom Romero se “converte”, colocando-se corajosamente do lado dos oprimidos, denunciando a repressão e a violência estrutural. O momento mais forte da sua ação, em defesa dos direitos humanos, são as homilias dominicais, nas quais analisa a realidade da semana à luz do evangelho. Transmitidas pela rádio católica, são ouvidas em todo canto do país, dando esperança ao povo e suscitando o ódio dos poderosos.
Na homilia de 23 de março, ele se dirige aos homens do exército, da Guardia Nacional e da Polícia: “Frente à ordem de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: NÃO MATARÁS! Ninguém deve obedecer a uma lei imoral .. Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: cesse a repressão!”. Serão as últimas palavras do bispo ao país. No dia seguinte, ele é assassinado enquanto reza a missa na capela do Hospital da Divina Providência. O mandante do crime é reconhecido como responsável, mas nunca foi processado.
Um grupo de bispos latino-americanos, no dia 29 de março de 1980, às vésperas dos funerais de dom Romero, assinou um documento que dizia: “Três coisas admiramos e agradecemos no episcopado de dom Oscar Romero: ele foi anunciador da fé e mestre da verdade; um resoluto defensor da justiça; amigo, irmão e defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados”. Ele é o símbolo de toda uma Igreja e de um continente latino-americanos, verdadeiro servo sofredor de Yahwé, que carrega o pecado, a injustiça e a morte de nosso continente. Embora, às vezes, o pressentíamos, seu assassinato não nos surpreendeu; seu destino não podia ser outro, pois ele foi fiel a Jesus e se inseriu de verdade na dor de nossos povos.
Ao escrever sobre Dom Romero, o bispo emérito de San Cristobal de las Casas, Dom Samuel Riz Garcia, afirma que sua morte não foi um fato isolado e faz parte do testemunho de uma Igreja que, tanto em Medellín, como em Puebla, optou, a partir do Evangelho, pelos pobres e oprimidos. Por isso, agora compreendemos melhor, desde seu martírio, a morte por fome e doença, realidades permanentes em nossos povos; assim como os incontáveis martírios, as incontáveis cruzes que pontuam nosso continente nestes anos: camponeses, moradores das periferias, operários, estudantes, sacerdotes, agentes de pastoral, religiosas, bispos encarcerados, torturados, cristãos de várias etnias assassinados por acreditarem em Jesus Cristo e amarem os pobres. São como a morte de Jesus, fruto da injustiça dos homens e, ao mesmo tempo, semente da ressurreição.
Em Puebla tive a oportunidade de encontrar-me com este arcebispo, irmão no episcopado, que em tão pouco tempo depois teria sua vida ceifada por mãos criminosas. Ele participou em 1979 da Conferência Geral dos Bispos Latino-americanos em Puebla, identificou-se plenamente com o apelo dos bispos à “conversão de toda a Igreja para uma opção preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação” (Puebla 1134).
Logo depois de voltar da Conferência de Puebla, dom Romero reza uma missa na catedral. “O povo interrompeu várias vezes minha homilia com carinhosos aplausos. Terminada a missa, cumprimentei os sacerdotes presentes e saí acompanhado pelas aclamações do povo, para saudar os que tinham ficado do lado de fora da Igreja. Foi um momento carinhoso..tive a sensação de estar numa família” (16/02/79). “O cristão, se não viver este compromisso de solidariedade com o pobre, não é digno de chamar-se cristão”, ele dizia. E continuava: “Por isso, os pobres marcaram o verdadeiro caminho da Igreja. Uma Igreja que não se une aos pobres para denunciar, a partir deles, as injustiças que se cometem contra eles, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo” (23/9/1979). Nisso, ele reconheceu sua missão como arcebispo: “Creio que fazer esta denúncia, na minha condição de pastor do povo que sofre a injustiça, seja meu dever. Isto me impõe o Evangelho, pelo qual estou disposto a enfrentar o processo e a prisão” (14/5/1978). Com muita clareza, na homilia de 8 de julho de 1979, afirmou: “Se nos cortarem a rádio, se nos fecharem o jornal, se não nos deixarem falar, se matarem todos os sacerdotes e até o arcebispo, e ficar um povo sem sacerdotes, cada um de vocês deve converter-se em microfone de Deus, cada um de vocês deve ser um mensageiro, um profeta”.
Duas semanas antes de sua morte, numa entrevista a um diário do México, disse: “Fui freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhe que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhum ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandado divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinarem. Se chegarem a cumprir-se as ameaças, desde agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, porém, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se transformará logo em realidade. Minha morte, se for aceita por Deus, que seja pela libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Você pode escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdôo e abençôo aquele que o fizer”. Não resta dúvida sobre o caráter martirial da morte de dom Romero. Iniciou-se, na América Latina, a época em que os cristãos, morrendo pela fé, dão sua vida pela justiça.
Os últimos dois anos de sua vida, ele registrava à noite em um gravador os principais fatos do dia. Lembrava-se deles e os comentava.
“Rezo ao Espírito Santo, para que me faça caminhar nas estradas da verdade e me mantenha sempre guiado unicamente por Nosso Senhor; jamais pelos elogios, nem pelo temor de ofender” (13/03/80). Tais palavras, pronunciadas dez dias antes da sua morte, resumem o seu projeto de vida.
Seu amor pela unidade da Igreja e do povo é o principal motivo do seu sofrimento, principalmente quando é incompreendido e acusado de ser fonte de divisão. Mas, Dom Romero inspira-se somente no Evangelho. Nele, encontra a força e a luz de sua luta e de suas propostas. Aos jornalistas que o interrogam sobre uma solução pacífica para a violência no país, responde com simplicidade evangélica: “Eu digo sempre que a melhor solução pacífica é um retorno ao amor e um verdadeiro desejo de busca de um diálogo. Isso deve basear-se em um clima de confiança – que tem de ser demonstrado com os fatos – para que o povo possa expressar as próprias opiniões em total liberdade e todos sejam admitidos ao diálogo”.
Dom Romero é morto enquanto celebra a Missa. Indefeso, porque sempre recusara as ofertas de proteção do governo. “Quero correr os mesmos perigos que o meu povo corre”, costumava repetir. Poucos minutos antes do crime, disse na homilia: “Neste cálice o vinho se torna sangue, que foi o preço da salvação. Possa este sacrifício de Cristo nos dar a coragem de oferecer nosso corpo e nosso sangue pela justiça e pela paz do povo”.
Fonte: Pascom
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