A Igreja dedica o IV Domingo de Páscoa, Domingo do “Bom Pastor”, aos pastores: ministros ordenados e animadores das comunidades eclesiais e das pastorais, aqueles que têm por missão “infundir a confiança e proclamar, perante quem quer que seja, as razões da esperança cristã” (1Ped 3,15; PG 3).
Jesus é o verdadeiro pastor (Jo 10,27-30). Ele conhece as suas ovelhas. Estas escutam sua voz e o seguem. Com bondade e ternura, ele acolhe a todos; seu agir revela um novo jeito de cuidar das pessoas.
Hoje é dia dos pastores e dia da pastoral. Trabalhar na pastoral de uma comunidade é estar a serviço da vida e liberdade do povo, continuando na história os atos libertadores de Jesus, o bom pastor. Ele nos mostra o sentido da ação pastoral: dar a vida pelas ovelhas (VP).
Reconhecemos o trabalho de numerosos agentes de pastoral que em comunhão com presbíteros, seminaristas e religiosos, “através do sacerdócio comum do povo de Deus” (DAp 157), participam e assumem os grandes desafios da Igreja da Amazônia. São eles e elas que levam para frente toda a vida de nossas comunidades, contribuindo para que testemunhem o dinamismo missionário do Reino. A experiência positiva de confiar a estes agentes de pastoral, áreas missionárias e comunidades ilumina nossas Igrejas a assumirem este caminho, pois acreditamos que neste início do terceiro milênio a Igreja necessariamente se expresse como Igreja ministerial (Doc.Disc.Mis.na Amazônia, 2007).
Estamos celebrando hoje, no contexto do Ano da Fé e do cinquentenário de abertura do Concílio Vaticano II, o quinquagésimo (50º)Dia Mundial de Oração pelas Vocações, com o tema: “As vocações sinal da esperança fundada na fé”.
Ao refletir a mensagem, escrita ainda por Bento XVI, que destaca este dia como um “significativo encontro anual que tem favorecido fortemente o empenho por se consolidar, no centro da espiritualidade, da ação pastoral e da oração dos fiéis, a importância das vocações para o sacerdócio e a vida consagrada”, vamos compreender melhor o fundamento de nossa vocação e esperança.
As vocações sacerdotais e religiosas nascem da experiência do encontro pessoal com Cristo, do diálogo sincero e familiar com Ele, para entrar na sua vontade. Por isso, é necessário crescer na experiência de fé, entendida como profunda relação com Jesus, como escuta interior da sua voz que ressoa dentro de nós. Este itinerário, que torna uma pessoa capaz de acolher o chamado de Deus, é possível no âmbito de comunidades cristãs que vivem uma intensa atmosfera de fé, um generoso testemunho de adesão ao Evangelho, uma paixão missionária que induza a pessoa à doação total de si mesma pelo Reino de Deus, alimentada pela recepção dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, e por uma fervorosa vida de oração.
Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e nos vê imersos nas nossas atividades, com os nossos desejos e necessidades. É precisamente no nosso dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. Vivente na comunidade de discípulos que é a Igreja, Ele chama também hoje a segui-Lo. E este apelo pode chegar em qualquer momento. Jesus repete: “Vem e segue-Me!” (Mc 10,21). Para acolher este convite, é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus, dar-Lhe verdadeiramente a precedência, antepô-Lo a tudo o que faz parte da nossa vida: família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos. Significa entregar-Lhe a própria vida, viver com Ele em profunda intimidade, por Ele entrar em comunhão com o Pai no Espírito Santo e, consequentemente, com os irmãos e irmãs. Esta comunhão de vida com Jesus é o “lugar” privilegiado onde se pode experimentar a esperança e onde a vida será livre e plena.
Em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, é sempre a fidelidade do Senhor, verdadeira força motriz da história da salvação, que faz vibrar os corações dos homens e mulheres e os confirma na esperança.
O fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada. Por este motivo, em toda a situação, seja ela feliz ou desfavorável, podemos manter uma esperança firme, rezando como salmista: “Só em Deus descansa a minha alma, d’Ele vem a minha esperança” (Sl 62,6). Ter esperança equivale a confiar no Deus fiel, que mantém as promessas da aliança. Por isso, a fé e a esperança estão intimamente unidas.
E em que consiste a fidelidade de Deus à qual podemos confiar-nos com firme esperança? Consiste no seu amor. Ele, que é Pai, derrama o seu amor no mais íntimo de nós mesmos, através do Espírito Santo (Rm 5,5). E é este amor manifestado plenamente em Cristo, que interpela a nossa existência, pedindo a cada qual uma resposta a propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para realiza-la plenamente.
O papa conclui sua mensagem reafirmando que a oração constante e profunda faz crescer a fé da comunidade cristã, na certeza sempre renovada de que Deus nunca abandona o seu povo e que o sustenta suscitando vocações especiais, para o sacerdócio e para a vida consagrada, que sejam sinais de esperança para o mundo. Quando um discípulo de Jesus acolhe o chamado divino para se dedicar ao ministério sacerdotal ou à vida consagrada, manifesta-se um dos frutos mais maduros da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e esperança para o futuro da Igreja e o seu empenho de evangelização.
Nesse sentido, vale para nós o questionamento do papa Joao XXII: Qual é o melhor testemunho da maturidade pascal da Igreja, em todas as dimensões: de paróquia, de diocese, de congregação, de país, de continente qual é, repito, o melhor testemunho desta alegria pascal, senão o crescimento das vocações? Que a humildade e a confiança de toda a Igreja, a entrega à Mãe de Deus produzam os frutos tão desejados (27/4/1980).
É na Igreja ministerial que acontece a corresponsabilidade de toda a comunidade pela missão da Igreja; ao se abrirem os horizontes dos ministérios, surgirão mais e melhores vocações (Antoniazzi/Libânio).
Para responder às grandes transformações e desafios da Amazônia, nossa Igreja precisa de muitos braços. Segundo Aparecida, a Igreja local missionária, não é algo extraordinário, mas o novo padrão pastoral. Somos uma Igreja “em estado de missão” (DAp 213). Essa missão tem dois movimentos: o envio até as mais distantes aldeias e povoados e a convocação dos que estão nos últimos lugares para formar comunidades, para que não haja mais excluídos, nem primeiros e privilegiados. Somos Igreja a serviço do Reino e aprendemos essa missão no exercício da missionariedade.
O imperativo da fé cristã é o anúncio do Evangelho, da Boa Notícia de Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio “para que tenham vida” (Jo 10,10). Esta tem sido também a via dos discípulos missionários de Jesus Cristo, ou seja, o caminho das comunidades cristãs. Por isso é parte essencial do anúncio do Evangelho a promoção e a defesa da vida, pois nos insere na missão do Salvador.
O que dá coragem aos pastores, muitas vezes, é a capacidade do nosso povo de não desanimar. O testemunho da presença missionária tem fecundado nossas Igrejas com o sangue de mártires; é a pastoral que produziu testemunhas qualificadas, muitos, líderes anônimos.
Nossas Igrejas surgiram no contexto do reordenamento da grande região amazônica com a criação das dioceses e prelazias sob os cuidados das várias congregações hoje ainda presentes entre nós. A dimensão missionária foi e continua sendo o eixo evangelizador de nossas Igrejas, porém carregadas das particularidades trazidas pelas congregações religiosas. Neste contexto cada Igreja local foi gestando uma caminhada pastoral, com algumas características em comum: uma Igreja ministerial fundada sobre o princípio da comunhão e participação, que se concretiza especialmente em organismos de participação; uma Igreja que está assumindo a vida do povo celebrando o mistério pascal a partir de suas características culturais e nos desafios de viver nas florestas e periferias das cidades, indicando um espírito de resistência; uma Igreja que está de maneira especial, encontrando na Paróquia, como rede de comunidades, o caminho para uma evangelização capilarizada e eficiente, formando discípulos-missionários (Doc.Disc.Mis.na Amazônia, 2007).