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Dom Moacyr

Anúncio da felicidade


As bem-aventuranças são o anuncio da felicidade, porque proclamam a libertação, jamais o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e ação de Jesus.

Estamos celebrando a liturgia da solenidade de todos os Santos e Santas e fazendo memória de todas as mulheres e os homens que integram o calendário anual dos santos e dos beatos da Igreja que são muitos, no entanto, os que estão inscritos no Livro da Vida, o registo de Deus, são infinitamente mais.

São João no livro do Apocalipse (7,2-4.9-14) fala de uma “multidão imensa, que ninguém podia contar”, que celebra uma liturgia de louvor a Deus, o único a quem pertence a salvação que Ele oferece a todos. Seria uma pretensão insensata limitar a salvação aos 144.000 assinalados ou excluir outros dessa salvação, como desejariam algumas seitas, pelas razões mais diversas.

A única riqueza dos santos é ser realmente e viver como filhos de Deus, amados pelo Pai, todos chamados a ser semelhantes a Ele. No caminho de progressiva semelhança com o Pai, o crente sabe que tem de fazer opções de purificação, coerentes com a esperança que o habita. Opções coerentes até ao supremo testemunho de fidelidade na “grande tribulação”, lavando “as suas vestes, branqueando-as no sangue do Cordeiro”.

As bem-aventuranças tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Aqueles que muitos os chamam “coitadinhos”, Jesus no Evangelho chama-os bem-aventurados! Bem-aventurados os pobres, os humildes, os misericordiosos, os perseguidos, os que promovem a paz.. (Mt5,1-12).

As bem-aventuranças são, em primeiro lugar, o retrato de Jesus, descrevem as suas opções e os seus comportamentos. São o espelho de Cristo, e, portanto tornam-se o programa para todo o discípulo. As bem-aventuranças são opções de radicalidade que transformam o coração das pessoas e as tornam instrumentos da revolução de Deus e da transformação do mundo.

Elas traçam à imagem de Cristo e descrevem sua caridade; exprimem a vocação dos fiéis associados à glória de sua Paixão e Ressurreição; iluminam as ações e atitudes características da vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas tribulações; anunciam as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas pelos discípulos; são inauguradas na vida da Virgem Maria e de todos os santos (CIC 1717).

O discípulo missionário é o homem e a mulher das bem-aventuranças. Na verdade, no “discurso apostólico” (Mt 10), Jesus dá instruções aos Doze, antes de enviá-los a evangelizar, indicando-lhes os caminhos da missão: pobreza, humildade, desejo de justiça e paz, aceitação do sofrimento e perseguição, caridade que são precisamente as bem-aventuranças, concretizadas na via apostólica.

Fica assim, claro, desde o princípio que a nova sociedade, o Reino de Deus, se fundamenta na solidariedade, exclui o fanatismo religioso e não deve ser implantado mediante a violência, o domínio e a guerra.

O primeiro passo a ser dado para a criação desta nova solidariedade é a mudança de vida ("convertei-vos") que Jesus pede em conexão com o anúncio do Reino; sem mudança profunda de atitude pelo homem, mudança que o leva a romper com o passado de injustiça, não há possibilidade alguma de começar algo novo.

A opção do homem pelo Reino de Deus não se detém na ruptura com a injustiça, supõe ainda compromisso pessoal, com o que Jesus assumiu no seu batismo, de doar-se e dedicar-se, por amor à humanidade, à tarefa de criar uma sociedade diferente (J. Mateos/F. Camacho).

A razão da felicidade dos pobres está em Deus. As bem-aventuranças nos dizem quem é Deus: ele não é neutro, mas está ao lado dos pobres. Ele, como Rei justo, não tolera a injustiça e a situação dos pobres. Ele toma partido e quer mudar a situação. "Só por este motivo, os pobres merecem uma atenção preferencial, seja qual for a situação moral ou pessoal em que se encontrem" (Puebla 1142).

A existência de pessoas como os Santos e Santas é a prova de que viver como eles, isto é, como discípulos de Jesus, é possível. Para todos. A santidade de vida não é um condomínio fechado, reservado a alguns privilegiados ou a místicos solitários… É um condomínio aberto a inquilinos sempre novos. Viver como filhos de Deus é um dom que Ele oferece a quem quer que o procure de coração sincero (R. Ballan).

O missionário, homem e mulher das Bem-aventuranças, como o chama João Paulo II (RM 91), anuncia em toda a parte, com a vida e a palavra, o plano de Deus, que enviou o seu Filho, Jesus de Nazaré, para dar a todos vida e felicidade em abundância.

A felicidade verdadeira está ligada à santidade na vida ordinária, ensina João Paulo II: “É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. Mas é claro também que os percursos da santidade são pessoais e exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos (NMI 31).

 

Bem aventurada és tu, Igreja de Porto Velho!

A 20ª Assembleia da Arquidiocese de Porto Velho teve inicio no dia 4 de novembro, reunindo as lideranças e forças vivas da Igreja local. O tema central é o estudo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas pela última Assembléia Geral da CNBB e o assessor nacional é o teólogo, Padre Manoel Godoy.

As DGAE da Igreja no Brasil, apresentadas no documento 94 da CNBB, foram aprovadas para o quadriênio 2011 a 2015. Elas partem de um Objetivo Geral da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, proposta amadurecida por toda a Igreja e que procura sintetizar a direção dos esforços e atividades da ação evangelizadora a se desenvolver em todas as Igrejas locais como expressão de verdadeira comunhão eclesial.

A missão de evangelizar, recebida de Jesus (Mt 28,18-20), estará sempre presente na Igreja em sua comunhão e ação universal. No entanto, os diversos tempos e lugares exigem novas formas de responder às atuais urgências de acordo com o contexto de cada Igreja Particular e de expressar a comunhão de todos em Cristo e realizar a missão recebida de levar o Evangelho a toda criatura, fazendo discípulos de todos os povos.

Dessa forma, periodicamente a Igreja, como um todo universal e em sua diversidade local, elabora seus Planos de Ação Pastoral em resposta ao mandato recebido do Senhor e às exigências dos tempos. Como lembra Puebla, “a ação pastoral planejada é a resposta específica, consciente e intencional, às necessidades da evangelização”.

As marcas de nosso tempo estão exigindo respostas adequadas para que renovemos a vida comunitária buscando fazer de toda a Arquidiocese “Comunidade de comunidades”. Permanecendo em estado de missão e sendo transformada em casa de iniciação à vida cristã, iluminada e animada pela própria Palavra de Deus, expressão viva de comunhão em sua diversidade e dedicada ao serviço de plena vida para todos.

À luz do Vaticano, Aparecida e Santarém, queremos na vivencia das novas Diretrizes, apresentar “cada vez mais o rosto de uma Igreja missionária, pobre e pascal, despojada dos meios de poder e ser lugar de comunhão aberta a toda humanidade” (Med 5,13), reafirmando as atitudes fundamentais, que sempre inspiraram as perspectivas evangelizadoras na Amazônia: ser Igreja: discípula da Palavra; testemunha do diálogo; servidora e defensora da vida; irmã da Criação, samaritana e profética.

Fonte: Arquidiocese de Porto Velho

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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