Tema da Campanha da Fraternidade, cujo lançamento foi dia 13 de fevereiro, os jovens e adolescentes são predominantes na Amazônia. “Representam enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja” (DAp 443).
Neste tempo da Quaresma e de profundas mudanças na Igreja, queremos reafirmar nossa opção preferencial também pelos jovens. O último Sínodo reservou uma atenção particular ao anúncio da Palavra divina feito às novas gerações. “Os jovens já são membros ativos da Igreja e representam o seu futuro”. (VD 104)
A juventude é uma categoria plural, portanto, não é unívoca, de valor universal, homogênea. Compreender a juventude exige reconhecê-la como uma construção histórica e cultural, inscrita numa cartografia social mais ampla, em que a definição de faixa etária é um dos elementos constitutivos.
No Brasil, atualmente, a juventude é definida na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo o Plano Nacional de Juventudeum dos principais instrumentos de tal definição. É expressivo o contingente de jovens na Região Amazônica. Dados do IBGE indicam que 26,5% da população amazônica é jovem e espacializada nos estados (Fundação Perseu Abramo).
Segundo a pesquisadora da Universidade Federal do Pará, professora Jacqueline C.S. Freire, em seuestudo “Ser jovem na Amazônia”, publicado pela Revista Teoria e Debate n.80, éno mosaico de paisagens contrastantes em seus múltiplos aspectos: ambiental, econômico, social, cultural, que as juventudes amazônicas tecem seu cotidiano, sua identidade e seus projetos de vida.
Para a pesquisadora, os jovens da Amazônia só podem ser compreendidos na dinâmica complexidade que marca a região, cujo processo histórico de antropização foi pontuado por conflitos e o contexto atual é agudizado por contradições e desigualdades.
O trabalho, a educação, a família e o lazer marcam o cotidiano de jovens. A dinâmica do trabalho na região é marcada pela dependência da terra, das águas e das florestas. A cultura das comunidades rurais amazônicas tem sido reinventada na tensão tradição–modernidade, incorporando elementos materiais e simbólicos da vida urbana; mas preservando também elementos que os diferenciam da cidade, a exemplo da simbiótica relação com a natureza, da organização econômica e das relações sociais, do manejo dos recursos naturais.
A identidade cultural perpassa a dimensão simbólica, valorativa, normativa e organizativa da sociedade. As juventudes amazônicas revelam no seu cotidiano e em seus projetos de vida traços identitários que os singularizam na cartografia sociocultural juvenil, mas também os inserem no circuito de culturas hegemônicas.
Na conclusão de seu estudo, a professora Jacqueline destaca que tributários de lutas, martírios, conquistas e resistências, os povos da região têm protagonizado mobilizações e conquistas e os jovens têm imprimido suas marcas. A afirmação de sua condição de sujeitos de direitos tem impulsionado a organização e a mobilização social de jovens no Brasil e na Amazônia.
A histórica invisibilidade da juventude rural tem sido rompida. Cercas que impunham processos de exclusão acentuados aos jovens das águas, das florestas e do campo têm sido superadas por iniciativas do poder público em diferentes esferas: federal, estadual e municipal, aliadas à intervenção militante de entidades e movimentos sociais.
Os jovens, particularmente aqui na Amazônia, são presença expressiva nas Comunidades Eclesiais de Base. Sua participação, vitalidade e compromisso sempre foram causa de admiração e apoio.
Medellin via na juventude o contínuo recomeço e a persistência da vida .. Diante das culturas que mostram sinais de velhice e caducidade, a juventude continua sendo chamada a levar revitalização; a manter a fé na vida, a conservar sua faculdade de alegrar-se com as coisas que começam. Ela tem a tarefa de reintroduzir constantemente o sentido da vida. Renovar as culturas e o espírito significa trazer e manter vivos novos sentidos da vida.
Na juventude, assim entendida, a Igreja descobre também um sinal de si mesma, um sinal de sua fé. A fé, anúncio do novo sentido das coisas, é a renovação e rejuvenescimento da humanidade. É nesta perspectiva que a Igreja convida os jovens a mergulhar nas luzes da fé.. pois, a juventude é um símbolo da Igreja, chamada a uma constante renovação de si mesma, ou seja, a um constante rejuvenescimento.
Puebla reforça o quanto a Igreja vê na juventude uma enorme força renovadora, símbolo da própria Igreja. E a Igreja faz isto não por tática, mas por vocação, já que é “chamada à constante renovação de si mesma, isto é, a um incessante rejuvenescimento” (João Paulo II).
A Igreja da Amazônia reconhece que “na Amazônia existem várias juventudes, considerando vários contextos e culturas. Afetados pela crise na família e pela falta de perspectiva diante do desemprego, da corrupção no mundo da política, os jovens são facilmente envolvidos pelos modismos culturais, consumismo que os confunde e os desorienta. Em algumas realidades as atividades ligadas às Igrejas ainda são as únicas opções de um entretenimento sadio e de proposta de sentido par a vida” (Doc.Disc.Miss.Amazônia).
Estamos a caminho da Jornada Mundial da Juventude. Padre Marins orienta, diante da dificuldade que a Igreja tem de encontrar a juventude, que “não se trata de fazer comunidade de jovens, mas vamos pensar os jovens na Comunidade Eclesial, que são o fermento e a força do espírito criador para essa época”.
A mudança de época atual convida a repensar as formas de ir ao encontro dos jovens, tanto dos que já têm alguma vivência cristã, quanto daqueles que têm outra ou nenhuma experiência do sagrado.
Mergulhados nessa vivência de novas linguagens e de novos paradigmas em seu cotidiano, os jovens discípulos missionários são convidados, mais do que nunca, a exercer sua vocação de evangelizadores privilegiados de outros jovens.
A juventude, mesmo com todas as especificidades regionais, tribais, sociais, tem velocidade e intensidade na comunicação e nos relacionamentos que geram uma identidade nem sempre compreendida e vivenciada pelas outras gerações. Por isso, é essencial dar voz aos jovens para que consigam fazer chegar a Boa-Nova a seus contemporâneos, a partir das realidades deste novo milênio.
O papa Bento XVI destacando a importância da adesão a Cristo, que dá sentido à vida e transforma a existência, faz um convite aos jovens: Permiti que o mistério de Cristo ilumine toda a vossa pessoa! Então, podereis levar aos vários ambientes aquela novidade que pode mudar os relacionamentos, as instituições e as estruturas, para edificar um mundo mais justo e solidário, animado pela busca do bem comum. Não cedais a lógicas individualistas e egoístas! Que vos conforte o testemunho de muitos jovens que alcançaram a meta da santidade (TB/CF 2013,219-221).
O documento 85 da CNBB valoriza o protagonismo e a missão da juventude.
Nas últimas Diretrizes Gerais da CNBB, os bispos evidenciam que a Igreja é a casa da iniciação cristã. “A juventude não quer caminhar sozinha; ela sonha com a presença de alguém que saiba ser “companheiro”, alguém que, com ela, coma do mesmo pão. Portanto, as duas vocações se encontram” (H.Dick).
A juventude sonha com uma formação que seja integral, que a ajude em todas as suas dimensões. A Igreja em suas Diretrizes afirma que ela é e deseja ser uma Igreja a serviço da vida plena para todos.
Por isso que afirmamos que não é grande a distância entre a Igreja e a juventude.