Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

A força da Cidadania e da Solidariedade!


 
Nesta semana, nosso olhar se volta para o silencio do povo brasileiro, sofrido, mas resistente, diante da desconstrução e desmanche das politicas públicas conquistadas nas últimas décadas.

Jesus, na liturgia deste domingo, apesar de seu envolvimento com a multidão, contempla o silencio e a dor de uma viúva que acabara de perder seu único filho.

Qual o significado destes dois silêncios e sua relação com os atuais acontecimentos quando constatamos que “conquistas democráticas de direitos de cidadania estão sendo postas em questão pelo atual governo, pois são vistos como entraves para a economia, para os negócios”?

Thiago de Mello escreveu em tempos difíceis e de repressão: “Faz escuro, mas eu canto”. A resistência e a rebeldia do povo permite que continuemos cantando e buscando sinais de esperança, pois “quem sofre fica acordado defendendo o coração; vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria, amanhã é um novo dia”.

Sempre engajados em movimentos de cidadania, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas sempre que solicitado, contribuiu conosco na assessoria e formação das pequenas Comunidades Eclesiais de Base na Amazônia e em todo o Brasil. O Ibase tem uma história institucional muito ligada à democratização do Brasil, em particular às lutas que permeiam a emergência da cidadania e a constituição da diversificada sociedade civil brasileira das três últimas décadas.

O diretor do Ibase, sociólogo Cândido Grzybowski, analisando a conjuntura fala da tristeza do povo com o momento atual que vivemos no Brasil e da democracia que está doente. O espaço público da política foi colonizado por interesses e forças que fazem tudo para se ocultar. Pior ainda é a corrupção que virou forma dominante de fazer política.

O verdadeiro câncer que corrói a política, em última análise, é sua dominação por interesses e forças corporativas privadas e privatizantes, que não representam diferenças na política, mas capturam o espaço da política a serviço de interesses nada públicos.

A corrupção na política – a mercantilização, na verdade, pois transformou tudo em determinado valor de mercado – como modo dominante do fazer política institucional. Vai governo e vem governo, a corrupção, como um câncer, revela as suas metástases. A democracia brasileira estancou aí. Ou transformamos isto pela força da cidadania ou morre a democracia. Sobreviver até podemos, mas sem a dignidade como cidadania instituinte e constituinte.

Será que nossos filhos e filhas, netos e netas, as novas gerações, enfim, vão conseguir fazer o que nós não fizemos, mudar substancialmente a lógica excludente e destrutiva da economia e do poder de “donos de gado e gente”? O diretor do Ibase aposta que sim, mas é tarefa para décadas e não apenas para meses e anos, mesmo tendo que começar no aqui e agora, (todos) nós juntos.

No Evangelho de hoje, uma lição de amor que gera a vida. A liturgia esta centrada na valorização da vida e na preferencia de Deus pelos pequenos e excluídos.

Jesus chega a Naim, rodeado de uma alegre multidão e se depara com o povo da aldeia que acompanha um enterro (Lc 7,11-17). Ao contemplar o rosto daquela viúva, “num gesto de compaixão e solidariedade, Jesus reintroduz em seu filho o sopro da vida, convida-o de volta à existência e, agindo assim, não resgata somente aquela vida, mas renova o ânimo de sua pobre mãe e de todos os que presenciaram aquele gesto de tamanha solidariedade”.

Ao manifestar sua bondade para com a viúva, Jesus revela que a Boa-Nova do Reino pertence, preferencialmente, aos que estão excluídos e marginalizados.

Ao contemplar o rosto da viúva, Jesus “contempla os rostos daqueles que sofrem”. Entre eles as comunidades indígenas e afro-americanas que, em muitas ocasiões, não são tratadas com dignidade e igualdade de condições; das mulheres excluídas, em razão de seu sexo, raça ou situação socioeconômica; dos jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família;

Dos pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; dos meninos/meninas submetidos à prostituição infantil, das crianças vítimas do aborto, das famílias vivem na miséria e passam fome, dos dependentes das drogas, das pessoas com limitações físicas, dos portadores e vítimas de enfermidades graves que sofrem a solidão e se vêem excluídos da convivência familiar e social:

Dos sequestrados e das vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da insegurança na cidade; dos anciãos que, além de se sentirem excluídos do sistema produtivo são recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis; dos presos que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna (DAp 65).

No Livro dos Reis, o profeta Elias tem consciência de que Deus é fonte de toda graça e, por isso, espera que ele manifeste a sua misericórdia para com a viúva que o hospeda; ao rogar a Deus para que a vida de seu filho seja devolvida, o Senhor atende seu pedido (1Rs 17,17-24), demonstrando que mesmo nas situações em que a vida está ameaçada, Deus é o baluarte, a fortaleza que protege nossas vidas.

Paulo Apostolo dá um testemunho de sua conversão, vocação e missão, relembrando o encontro que teve com Cristo ressuscitado, quando se dirigia a Damasco para prender cristãos (Gl 1,11-19). Atribui sua conversão à misericórdia de Cristo Jesus que lhe apareceu e revelou o evangelho que prega. Ele faz questão de dizer que não foi instruído por homem algum e que seu evangelho não é obra humana (Konings).

No próximo domingo, em todas as paroquias, abertura da 31ª Semana do Migrante, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Neste ano, o tema “Migração e Ecologia” e o lema “O grito que vem da Terra”, em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, nos convidam a contemplar o rosto dos migrantes entre nós e a revermos como está a nossa acolhida e inclusão.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)