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Dom Moacyr

A recuperação da política - Dom Moacyr Grechi


Ficou evidente para todo o país a impunidade e a corrupção generalizada de Rondônia, com a série de prisões através da Operação Dominó. A prisão do presidente do Tribunal de Justiça deixou perplexa a população e a própria Justiça brasileira.   "Os pobres são juizes da vida democrática de uma nação" (Doc. CNBB 42) e por isso a expressão histórica do julgamento de Deus sobre qualquer sociedade humana.

O uso do poder público em benefício de interesses privados se nutre da impunidade e é acobertado pela conivência que se torna cumplicidade. Por isso, toda denúncia de corrupção deve ser objeto de rigorosa apuração, que não pode ser esvaziada a pretexto de manter a governabilidade. Os graves danos causados pela corrupção fazem que ela se torne cada vez mais perceptível, o que tem contribuído para o constante aumento da indignação popular. De um lado, é preciso analisar a corrupção sob o critério da ética no uso dos recursos públicos, buscando as causas estruturais da corrupção nas relações entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, envolvendo ainda o Tribunal de Contas e o Ministério Público. De outro lado, enquanto assistimos a ganância de poder dos diversos partidos, temos a positiva reação da sociedade e dos movimentos sociais, se articulando novamente através do Fórum Transparência Rondônia.

No Dia da Pátria, convocamos toda a sociedade rondoniense para a caminhada do Grito dos Excluídos na Zona Leste de nossa capital, na qual cada pessoa poderá expressar sua indignação contra a violência em favor da paz; contra a corrupção política em favor da ética nas eleições; contra a depredação do meio ambiente em favor da água e da Amazônia. Esta é mais uma mobilização que torna possível enfrentar  a crise política e faz prevalecer os princípios democráticos.

É verdade que a população rondoniense há muito tempo já vinha manifestando seu inconformismo quanto à ineficácia dos mecanismos estatais de combate à corrupção. Acompanhamos de perto a resistência daquelas pessoas, grupos, comunidades e movimentos sociais que buscam manter vivas as exigências éticas nos diversos campos da atividade humana e que não aceitam como "natural" esta nova situação, como se não houvesse norma para reger os atos humanos tanto particulares, como públicos. Entendemos que sem uma sincera conversão, conforme os critérios éticos do evange­lho, não seremos fermento de uma nova sociedade.

A luta contra a corrupção tem ainda pela frente longo caminho por se percorrer. Mas já nos parece promissor o questionamento a políticos que dis­tanciam seus interesses das aspirações dos eleitores, a deputados que desviaram dinheiro público, que foram financiados por dinheiro escuso ou envolvido em máfias de sanguessugas e em Operações como a Mamoré, Saúva, Anaconda e Dominó e outras. As iniciativas contra a corrupção são sinais de esperança de uma renovação pro­funda da política e da sociedade.

Promissor também é o desempenho de políticos que, com honestidade, generosidade e sacrifício, se dedi­cam ao bem comum, aos quais não deve faltar o nosso estímulo e o reconhecimento do povo.

Com satisfação, constatamos que se intensifica hoje, em muitos ambientes, a discussão sobre ética e economia. Desse debate a Igreja Católica tem participado ativamen­te, não somente através de pronunciamentos do Papa e dos Bispos, como também pela atuação de muitos leigos que buscam colocar em prática o ensino social da Igreja.

A vida política deve reencontrar sua dignidade na edificação da cidade humana, onde todos têm oportunid­ade de realização pessoal e de comunhão solidária. Recupera-se o espírito público adotando estruturas e instituições adequadas, o que exige decisões políticas conseqüentes. Um primeiro passo se impõe: a correta relação entre o que é público e o que é particular.

No entanto, a recuperação da política passa pela moralização dos políticos como verdadeiros "homens de Estado" e não "negociantes do poder", enredados em jogadas pessoais. Isto exige romper os laços entre política e negócios privados. Os serviços públicos, para serem éticos, devem ser acessíveis, eficientes, com critérios humanos, com sensi­bilidade social. O parasitismo, a irresponsabilidade, o descaso, a improbidade  desafiam uma educação para o "senso do serviço" ao nosso povo já tão necessitado.

Na tarefa de buscar novos caminhos para a ética não basta apontar os sintomas da crise, mostrando-lhes as causas. Nem mesmo é suficiente atacar seus efeitos maléficos na sociedade e nas consciências. Faz-se necessário o esforço de todos para a formação da consciência ética. Seria impossível levar essa tarefa adiante sem diálogo amplo e compartilhado.

Neste momento, "cabe ao Estado garantir a participação popular na gestão da coisa pública, podendo ser realizada através de várias ações: assegurando e ampliando os direitos sociais conquistados pelo povo nas áreas da educação, saúde, moradia, segurança, alimentação, respeito às diversidades culturais e étnicas; criando mecanismos permanentes de participação direta da população nas decisões políticas, de importância para a nação, tais como: consultas populares através de referendos e plebiscitos ou  constituindo comitês populares de acompanhamento e de fiscalização da execução orçamentária das várias obras e ações dos Órgãos do Estado"(Doc.CNBB Eleições 2006).

Com estas ponderações ao nosso povo, pedimos ao Criador que faça germinar as boas se­mentes que ele depositou no coração e na consciência de toda pessoa humana lembrando que "o sujeito da autoridade é o povo, considerado na sua totalidade como detentor da soberania. "(Centesimus annus" no.46)

Fonte: CNBB - Dom Moacyr Grechi - Arcebispo de Porto Velho (RO)

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