Sábado, 4 de junho de 2016 - 20h01
Nesta semana, nosso olhar se volta para o silencio do povo brasileiro, sofrido, mas resistente, diante da desconstrução e desmanche das politicas públicas conquistadas nas últimas décadas.
Jesus, na liturgia deste domingo, apesar de seu envolvimento com a multidão, contempla o silencio e a dor de uma viúva que acabara de perder seu único filho.
Qual o significado destes dois silêncios e sua relação com os atuais acontecimentos quando constatamos que “conquistas democráticas de direitos de cidadania estão sendo postas em questão pelo atual governo, pois são vistos como entraves para a economia, para os negócios”?
Thiago de Mello escreveu em tempos difíceis e de repressão: “Faz escuro, mas eu canto”. A resistência e a rebeldia do povo permite que continuemos cantando e buscando sinais de esperança, pois “quem sofre fica acordado defendendo o coração; vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria, amanhã é um novo dia”.
Sempre engajados em movimentos de cidadania, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas sempre que solicitado, contribuiu conosco na assessoria e formação das pequenas Comunidades Eclesiais de Base na Amazônia e em todo o Brasil. O Ibase tem uma história institucional muito ligada à democratização do Brasil, em particular às lutas que permeiam a emergência da cidadania e a constituição da diversificada sociedade civil brasileira das três últimas décadas.
O diretor do Ibase, sociólogo Cândido Grzybowski, analisando a conjuntura fala da tristeza do povo com o momento atual que vivemos no Brasil e da democracia que está doente. O espaço público da política foi colonizado por interesses e forças que fazem tudo para se ocultar. Pior ainda é a corrupção que virou forma dominante de fazer política.
O verdadeiro câncer que corrói a política, em última análise, é sua dominação por interesses e forças corporativas privadas e privatizantes, que não representam diferenças na política, mas capturam o espaço da política a serviço de interesses nada públicos.
A corrupção na política – a mercantilização, na verdade, pois transformou tudo em determinado valor de mercado – como modo dominante do fazer política institucional. Vai governo e vem governo, a corrupção, como um câncer, revela as suas metástases. A democracia brasileira estancou aí. Ou transformamos isto pela força da cidadania ou morre a democracia. Sobreviver até podemos, mas sem a dignidade como cidadania instituinte e constituinte.
Será que nossos filhos e filhas, netos e netas, as novas gerações, enfim, vão conseguir fazer o que nós não fizemos, mudar substancialmente a lógica excludente e destrutiva da economia e do poder de “donos de gado e gente”? O diretor do Ibase aposta que sim, mas é tarefa para décadas e não apenas para meses e anos, mesmo tendo que começar no aqui e agora, (todos) nós juntos.
No Evangelho de hoje, uma lição de amor que gera a vida. A liturgia esta centrada na valorização da vida e na preferencia de Deus pelos pequenos e excluídos.
Jesus chega a Naim, rodeado de uma alegre multidão e se depara com o povo da aldeia que acompanha um enterro (Lc 7,11-17). Ao contemplar o rosto daquela viúva, “num gesto de compaixão e solidariedade, Jesus reintroduz em seu filho o sopro da vida, convida-o de volta à existência e, agindo assim, não resgata somente aquela vida, mas renova o ânimo de sua pobre mãe e de todos os que presenciaram aquele gesto de tamanha solidariedade”.
Ao manifestar sua bondade para com a viúva, Jesus revela que a Boa-Nova do Reino pertence, preferencialmente, aos que estão excluídos e marginalizados.
Ao contemplar o rosto da viúva, Jesus “contempla os rostos daqueles que sofrem”. Entre eles as comunidades indígenas e afro-americanas que, em muitas ocasiões, não são tratadas com dignidade e igualdade de condições; das mulheres excluídas, em razão de seu sexo, raça ou situação socioeconômica; dos jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família;
Dos pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; dos meninos/meninas submetidos à prostituição infantil, das crianças vítimas do aborto, das famílias vivem na miséria e passam fome, dos dependentes das drogas, das pessoas com limitações físicas, dos portadores e vítimas de enfermidades graves que sofrem a solidão e se vêem excluídos da convivência familiar e social:
Dos sequestrados e das vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da insegurança na cidade; dos anciãos que, além de se sentirem excluídos do sistema produtivo são recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis; dos presos que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna (DAp 65).
No Livro dos Reis, o profeta Elias tem consciência de que Deus é fonte de toda graça e, por isso, espera que ele manifeste a sua misericórdia para com a viúva que o hospeda; ao rogar a Deus para que a vida de seu filho seja devolvida, o Senhor atende seu pedido (1Rs 17,17-24), demonstrando que mesmo nas situações em que a vida está ameaçada, Deus é o baluarte, a fortaleza que protege nossas vidas.
Paulo Apostolo dá um testemunho de sua conversão, vocação e missão, relembrando o encontro que teve com Cristo ressuscitado, quando se dirigia a Damasco para prender cristãos (Gl 1,11-19). Atribui sua conversão à misericórdia de Cristo Jesus que lhe apareceu e revelou o evangelho que prega. Ele faz questão de dizer que não foi instruído por homem algum e que seu evangelho não é obra humana (Konings).
No próximo domingo, em todas as paroquias, abertura da 31ª Semana do Migrante, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Neste ano, o tema “Migração e Ecologia” e o lema “O grito que vem da Terra”, em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, nos convidam a contemplar o rosto dos migrantes entre nós e a revermos como está a nossa acolhida e inclusão.
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