Com os jovens, estamos todos de luto. “Siga a Cruz”, este tem sido o constante convite da Jornada Mundial da Juventude e, desta vez, estamos presentes na Via Sacra da Juventude, junto à Cruz de Santa Maria, RS, compartilhando a dor das mães e pais que, nesta semana, perderam seus jovens filhos.
“Junto à cruz de Jesus estava de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse a mãe: Mulher, eis aí o teu filho! Depois disse ao discípulo eis a tua mãe!” (Jo 19,25-27).
Hoje, contemplamos Maria recebendo em seus braços o Filho de Deus, descido da cruz. Contemplamos também as mães que hoje choram pelos seus filhos; estes, mortos e feridos no incêndio de Santa Maria; aqueles, executados nesta semana na Síria, e nos colocamos em oração para que o Senhor Deus as conforte.
A Igreja acompanha com dor e solidariedade, este momento de profundo sofrimento vivido pelos feridos e pelas famílias dos que perderam centenas de filhos na tragédia do incêndio em Santa Maria (RS).
Em sua Nota de Solidariedade às famílias das vítimas e ao povo de Santa Maria, a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil assim se pronunciou: O Brasil está de luto e as comunidades de fé estão unidas em oração. Deus conduza a todos, nesta hora, para oferecer, aos mortos, dignidade e ambiente de reverência, aos pais e familiares, amparo e assistência, e aos feridos, todo o apoio e tratamento ágil e eficiente.
Unimo-nos ao arcebispo, ao clero e ao povo da arquidiocese de Santa Maria. A Palavra de Deus nos oferece luz para esse momento: “somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angustia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa existência mortal (2Cor 4,8-9).
A consciência cristã nos leva a manifestar também nosso apoio aos homens e mulheres de boa vontade que estão oferecendo ajuda junto às famílias e aos feridos e aos responsáveis pelo poder público que estão tomando as providências para o encaminhamento e solução dos problemas desse momento de aflição.
É momento de união e de solidariedade! A concreta participação de colaboração, o respeitoso silêncio e a oração movida pela fé nos faz reconhecer, mais uma vez, que somos todos membros de uma única família que sofre pela perda de tantos jovens, filhas e filhos queridos (CNBB).
Vivemos em um mundo onde o direito à vida é, constantemente, sobrepujado por outros direitos. Tragédias como a de Santa Maria nos arrancam desse mundo e nos jogam em uma dimensão onde as melhores possibilidades humanas parecem se manifestar: o Estado e a sociedade, as pessoas, isolada e coletivamente, se congregam numa comunhão terrena para tentar consolar os que estão sofrendo. A morte nos deixa sem palavras. Mas ela nos diz, insistentemente: é preciso, sempre, cuidar dos vivos e da vida (JornalistaMarco Aurélio Weissheimer, Jornal Carta Maior).
Para a juventude “que mora no coração da Igreja”, todos os segmentos eclesiais estão mobilizados para a realização da Campanha da Fraternidade, cujo lançamento está marcado para o próximo dia 13, quarta-feira de Cinzas.
Com o tema “Fraternidade e Juventude” e o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8), a Igreja propõe cuidado com os jovens e atenção a sua realidade. Propõe acolhê-los com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; auxiliá-los neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; maior solidariedade em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios da exclusão social, reavivando seu potencial de participação e transformação.
A Campanha, no contexto do Ano da Fé e da Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro, 23-28/07/2013), pretende mobilizar a Igreja e os segmentos da sociedade, a fim de se solidarizarem com os jovens, favorecendo-lhes espaços, projetos e políticas públicas que possam auxiliá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal, a se compreenderem como força de transformação para os novos tempos, a desenvolverem seu potencial comunicativo pelas redes sociais em vista da ética e do bem de todos, a assumirem seu papel específico na comunidade eclesial e no exercício do protagonismo que deles se espera, nas comunidades e na luta por uma sociedade que proporcione vida a todos.
O Documento de Aparecida pede que escutemos a voz do Espírito Santo, que fala às Igrejas, e nos remete a observar os sinais dos tempos.
A Igreja é chamada a ver e a acolher em atitude de conversão pastoral os jovens. O que eles dizem nem sempre é expresso por palavras e lógicas com que estamos acostumados. Seus sonhos e sofrimentos, manifestados de várias formas, precisam ser captados pela predisposição otimista do mundo adulto. Sua maneira de agir, de organizar e de coordenar favorece a aquisição de novos métodos, de linguagens e de instrumentais em vista da evangelização em mudança de época.
Portanto, todo o corpo eclesial é chamado a essa conversãopastoral e a uma renovada compreensão da missão apostólica: “É necessária uma firme atuação de todos os segmentos da Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades” (TB/CF 241-246).
O Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, Dom Eduardo Pinheiro da Silva, reafirma a opção da Igreja pela juventude: “Propomo-nos a acreditar mais nos jovens, como agentes de transformação, sujeitos de direitos, amigos privilegiados de Jesus Cristo, verdadeiros missionários entre os próprios colegas”.
Emprestemos os olhos dos jovens para enxergar com mais realismo os sofrimentos do mundo e as belezas do tempo presente! Escutemos com seus ouvidos o cântico que gera esperança e o grito daqueles que não conseguem nem mesmo gritar! Abramos nossas bocas e escancaremos palavras de incentivo aos jovens, convocando-os a se sentarem no lugar que por tanto tempo, em muitos ambientes, ficou vazio por nossa culpa! Afinemos nosso olfato para sentir o perfume da vida de tantos jovens que buscam viver com coerência sua vida de cristão e cidadão, exalando o desejo de santidade pessoal, de fraternidade universal, de sociedade sem misérias e violências! Aproximemos o nosso coração ao coração deles para nos renovarmos no ardor pela vida, na sensibilidade pelo presente, na paixão pelas pequenas coisas, na exigência pela verdade, na vibração pela vocação assumida. Sintamos nossas mãos agindo pelas mãos dos jovens! Caminhemos pelos novos areópagos que somente os jovens podem nos mostrar! Com eles, ousemos mudar aquelas estruturas arcaicas que não só não falam mais aos jovens, mas também não falam mais de Deus e de seu projeto de Reino.
Somente “uma pastoral bem organizada pode orientar os jovens a conhecer, a amar e a abraçar a Igreja, favorecendo lhes a responsabilidade de auxiliá-la em sua missão”.. (TB/CF 241-246).
Estamos convictos de que ao conhecer a sua Igreja e a partir de seu envolvimento, o jovem não só abraçará a missão eclesial de promover vida plena para todos, mas também saberá defendê-la, com sua própria linguagem e jeito, diante da sociedade, como instituição séria em favor de todos.
Nossas comunidades devem oferecer acolhida e oportunidades de participação aos jovens, auxiliá-los no processo de busca de respostassignificativas para sua existência e para sua fé. Devem ir ao encontro daqueles que estão em grave situação de risco, devido à omissão de um acompanhamento qualificado e à ausência de condições mínimas para uma vida digna.
Certamente, nossas comunidades, passando de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária, estarão plenamente integradas na sociedade, principalmente nos meios em que a vida da pessoa humana tem sido prejudicada. Dessa forma, a Igreja, além de se empenhar nas mudanças de suas estruturas, anunciará profeticamente a necessidade de transformações sociais, econômicas, políticas e culturais em favor dos jovens.