No próximo domingo, com a solenidade de Cristo Rei, vamos encerrar mais um ano litúrgico, iniciando, em seguida, o tempo do Advento. Desde 1991, a Igreja comemora o Dia Nacional dos Leigos e Leigas na Festa de Cristo Rei, momento especial de ação de graças pelo trabalho realizado por todos os cristãos, chamados a exercerem diversas ações na comunidade eclesial e em diferentes formas de apostolado. Verdadeiros discípulos missionários que dão seu testemunho de vida e assumem diversos ministérios e serviços na evangelização, na catequese, na animação de comunidades, na liturgia, dentre outros (DAp 211).
Os cristãos Leigos são homens e mulheres da Igreja no coração do mundo, homens e mulheres do mundo no coração da Igreja (DAp 210). São, como expressa o profeta Daniel, “sábios, que brilharão como brilha o firmamento, e os que ensinam a justiça, brilharão para sempre como estrelas” (Dn 12,1-3).
O capítulo 13, ao qual pertence o texto da liturgia deste domingo, é chamado de “apocalipse de Marcos”(Mc 13,24-32). O autor serviu-se de um apocalipse judaico para falar sobre a destruição do templo de Jerusalém e sobre o futuro da comunidade cristã na história.
O Evangelho de Marcos era um manual de catequese que preparava os catecúmenos para a recepção do batismo. Sendo assim, é possível detectar quais as preocupações e lições do capítulo 13 para a comunidade cristã. É uma catequese sobre o final dos tempos. A vinda do Filho do homem é julgamento dos que se opõem ao projeto de Deus e é também salvação dos eleitos. Em outras palavras, nosso texto é uma catequese sobre o rumo da história e sobre a vinda do Filho do homem (VP).
A metáfora da figueira mostra, por um lado, que o Reino já está presente na vida da comunidade. Mas para isso é necessário discernir essa presença nos sinais e nos acontecimentos da história. Por outro lado, mostra a proximidade do fim como salvação para os eleitos. Os ramos da figueira que começam a ficar verdes, as folhas que brotam, são sinal de que o verão está próximo; os acontecimentos da história, os conflitos que apertam e inquietam a comunidade cristã, são sinais de que o Reino já está se realizando. É por meio deles que Deus vai conduzindo seu projeto e a própria história para um rumo novo.
A tarefa da comunidade e dos cristãos não é prender-se aos sinais sem deduzir deles a necessidade da prática que leve à criação do mundo novo. Os sinais são passageiros, mas a palavra de Deus permanece.
O evangelista Marcos, com este texto, quis inculcar nos catecúmenos (e em nós) o desinteresse pela especulação a respeito do fim dos tempos. Os sinais catastróficos (da natureza ou provocados pela ação iníqua das pessoas) não são o fim em si; denotam simplesmente que o Reino e sua consumação estão em curso. A esperança que nasce desse texto é que Deus salvará seus eleitos e julgará os que combateram o projeto divino de liberdade e vida. Daí nasce a urgência do compromisso que passa pelo discernimento, tendo em vista a construção do mundo novo (VP).
Cultivamos o trigo, não o joio (Mt 13,24-30). Sabemos, porém, que o joio faz parte da realidade histórica. O mundo é essencialmente bom porque foi criado e redimido por Deus. Acreditamos na presença de Deus no outro e em nós, mas temos consciência da fragilidade de nossas obras. Sabemos que carregamos a graça de Deus em vasos de barro. Acreditamos na dimensão escatológica do Reino, mas não adiamos nossos sonhos para o além. Não abrimos mão do fim almejado no aqui, agora e hoje.
O fim pode estar presente nos passos do cotidiano. A ternura do amor que é pra já, e o olhar místico nos fazem ver em redor de nós e, ao mesmo tempo, ver longe. Ação articulada com luta e contemplação pode transformar a mera agitação e o trabalho cotidiano em ação salvífica (P.Suess).
