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Dom Moacyr

A economia em favor da vida



Nestes dias as comunidades cristãs preparam-se para viver o itinerário quaresmal a fim de se enriquecer com a graça da Ressurreição. A Quaresma é o tempo favorável de graça e reconciliação, de renovação da nossa caminhada de conversão e fortalecimento da fé, tempo de comunhão e solidariedade. 

Durante o período da Quaresma a Igreja promove a Campanha da Fraternidade, que neste ano é ecumênica e está sob a responsabilidade do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), do qual a Igreja Católica, a Igreja Luterana e Anglicana fazem parte, dentre outras. 

O que move as Igrejas a agir é a graça, o amor de Deus e o testemunho de sua fé em Jesus. As palavras de Jesus Cristo: “Nisto todos reconhecerão que vocês são meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros” (Jo 13,35), ecoam hoje no coração dos seus seguidores, que agem em resposta à missão que lhes vem de Deus em Cristo: a de serem testemunhas da fraternidade, justiça e paz sobre a terra. 

O CONIC apresenta como desafio para esta Campanha a busca de respostas às perguntas: como a fé cristã pode inspirar uma economia que seja dirigida para a satisfação das necessidades humanas e para a construção do Bem Comum? Em que medida existe responsabilidade das pessoas em relação à economia e como isso afeta a vida das pessoas e do meio ambiente? Que aspectos de conversão pessoal e de mudança estrutural poderiam ser considerados para que, de fato, a economia esteja a serviço da vida, promovendo o bem comum? Como fazer para que essas preocupações não sejam transitórias, mas se tornem, de fato, balizamento moral permanente? 

Movido pela fé em Deus, o CONIC não quer limitar-se a criticar sistemas econômicos. Principalmente, espera que a campanha mobilize igrejas e sociedade a dar respostas concretas às necessidades básicas das pessoas e à salvaguarda da natureza, a partir da mudança de atitudes pessoais, comunitárias e sociais, fundamentadas em alternativas viáveis derivadas da visão de um mundo justo e solidário. 

A Campanha da Fraternidade quer ajudar a construir novas relações, apontando princípios de justiça, denunciando ameaças e violações da dignidade e dos direitos, abrindo caminhos de solidariedade. A vida em fraternidade é expressão do Evangelho e testemunha a nossa condição de filhos e filhas de Deus. A fraternidade e a solidariedade suscitam uma sociedade em que todos se sintam como família, em paz, harmonia e segurança. 

Quaresma é tempo propício para a conversão, momento favorável, dia da salvação. No entanto, esta conversão não se limita ao tempo da quaresma, mas deve produzir frutos que a testemunhem e que permaneçam para a vida eterna. A CFE contribui para a vivência do espírito quaresmal, promovendo a conversão da pessoa em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e social. 

Nas três Campanhas da Fraternidade Ecumênicas, os temas se voltam para a valorização da pessoa, o cuidado da natureza e os grandes direitos dos seres humanos, compreendidos como filhos preciosos e amados do Criador. A Campanha do ano 2000 se inspirava nas muitas expectativas e reflexões motivadas pela virada do milênio. Seu tema era: “Dignidade humana e paz” e o lema escolhido foi: “Novo milênio sem exclusões”. Sua proposta foi o compromisso com o resgate da dignidade humana ferida nos porões da vida, à luz do sol e nos bastidores da política. É a nossa própria dignidade que está em jogo quando outras pessoas são humilhadas, por ações diretas contra elas ou pelas conseqüências das estruturas injustas que continuamos sustentando em nossa sociedade. 

Dando continuidade a esse propósito, em 2005 otema da Campanha que as Igrejas do CONIC promoveram foi: “Solidariedade e paz”, e o lema foi: “Felizes os que promovem a paz”. O crescimento da violência, o terrorismo e as guerras frustravam as esperanças de um milênio de paz. A solidariedade, expressão viva da fraternidade que deve unir todos os humanos foi proposta como a solução cristã e verdadeiramente humana, a atitude que deve inspirar as ações individuais e coletivas e ser a força que apaga a violência e traz a paz. 

Embora a palavra paz não apareça desta vez no tema e no lema desta Campanha, ela continua como horizonte amplo e profundo da reflexão e da ação. Sabemos que a paz é ilusória quando o interesse econômico sacrifica pessoas, cria desigualdades inaceitáveis e acaba sendo um ídolo que governa a vida da sociedade. Nesse espírito foram pensados o tema desta nova Campanha “Economia e vida” e seu lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24c). 

Nesta Campanha da Fraternidade queremos colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão. 

Este objetivo exige que haja justiça social, consciência ambiental, sustentabilidade, empenho na superação da miséria e da fome e, de um modo geral, que se considere com atenção especial, a dignidade da pessoa e o respeito aos direitos humanos. 

Para que este objetivo se concretize precisamos de uma ampla campanha para sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem; buscar a superação do consumismo, que faz com que o "ter" seja mais importante do que as pessoas; criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima, em vista do conhecimento mútuo e da superação tanto do individualismo como das dificuldades pessoais; mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da Justiça, como dimensão constitutiva do anúncio do Evangelho; reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica, em vista da própria conversão. 

Um ideal de justiça econômica que sirva e sustente a vida só poderá tornar-se realidade pela ampliação do exercício da democracia e se forem estabelecidas também metas para se atingir a plena sustentabilidade. 

Para se atingir os objetivos da CFE 2010 é preciso que adotemos as seguintes estratégias: 

Denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte. 

Educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como o bem mais precioso. 

Conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas. 

Esses objetivos e estratégias devem ser trabalhados em quatro níveis: social, eclesial, comunitário, pessoal. Desejamos a preservação da grande casa comum, o planeta Terra, planeta da vida e morada da família humana, em vista da sua sustentabilidade. Buscamos mudanças na economia, na administração dessa casa comum, em fraterna cooperação entre toda a sociedade: cristãos e cristãs, seguidores de diferentes religiões e pessoas de boa vontade. 

Possa a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 nos ajudar a compreender e a vivenciar os valores do Reino de Deus, a acreditar que uma nova sociedade, mais justa e solidária, é possível, e a construir um modelo econômico em que a vida esteja em primeiro lugar.

Fonte: Pascom

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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