Neste tempo de Advento percebemos que é chegado o momento de abrir os olhos e ouvidos para a realidade que nos interpela e à novidade, tanto nos conhecimentos humanos como na vida cristã. No cenário da crise mundial, o que podemos esperar do próximo ano? Diante de nossas crises pessoais, que caminho assumir? E diante dos atuais acontecimentos que espaço Deus ocupa na nossa vida?
Temos que desaprender, segundo o jesuíta Victor Codina, a idéia de que Jesus é um Deus disfarçado de homem, uma espécie de turista divino que desempenha o papel de homem, que sabe tudo e que passa por este mundo sem comover-se com a miséria humana. Se não abandonarmos esta imagem, não podemos conhecer o mistério de Jesus de Nazaré, homem como nós em tudo, menos no pecado, que se comove diante de nossas misérias, passa pelo mundo fazendo o bem, anuncia o Reino, aceita a morte como conseqüência de suas opções pela justiça e pela verdade e é ressuscitado. Jesus, através de sua vida realmente humana, revela-nos seu mistério profundo: ele é o Filho que o Pai enviou a este mundo para que, pelo dom do Espírito Santo, possamos viver a filiação divina e a fraternidade humana e tenhamos vida em abundância.
Temos que desaprender com urgência a idéia de que a Igreja se identifica com o Papa, cardeais, bispos e sacerdotes e recuperarmos a idéia de que somos uma Igreja povo de Deus, formada por todos os batizados, que tem o dom do Espírito Santo e na qual somos membros ativos e responsáveis através da comunidade eclesial, na qual cada um contribui com seus dons e carismas, hierárquicos e não hierárquicos.
Temos que desaprender a idéia de que Maria é o centro da vida cristã, a boa mãe que nos protege e nos defende diante de um Deus terrível e justiceiro, e temos que recuperar a verdadeira imagem de Maria de Nazaré, mãe de Jesus e nossa mãe, mulher do povo e profética que nos encaminha a Jesus, único mediador entre Deus e a humanidade e nos pede que façamos o que ele nos ordena, como ela sugeriu aos servos de Caná.
Temos que desaprender a idéia de que os sacramentos são fontes mágicas de graça e recuperar a idéia de que são sacramentos da fé, que só fazem sentido a partir da fé da Igreja, iluminam-se à luz da Palavra e exigem de nós uma resposta pessoal e comunitária.
Temos que desaprender a idéia de que ser cristão consiste, antes de mais nada, em acreditar em verdades e praticar alguns mandamentos e recuperar a idéia de que só se começa a ser cristão por um encontro pessoal com o Senhor, que muda nossa vida e nos leva a seguir Jesus, pois sem este encontro pessoal nem os dogmas nem as normas se sustentam.
Temos que desaprender a idéia de que o homem pode explorar impunemente a criação e, em compensação, recuperar a idéia bíblica de que temos que respeitar a terra e a natureza, não abusar de forma egoísta dela para lucro de uma minoria, senão apreciá-la como dom de Deus que deve servir para o bem de todas as gerações.
“Estamos em um momento crítico na história da humanidade, momento em que a humanidade deve decidir o seu futuro, deve escolher o seu futuro, e a escolha é essa: ou formar uma aliança de cuidado do planeta, de cuidarmos uns dos outros e da vida, ou arriscar a nossa extinção e a devastação da diversidade da vida” (Carta da Terra).
Estamos falando da necessidade de uma conversão ecológica e da correta relação do homem com a natureza, pois o homem está efetivamente colocado no centro da criação, como ministro do Criador.
É evidente que está em jogo não só uma ecologia física, preocupada com tutelar o habitat dos vários seres vivos, mas também uma ecologia humana, que proteja o bem radical da vida em todas as suas manifestações e prepare para as futuras gerações um ambiente o mais próximo possível do projeto do Criador.
Infelizmente, a destruição do ambiente é fruto de uma visão redutiva e artificial que, algumas vezes, denota um verdadeiro desprezo do homem. O “gemido das criaturas” a que alude o Apóstolo Paulo (Rom 8,22), hoje parece verificar-se numa perspectiva invertida, porque se trata, não já duma tensão escatológica na expectativa da revelação dos filhos de Deus (Rom 8,19), mas dum espasmo de morte que tende a agarrar o próprio homem para o destruir (PG 70).
A próxima Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e a vida no planeta” e o lema “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22) certamente vai contribuir na renovação de nosso compromisso com o meio ambiente.
NATAL: festa do encontro com Deus
A Campanha para a Evangelização, que estamos encerrando hoje com a Coleta Nacional em todas as paróquias, teve como tema “Encarnação e nova criação” e como lema “Em Cristo somos novas criaturas”.
Esta Campanha nos ajudou a entender que Advento não é só preparação para o Natal, mas seu significado é mais profundo e nos projeta já para a vinda gloriosa do Senhor, no final da história. Advento significa, segundo o papa, fazer memória da primeira vinda do Senhor na carne, pensando já em sua volta definitiva e, ao mesmo tempo, a reconhecer que Cristo presente entre nós se faz nosso companheiro de viagem na vida da Igreja que celebra este mistério.
Enquanto nossas comunidades se preparam para a Novena e a celebração do Natal, renovamos a certeza de que Deus sempre está conosco e nunca nos abandonou. Ele sempre anima nossa caminhada e insiste em que “não tenhamos medo”. Chama-nos a viver de acordo com o seu Projeto, a sermos servidores do seu Reino. A resposta a este apelo de Deus acontece na solidariedade para com as pessoas e a natureza.
A Novena do Natal motiva-nos a viver de maneira intensa e profunda
a preparação para a grande festa, que já está próxima, do nascimento do Salvador. O Papa João Paulo II disse, certa vez, que a liturgia destes dias “delineia um sábio itinerário para encontrar o Senhor que há de vir, propondo dia após dia temas de reflexão e de oração e nos convida à conversão e ao dócil acolhimento do mistério do Natal”.
No Antigo Testamento os profetas prenunciaram a vinda do Messias e mantiveram desperta a expectativa vigilante do povo eleito. Com os mesmos sentimentos, somos convidados a viver também nós este tempo, a fim de podermos saborear a alegria das festas de Natal já próximas.
Como nos sugere a Liturgia do Advento, imploremos ao Senhor o dom de nos prepararmos com alegria para o mistério do seu Natal, para que o nascimento de Jesus nos encontre vigilantes na oração, exultantes no louvor (Prefácio do Advento). Só desta maneira, o Natal será festa de alegria e encontro com o Salvador que nos dá a paz.
Possa a Santíssima Virgem de Guadalupe, padroeira da América Latina, cuja festa celebramos neste 12 de dezembro, conceder-nos a graça de sermos fiéis testemunhas de seu Filho Jesus aos olhos das novas gerações da América, para que, conhecendo-o, sigam-no e encontrem nele a sua paz e a sua alegria. Que tenhamos força para anunciar corajosamente a sua Palavra ao serviço da nova evangelização, para consolidar no mundo a esperança.
Fonte: Pascom