A Igreja, Povo de Deus, que caminha até os confins do mundo e do tempo, vive a sua missão no meio de conflitos. Por conseguinte, essa missão é sempre uma missão profética, disposta a perder tudo.
A identidade missionária é a identidade do caminho. Peregrinamos no mundo sem ser do mundo. Somos esperança pela nossa presença, pelo testemunho, pelo serviço e pelo anúncio do Reino. A eficácia missionária não está nos instrumentos utilizados, mas na coerência entre a mensagem do Reino e sua contextualização, também através do nosso estilo de vida. Entre todos os meios, porém, a partilha, simbolicamente celebrada na Eucaristia, é o “instrumento“ mais eficaz da missão porque permite ver e seguir Jesus. Ao repartir o pão, os discípulos de Emaús reconheceram Jesus ressuscitado. Só o pão repartido vai saciar a fome do povo.
Consciente de sua identidade missionária, a Igreja Particular de Porto Velho encerrou sua vigésima primeira Assembleia Arquidiocesana, dirigindo a todo povo de Deus, a seguinte Mensagem:
Nós, representantes das paróquias, das Congregações Religiosas, e dos organismos eclesiais, reunidos em Assembleia, nos dias 9 a 11 de novembro de 2012, por ocasião dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II, dos 40 anos do encontro de Santarém (1972), dos 30 anos de nossa Arquidiocese e no início do ano da Fé, iluminados pelo tema: “Conversão Pastoral e Renovação Eclesial para o compromisso missionário”, como Igreja em estado permanente de missão, demos continuidade ao processo participativo de preparação do Plano Pastoral que deverá nos guiar nos próximos quatro anos.
Constatamos que o atual modelo econômico com a capacidade de produzir muita riqueza e, ao mesmo tempo, tão devastador da natureza e gerador de exclusão social, contradiz o que nos propõe o Evangelho (Mt 5,1-11). Afligem-nos ver a implantação de megaprojetos como hidrelétricas e o agronegócio que poluem e destroem o meio ambiente e têm trazido muito sofrimento às populações atingidas, gerado forte processo migratório e contribuído para o crescimento da violência, exploração sexual e tráfico de drogas. Também o pluralismo e o fundamentalismo religioso e o individualismo passam a influir de tal modo a vida das pessoas, levando-as, muitas vezes, a perder o senso crítico diante da realidade socioeconômica, política e religiosa, relativizando valores éticos e morais.
Percebemos que, em meio a essa situação com seus desafios, a Igreja com todas as suas limitações continua sendo uma presença de esperança e testemunho de fé. Por outro lado, reconhecemos que, em razão do compromisso de discípulos missionários precisamos, com a graça de Deus, superar nossas falhas.
A Palavra de Deus, Jesus Cristo Verbo Encarnado, que entregou a sua vida, nos conforta e ilumina nossa caminhada. Nossa missão está centrada em Jesus Cristo em vista da construção do Reino do Pai. A iniciação à vida cristã é um processo que leva a pessoa a se apaixonar por Jesus Cristo. O seguimento a Ele e a sua missão se dá no seio de uma comunidade de fé, na Igreja, através do testemunho, solidariedade, anúncio e denúncia, diálogo e serviço.
Após discutirmos e termos aprovado as urgências da evangelização, que não deverão estar ausentes da nossa Ação Evangelizadora, iluminados pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da CNBB (DGAE 2011-2015) e tendo acrescentado no objetivo geral aspectos da nossa realidade, compreendemos que a nossa Igreja caminha em comunhão com a Igreja do Brasil. Fomos então desafiados (as) a estabelecer as diretrizes (rumos) e prioridades que nortearão a ação pastoral nos próximos quatro anos.
Guiados (as) por Jesus missionário do Pai, Senhor da messe e Pastor do rebanho e pedindo a intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, reafirmamos nosso compromisso na construção do Reino definitivo e convidamos os irmãos e irmãs a acolherem com coração aberto e generoso as conclusões desta Assembleia. Porto Velho, 11 de novembro de 2012.